Ibov bate maior patamar desde agosto de 2021; agradeça à inflação dos EUA
Bolsa fechou em alta de 2,29%, a 123.165 pontos. MGLU3 anuncia "ajuste contábil" e relembra fantasma da Americanas. Ação sobe 1,73%.
Pode abrir a champagne — é véspera de feriado e o Ibovespa acaba de registrar o seu melhor fechamento do ano. Não só do ano: o principal índice da B3 não atingia este patamar desde março de 2021, quando fechou em 123.577 pontos. Hoje a alta foi de 2,29%, aos 123.165 pontos.
Esqueça a meta fiscal em Brasília: o fôlego da bolsa veio do exterior (e um pouco do noticiário corporativo, que a gente detalha mais abaixo). Em Nova York, o S&P 500 subiu 1,9%, e o Nasdaq, 2,37% após o índice de preço ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) mostrar uma melhora na inflação americana.
Contrariando a projeção de alta feita pelo mercado, o CPI ficou estável — em setembro, a alta havia sido de 0,4%. Com isso, o indicador acumula avanço de 3,2% nos últimos 12 meses, abaixo dos 3,3% esperados. O núcleo, que exclui os itens de preços mais voláteis, subiu 0,2% — também abaixo das projeções. Ou seja, a inflação apresenta sinais de desaceleração.
Desde que os dados do mercado de trabalho americano mostraram sinais de fraqueza, os investidores vêm sonhando com o fim do ciclo de alta dos juros por lá. Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, jogou água no chopp ao não descartar novas elevações, mas os números de hoje voltaram a alimentar as esperanças.
Apesar de o Fed preferir acompanhar outro indicador de inflação, o PCE, a ferramenta do CME Group que mede o humor do mercado para as decisões de política monetária nos EUA mostra que a manutenção da taxa básica de juros em 5,50% é a aposta de 99,8% dos investidores. Grosso modo: todo mundo. Até ontem eram 85,5%. Além disso, 50% acreditam que os juros começarão a cair já em maio — alta de 20,4 pontos percentuais em apenas um dia.
Com o sonho de juros mais baixos em um futuro próximo, os juros futuros americanos mergulharam e puxaram, por tabela, os brasileiros. O alívio também foi sentido no câmbio: o dólar à vista recuou 0,93%, a R$ 4,86.
Noticiário corporativo agitado
A temporada de balanços está programada para chegar ao fim na próxima quinta-feira (16), mas isso não significa que as empresas da B3 pisaram no freio. Entre as companhias que divulgaram os seus números entre a noite de ontem e hoje, destaque para quatro: MGLU3 (1,73%), AZUL3 (8,71%), CSNA3 (8,70%) e NTCO3 (2,88%).
O Magazine Luiza virou o mais novo protagonista da novela da crise do varejo brasileiro. Os números do terceiro trimestre vieram abaixo do esperado e com uma surpresa desagradável — um “ajuste contábil” de MENOS R$ 830 milhões devido a, respire, erros de lançamentos de alguns contratos de fornecedores entre janeiro de 2022 e junho de 2023. Se você teve um déjà vu, é com razão. Ficou parecendo um Americanas 2.0 – Americanas que, por sinal, adiou de novo a publicação de resultados do ano passado e todo o acumulado desde então.
Uma perda contábil de milhões se compensa com ganhos contábeis de milhões. A varejista utilizou uma decisão recente do STJ para realizar uma “compensação tributária” de PIS e Cofins de R$ 507 milhões. Colocando tudo na conta, o lucro no trimestre foi de R$ 331,2 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 190 mi do 3T22. Sem o malabarismo, a companhia teria um prejuízo de R$ 143,4 milhões em termos ajustados.
O Magalu diz ter anunciado os ajustes para evitar problemas no futuro, mas com a sombra da crise da Americanas ainda pairando sobre a cabeça, investidores ficaram obviamente tensos.
Resultado: as ações tiveram um dia de montanha-russa. Pela manhã, com os olhares voltados para o “ajuste” milionário, os papéis chegaram a cair quase 10%, mas se recuperaram para fechar o dia em alta de 1,73%.
Já a Natura encerrou uma novela: a venda da The Body Shop para a gestora alemã Aurelius Investment. A transação foi fechada por 207 milhões de libras (R$ 1,2 bilhão), valor que representa apenas um quinto dos 1 bi de libras pagos em 2017. Ainda assim, o acordo foi bem recebido e empurrou o papel apesar do balanço corporativo considerado “ameno” pelo Itaú BBA.
No trimestre passado, o lucro líquido foi de R$ 7 bilhões após a venda da Aesop para a L’Oreal no fim de agosto. Excluindo o impacto da operação, os ganhos foram de R$ 745 milhões — revertendo o prejuízo de R$ 198 mi do mesmo período do ano passado.
Agora falando apenas dos resultados corporativos, a AZUL3 foi a ação que voou mais alto no dia de hoje após os resultados não auditados do terceiro trimestre divulgados nesta manhã.
A companhia aérea viu um salto de 137% no lucro operacional — R$ 957,4 milhões. Mas a linha do balanço que mais chamou a atenção dos analistas foi a do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado: R$ 1,6 bilhão. A cifra veio 6% acima do consenso de mercado e indica um avanço de 67,7% comparado ao terceiro trimestre de 2022.
As projeções para 2023 e 2024 também foram atualizadas. A empresa reduziu a estimativa deste ano para o crescimento de capacidade (11%, ante os 14% anteriormente informados) e seu Ebitda anual (de R$ 5,5 bilhões para R$ 5,2 bi). Para 2024, números mais otimistas com relação ao Ebitda: R$ 6,5 bi. A última projeção era de R$ 6 bi.
Já a alta dos papéis da CSN foi um combo: repercussão dos resultados do 3T23 e também do anúncio de pagamento de dividendos intermediários de R$ 985 milhões (R$ 0,74 por ação) já no próximo dia 29 de novembro.
O balanço da companhia mostrou um recuo 61,8% no lucro líquido no comparativo anual (R$ 90,8 milhões), mas o Ebitda foi de R$ 2,8 bilhões — alta de 4%. A receita líquida e o lucro líquido também avançaram: +2% e +11%, respectivamente. Segundo a administração, o crescimento da rentabilidade pode ser atribuído ao forte desempenho operacional e ao efeito positivo do câmbio nas vendas para o mercado externo.
MAIORES ALTAS
Azul (AZUL4): 8,71%
CSN (CSNA3): 8,70%
Vamos (VAMO3): 8,33%
CVC (CVCB3): 7,17%
Localiza (RENT3): 6,69%
MAIORES BAIXAS
Suzano (SUZB3): -2,96%
Raízen (RAIZ4): -2,35%
Yduqs (YDUQ3): -0,70%
JBS (JBSS3): -0,57%
Tim (TIMS3): -0,29%
Ibovespa: 2,29%, aos 123.165 pontos
Em Nova York
S&P 500: 1,90%, aos 4.495 pontos
Nasdaq: 2,37%, aos 14.094 pontos
Dow Jones: 1,43%, aos 34.827 pontos
Dólar: -0,93%, a R$ 4,8620
Petróleo
Brent: 0,06%, a US$ 82,47 por barril
WTI: estável, a US$ 78,26 por barril
Minério de ferro: 0,26%, a US$ 132,48 por tonelada na bolsa de Dalian (China)