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EUA embargam petróleo russo, e bolsas entram em modo montanha-russa

A notícia do boicote gerou euforia num primeiro momento, pois não foi a bomba nuclear que se imaginava. Mais tarde, porém, bateu a depressão de novo. Entenda.

Por Bruno Carbinatto
8 mar 2022, 18h55

Depois de dias marcados pelo rali do preço do petróleo, finalmente ocorreu o que muitos já esperavam: os Estados Unidos anunciaram que vão, sim, boicotar o petróleo russo. O Reino Unido também revelou que vai parar de comprar a commodity da Rússia, ainda que gradualmente. Essas sanções são as mais relevantes adotadas pelos países ocidentais até agora (fora o congelamento das reservas internacionais da Rússia), já que miram exatamente no poderoso setor energético do país de Putin.

A notícia garantiu uma alta instabilidade nas bolsas, que entraram em modo montanha-russa e passaram o dia alternando entre altas e baixas. O S&P 500 chegou a subir quase 2% na máxima, e cair 1% na mínima. Na última hora de pregão, o mau-humor parece ter predominado e os índices americanos fecharam no vermelho. Com o Ibovespa, não foi diferente: dia altamente instável, terminando em -0,35%.

Ao contrário do que se poderia pensar, o anúncio de boicote não caiu imediatamente como uma bomba nuclear no mercado. É que a proibição veio somente nos Estados Unidos e no Reino Unido, sendo que, na ilha britânica, a compra do petróleo russo vai ser reduzida gradualmente até no final do ano, quando deve ser zerada. Nisso, ficou de fora do boicote um nome importante: a União Europeia (e outros países europeus fora do bloco). 

É claro: os países da Europa são muito mais dependentes da energia russa. Nos EUA, só 3% do petróleo bruto importado em 2021 veio da Rússia, segundo cálculos da Bloomberg. Quando outros produtos petrolíferos são incluídos nessa conta, o número sobe para 8%. O Reino Unido tem uma dependência maior, de 13%, também de acordo com a Bloomberg – e por isso optou por uma transição mais suave. 

Já a Europa nem se compara: um quarto do petróleo do velho continente vem da Rússia. A dependência é ainda maior quando o assunto é gás natural, importantíssimo para, entre outras coisas, garantir o aquecimento no inverno: 40% da demanda. O próprio chanceler alemão Olaf Scholz reconheceu que um boicote agora é impossível, e, em seu pronunciamento, Joe Biden ressaltou que seus aliados europeus não estão na posição de fazer o mesmo que os EUA.

Por isso o mercado não entrou em pânico automaticamente. Pelo contrário: investidores entenderam que o boicote não seria o fim do mundo e as bolsas viraram para o azul logo após o anúncio. 

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Até o petróleo caiu. De US$ 129 por volta do meio-dia para US$ 119 depois de ficar claro que a Europa seguiria cliente da Rússia – ou seja, de que faltaria menos óleo no mundo do que o esperado. 

Mas foi só o começo da jornada da montanha-russa.

Sobe e desce

Deu para encontrar um pouco de otimismo para justificar a recuperação das bolsas na fala do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que, em entrevista à mídia americana, disse que “moderou” sua demanda de adesão da Ucrânia à OTAN. A mudança de postura deu esperanças de que o conflito possa ser resolvido logo, já que uma das demandas de Putin é que seu vizinho não entre no acordo militar ocidental.

Mesmo assim, o pessimismo com a inflação decorrente do rali do petróleo, que já elevou a commodity à estratosfera, e da diminuição de oferta de outros produtos russos pesou. Afinal, a Rússia não ficou calada após o anúncio do boicote. Vladimir Putin assinou um decreto  hoje proibindo a exportação de commodities e matérias-primas para o exterior até o final deste ano – a lista do que exatamente está incluso na medida ainda não foi divulgada.

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No fim das contas, o petróleo mesmo voltou para a alta. Fechou o dia 4% mais caro, se aproximando novamente do patamar dos US$ 130 por barril.

Para o Bank of America, deve piorar: o preço do barril de petróleo deve superar os US$ 150 num cenário de muitas sanções. O banco britânico Barclays é mais pessimista e vê o Brent valendo US$ 200 no pior dos casos. Nada animador.

Mais: no meio do pregão também veio a notícia de que as agências de inteligência dos EUA preveem que Putin vai intensificar os esforços para dominar a Ucrânia nas próximas semanas, eliminando os resquícios de esperança de uma resolução para o conflito em breve. A informação foi dada pela Dow Jones, citando o diretor da CIA William Burns. Com essas pressões, as bolsas cederam ao mau-humor e fecharam no vermelho no fim do pregão. 

O Ibovespa também ensaiou uma alta na quinta-feira, mas seguiu o sobe-e-desce dos EUA e acabou fechando no vermelho. A agenda doméstica foi fraca, com destaque para a reunião de ministros no Planalto para discutir o preço dos combustíveis. O governo quer encontrar uma forma de impedir que o rali do petróleo machuque o bolso do consumidor, mas ainda não está claro como. Ontem, a possibilidade de congelar o preço dos combustíveis da Petrobras assustou o mercado, e as ações da estatal chegaram a cair mais de 7%. Essa ideia perdeu força, porém, porque precisaria ser aprovada pelo Conselho da empresa, o que não parece viável.

A reunião dos ministros de hoje terminou sem bater o martelo. Mas, segundo informou o Valor, a proposta de se criar um subsídio temporário ganhou forças. A ideia seria ter um valor fixo para a cotação dos combustíveis, e o governo subsidiaria a diferença entre esse valor e a cotação internacional do petróleo. Uma opção para a fonte do dinheiro seriam os dividendos pagos pela empresa à União, a maior acionista. Essa proposta é preferida pela Petrobras porque não altera a política de preços da companhia, como o presidente Bolsonaro já sugeriu fazer diversas vezes.

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Até amanhã!

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MAIORES ALTAS

Azul (AZUL4): 7,09%
Gol (GOLL4): 7,08%
BRF (BRFS3): 7,03%
Lojas Renner (LREN3): 6,37%
Cielo (CIEL3): 6,11%

MAIORES BAIXAS

CSN (CSNA3): -4,80%
Vale (VALE3): -4,39%
Locaweb (LWSA3): -3,98%
CSN Mineração (CMIN3): -3,69%
Bradespar (BRAP4): -2,86%

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Ibovespa: -0,35%, aos 111.203 pontos

Em Nova York

S&P 500: -0,73%, aos 4.170 pontos
Nasdaq: -0,28%, aos 12.795 pontos
Dow Jones: -0,57%, aos 32.631 pontos

Dólar: -0,52%, a R$ 5,0532

Petróleo

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Brent: 3,87%, a US$ 127,98
WTI: 3,60%, a US$ 123,70

Minério de ferro: -0,07%, negociado a US$ 161,53 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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