Entenda por que investidores já não temem (tanto) a inflação
Bolsas ignoram ata de Fed e se preparam para começar o dia no azul.
Agora que os Bancos Centrais mundo afora finalmente decidiram reagir à inflação, investidores parecem não estar mais tão preocupados com o assunto. Soa um papo de louco, mas é só a hiperatividade do mercado financeiro falando mais alto.
A inflação continua nas máximas para onde quer que se olhe. Bateu recordes em 40 anos nos EUA, na Europa… No Brasil, estamos de volta a 2002. Só que investidores têm um palpite de que ela começará a cair em breve.
Uma das principais razões para a disparada da inflação foi a alta nos preços das commodities. O petróleo foi lá para perto de US$ 130 por barril, o minério chegou a rondar os US$ 150 a tonelada na China, e os alimentos como soja, trigo e milho bateram os maiores preços desde 2012 ao longo do primeiro semestre.
A explicação era o risco de desabastecimento, consequência da guerra russa na Ucrânia, combinada com uma menor produção daqui para frente. E fazia sentido.
Só que, desde as máximas, todos esses produtos caem mais de 20%. Não por motivos que você gostaria. Noves fora o excesso de especulação, natural no mercado financeiro, há sinais de que os preços tenham ficado proibitivos para o bolso do consumidor, ceifando a demanda. Aí eles precisam cair dos níveis surreais que atingiram.
Não é à toa que as estimativas de inflação para o fim do ano e para o próximo derretem. Investidores agora estão focados em recessão, e não mais apenas na alta de preços. Se as pessoas não conseguem comprar nem o básico, comida, não tem economia que continue funcionando. Lembra do receio de que poderíamos enfrentar uma estagflação (quando há alta de preços e recessão ao mesmo tempo)? O termo praticamente sumiu do noticiário.
Beleza. Mas a conta do supermercado e do posto de combustível ainda não ficou mais barata. Por quê?
Existem dois problemas rolando. O primeiro é que há um delay entre a queda nos preços das matérias-primas e a chegada ao produto final. Natural. Pegue o exemplo do trigo. Os moinhos precisam comprar o produto a um preço agora 30% menor, converter em farinha e depois vender essa farinha, a um preço potencialmente menor, que se transformará em um pão talvez mais barato para você.
Só que, depois de um período de inflação muito alta, fica todo mundo com o pé atrás de que a queda seja apenas momentânea. Aí, para não destruir o lucro completamente, o repasse não é integral. Os preços subiram de elevador, mas descem de escada.
E o segundo problema é o dólar. A moeda americana rompeu os R$ 5,40 ontem, no maior preço desde o final de janeiro. A valorização acaba “compensando” a queda das commodities e impedem os preços de baixar no Brasil. As commodities, em reais, continuam caras.
Por sinal, a queda do petróleo zerou a defasagem dos preços dos combustíveis no Brasil, segundo cálculo da Abicom (associação das importadoras de combustíveis) divulgado pelo Estadão.
Uma mudança de cenário bem mais efetiva do que obrigar postos de combustíveis a informar os preços de gasolina e diesel praticados antes de Bolsonaro forçar a barra no corte de impostos cobrados pelos estados.
O intervencionismo no governo, em plena campanha eleitoral, tem tudo para continuar segurando o mercado financeiro local. Ontem, o Ibovespa até conseguiu seguir a direção de Nova York e fechar em alta. Mas o dólar e o mercado de juros mostram que o receio deve continuar sendo a palavra da vez. Bons negócios.
Futuros S&P 500: 0,23%
Futuros Dow: 0,31%
Futuros Nasdaq: 0,30%
às 08:20
Índice europeu (EuroStoxx 50): 1,38%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 1,08%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 1,37%
Bolsa de Paris (CAC): 1,32%
*às 7h38
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,44%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,47%
Hong Kong (Hang Seng): 0,26%
Brent*: -0,87%, a US$ 99,39
Minério de ferro: 2,66% em Singapura, a US$ 114,00 por tonelada
*às 7h40
Dia todo Comissão especial da Câmara pode votar texto da PEC Kamikaze
8h30 BCE publica ata da reunião em que anunciaram o plano de subir os juros da Zona do Euro na próxima reunião.
9h30 EUA divulga dados de pedidos auxílio-desemprego da semana
15h BC divulga relatório de poupança de maio e junho
16h30 BC divulga IBC-Br de março e abril, que mede a atividade econômica do país
Itaúsa troca XP por CCR
A Itaúsa se desfez de outra fatia de participação na XP. Ontem, a holding vendeu o equivalente a 1,26% da empresa por cerca de R$ 665 milhões. E vai usar esse dinheiro para pagar parte do novo investimento na CCR, anunciado ontem em conjunto com a Votorantim. Por R$ 2,9 bilhões, a Itaúsa ficará com 10,33% da companhia de mobilidade. Na XP, a holding agora é dona de 10,31% – quando começou o processo de desinvestimento, em 2020, a participação era de 46,5%.
Demissões na Loft, de novo
Depois de demitir 159 funcionários em abril, a Loft fez uma nova rodada de demissão em massa na terça-feira. Agora, foram 384 trabalhadores – o equivalente a 12% do quadro da empresa. Nas demissões de abril, a startup afirmou que queria eliminar cargos repetidos após a aquisição de uma empresa de crédito imobiliário. Desta vez não deu pra justificar assim. Disse que era pra aumentar a eficiência e se adequar à nova realidade global – que não tem sido gentil com as startups. Além da Loft, QuintoAndar, Facily, Mercado Bitcoin e IFood fazem parte da lista de unicórnios brasileiros que demitiram em massa no primeiro semestre.
Comparativo
Os brasileiros sabem bem como é viver com inflação. Mas o mundo rico tomou um susto depois que a invasão Russa na Ucrânia fez subir os preços de comida e energia. O Financial Times compilou gráficos interativos que ajudam a entender qual a dimensão do problema em cada país, comparando a taxa de inflação mensal ao crescimento do PIB.