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Em dia de barulho em Brasília, Ibovespa se fez de surdo

Índice subiu mesmo com reforma ministerial confusa, caos no Orçamento e Nova York no vermelho.

Por Tássia Kastner, Guilherme Eler
29 mar 2021, 19h45

Começou o barata voa em Brasília, e a Faria Lima decidiu buscar a pipoca para acompanhar. Caíram dois ministros, o advogado-geral da União, a secretária de Educação Básica do MEC, um diretor da Petrobras foi demitido e, depois do fechamento do mercado, ainda seguiam na corda bamba os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Fora o chanceler Ernesto Araújo, que estava sendo rifado pelo Congresso desde a semana passada, tudo pegou o brasileiro de surpresa. E a bolsa? Subiu. 

O Ibovespa terminou o dia em alta de 0,56%. E não dá nem para dizer que investidores acompanharam o exterior: depois dos recordes da sexta, os índices S&P e Nasdaq começaram a semana no negativo. -0,09% para o S&P e -0,60% para o Nasdaq. 

Houve um único sinal de cautela na Faria Lima: o volume de negócios foi de R$ 25,6 bilhões, bem abaixo da média diária do ano, que ronda os R$ 37 bilhões, ainda que isso até aconteça em semanas mais curtas, como essa que antecede a Páscoa (caso você esteja perdido no calendário). Feita a ressalva, é como se investidores tivessem adotado o “em caso de dúvida, não faça nada”. O que já é bem estranho, porque o mais comum é “em caso de dúvida, venda. Depois a gente vê”.

Dança das cadeiras

Começou pela demissão de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores. Essa era pedra cantada. O chanceler, que acumulava polêmicas e tinha cada vez menos prestígio entre seus pares, vinha sendo pressionado por declarações dos presidentes do Senado (Rodrigo Pacheco) e da Câmara (Arthur Lira). Aí no final de semana ele acusou a senadora Kátia Abreu de chantagem divulgando supostas mensagens de WhatsApp.

Mas não parou por aí. No meio da tarde, surgiu a nota oficial do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, anunciando que deixaria o cargo logo depois de uma reunião de 5 minutos com o presidente Jair Bolsonaro. Aí foi ladeira abaixo. 

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Após o fechamento do mercado, jornais noticiavam a possível renúncia dos três chefes das Forças Armadas – Edson Pujol, Ilques Barbosa Junior e Antonio Carlos Moretti Bermudez. Depois caiu também José Levi, ministro da AGU (Advocacia Geral da União). 

Bolsonaro confirmou que essa bagunça era uma reforma ministerial. Ficou assim: 

– Casa Civil: general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira;

– Justiça e Segurança Pública: delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres;

– Ministério da Defesa: general Walter Souza Braga Netto;

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– Relações Exteriores: Carlos Alberto Franco França;

– Secretaria de Governo da Presidência da República: Deputada Federal Flávia Arruda;

– Advocacia-Geral da União (AGU): André Luiz de Almeida Mendonça.

A reforma ministerial ocorre após pressão dos partidos do Centrão e da Faria Lima por uma mudança de postura do presidente, algo que se repete desde que ele assumiu o governo. O que mudou é que agora o país empilha 300 mil mortos pelo coronavírus, há um colapso nos hospitais e a vacinação se arrasta. Mas o que analistas políticos viram nessa bagunça é que o presidente aproveitou o ensejo da reforma para tentar enquadrar os militares como aliados.

E foi também no mesmo dia que assunto para a Faria Lima deveria ser o Orçamento. Aprovado na semana passada com pelo menos três meses de atraso, foi considerado impossível de cumprir. As despesas obrigatórias foram subestimadas, enquanto o relator, Marcio Bittar, acrescentou emendas para realização de obras. O resultado disso é um rombo de R$ 32 bilhões, segundo a IFI (Instituição Fiscal Independente, ligada ao Senado), e a queda do tal do Teto de Gastos, que impõe limites para aumento de gastos do governo.

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Se Bolsonaro sancionar o texto, pode ser acusado de crime de responsabilidade, o mesmo que embasou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Por isso, a equipe de Paulo Guedes (Economia) agora tenta achar uma saída para que a briga com o Centrão não recomece e tampouco o presidente fique exposto nessa frente.

O tema da responsabilidade fiscal ainda aparece como uma preocupação de investidores, mas ficou de fora da bolsa hoje. O dólar subiu 0,44%, para R$ 5,76, abaixo do patamar simbólico de R$ 5,80 que encostou durante o dia.

E se parece pouca a confusão, isso foi só o alto escalão. Ainda tem mais. Claudio da Costa, gerente-executivo de RH da Petrobras e aliado de Bolsonaro, foi demitido nesta segunda-feira. A estatal afirmou apenas que não foi por justa causa. A saída ocorre pouco antes da troca de comando na companhia, marcada para abril. 

Teve ainda o pedido de demissão de Izabel Lima Pessoa, secretária de Educação Básica, pasta vinculada ao ministério da Educação. É a quinta pessoa no cargo a sair.

Se a gente não estiver esquecendo de nada, por fim, houve anúncios de mudanças no conselho de administração do Banco do Brasil. O presidente do conselho, Hélio Magalhães, e mais três membros do colegiado não continuarão no cargo. Isso ocorreu no dia em que saiu a confirmação do nome de Fausto Ribeiro para a presidência do banco, o substituto de André Brandão, que preferiu deixar o cargo após interferências de Bolsonaro na sua gestão e ameaças de que poderia ser demitido. 

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Parece que o meganavio Ever Green estava trancando o Brasil, não o Canal de Suez. Quando desencalhou, a porteira que abriu foi por aqui. Ainda bem que esta semana é mais curta.

Maiores altas

Pão de Açúcar: 7,10%

Minerva Foods: 6,51%

Taesa: 6,37%

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Bradespar: 4,45%

Marfrig: 4,28%

 

Maiores quedas

Eztec: -3,04%

Santander: -2,93%

SulAmerica: -2,81%

Cyrella: -2,58%

Azul: -2,38%

 

Bolsas americanas

Dow Jones: 0,30%, a 33.171,37 pontos

S&P 500: -0,09%, a 3.971,09 pontos

Nasdaq: -0,60%, a 13.059,65 pontos

 

Petróleo

Brent: 0,76%, a US$ 64,92

WTI: 0,97%, a US$ 61,56

 

Minério de ferro

+4,08% no porto de Qingdao, China. 

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