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Eletrobras garante Ibovespa no azul – mesmo cheia de jabutis pendurados em fios de alta tensão

Congresso só falta obrigar futura versão privada da empresa a pular corda com um pé só. Mas o mercado não chiou. Dividendos da Vale e trevas nos EUA também movimentam a sexta.

Por Alexandre Versignassi e Guilherme Eler
Atualizado em 18 jun 2021, 19h08 - Publicado em 18 jun 2021, 18h45

Nossa bolsa de valores é como todas as outras: vive sob uma relação abusiva com o mercado financeiro dos EUA. Se a coisa está feia lá, geralmente fica ruim por aqui, mesmo que o Brasil não tenha nada a ver com o pato. 

Não foi o caso hoje. 

Na gringa, só trevas: -1.31% para o S&P 500 (por tenebrosos motivos que vamos mostrar mais abaixo). Aqui, céu azul: ainda que com nuvens esparsas: alta de 0,27%. 

A responsabilidade por manter o Ibov acima da linha vermelha foi, claro, da Eletrobras, já que, mal-e-mal, o fato é que a privatização está próxima. Nisso, a elétrica colocou suas duas classes de ações (ON e PN) no pódio das maiores altas do dia, com quase 6% de alta.  

O Senado aprovou ontem (17) o texto-base da MP que permite a privatização. O problema é que, para angariar votos suficientes, os relatores precisaram fazer concessões e inclusões de última hora. Isso acabou tornando o texto da privatização uma colcha de retalhos – foram, ao todo, 21 emendas de senadores. Cheio daquilo que o noticiário político chama de “jabutis” – o termo original é “jabuti na árvore” (ele não subiu sozinho, alguém o colocou ali).  

O principal quelônio do texto envolve a construção de diversas usinas termelétricas movidas a gás natural. Segundo a MP, elas deverão fornecer 8 megawatts (MW) de energia por 15 anos, e precisarão ser instaladas no interior do norte, nordeste, centro-oeste e sudeste do país – regiões sem infraestrutura de transporte de gás. Em junho de 2021, a capacidade total de produção energética do Brasil, somando todas as fontes, é de 171 MW. Ou seja: os senadores estão pedindo megawatt adoidado.

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Outro ponto está na construção de uma linha de transmissão de energia que ligue as capitais de Amazonas e Roraima – o único estado que não está conectado ao sistema elétrico do país. O percurso Manaus-Boa Vista foi batizado de Linhão do Tucuruí. 

Trata-se de um projeto que existe desde 2011, mas que nunca havia saído do papel por conta de um entrave sensível: dos 721 quilômetros de torres de transmissão previstos na obra, 125 deles seriam construídos dentro da terra indígena Waimiri Atroari. Com a MP, o fiozão de energia poderá ser implementado sem necessidade de autorização de Funai e Ibama, entidades de defesa das causas indígena e ambiental. 

Ganha um megawatt grátis quem mostrar que não existe interesse político num texto desses.

A futura Eletrobras privatizada ainda ficou obrigada a prorrogar por mais 20 anos os contratos com empresas construídas pelo Proinfa (Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica).

A companhia também terá de arcar com uma indenização de R$ 260 milhões ao governo do Piauí pela venda da Cepisa (Companhia Energética do Piauí), a distribuidora do estado.

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A conta desses jabutis não deve pesar só para os futuros controladores privados da Eletrobras, mas no bolso do consumidor. O impacto dos novos gastos, de acordo com as projeções de entidades ligadas ao setor elétrico, pode chegar a R$ 84 bilhões. 

Bom, poucas coisas são tão eficientes para travar o crescimento de um país quanto energia cara. E aí todo mundo perde – incluindo a Eletrobras.  

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, fará uma votação extra do texto na segunda-feira (21). Para a MP não expirar e levar o processo de privatização de volta à estaca zero, o presidente Jair Bolsonaro precisa sancioná-la até a próxima terça-feira (22).

Diante de tantos quelônios desavisados sobre os fios de transmissão da Eletrobras, até surpreende ela ter fechado tão em alta… Mas vamos que vamos.

Dividendos da Vale

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A mineradora anunciou um pagamento especialmente generoso de dividendos: R$ 2,17 por ação. Não parece muito. Como os papéis da Vale estão a quase R$ 110, isso significa um dividend yield magrinho, de 2%. 

Mas… Tudo indica que venha mais dinheiro aí. Desses R$ 2,17, R$ 1,46 se referem a lucros lá de 2020. Os R$ 0,71% restantes vêm do lucro do primeiro trimestre deste ano e de uma “antecipação dos resultados de 2021”. Ou seja, como ainda temos três trimestres pela frente, a chance de virem mais pagamentos interessantes é alta. 

Logo, a ação subiu bem: 2,66%.

Ah, também ajudou o fato de hoje ser dia de vencimento de opções. Opções são “vales” que te dão o direito de comprar uma ação a tal preço até dia tal. 18 de junho é um desses “dias tal” (só existe um em cada mês). Se o seu vale te dá o direito de comprar uma ação da Petrobras a R$ 28 e a ação estiver a R$ 27, ele não serve para nada. Você joga fora e perde o dinheiro que gastou na hora de comprar o tal vale. 

Já se a ação estiver a R$ 29, ótimo. Você exerce seu direito de comprar a R$ 27 e revende na hora por R$ 29. Grandes investidores costumam colocar belas quantias de dinheiro nessas apostas. Tão belas que vale a pena para eles sair comprando ações no dia do vencimento para fazê-las subir de preço, e aí lucrar em cima do preço novo, mais alto, que eles criaram. 

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Por isso, ações tendem a subir em dia de vencimento de opções. Geralmente ações de empresas gigantes, como a Vale. Elas são, afinal, as que mais movimentam o mercado de opções. A Petrobras, que também tende a subir em dias assim, também fechou no azul: 0,68% – por outro lado, também foi dia de alta no petróleo (veja lá embaixo). 

Ou seja: nunca superestime os dias de vencimento de opções. Às vezes eles não influenciam grande coisa mesmo. E vamos que vamos.

EUA: juros mais altos já em 2022?

O Dow Jones (índice que mapeia a variação das 30 empresas mais tradicionais dos EUA), tombou pelo quinto dia seguido. E o S&P 500 (das 500 maiores) teve sua pior semana desde fevereiro, com queda de quase 2% de segunda para cá. 

É que, na quarta, o Fed anunciou uma data para aumentar os juros nos EUA – medida que afugenta dinheiro das bolsas; os dólares tendem a fugir dos mercados de risco e buscar o porto seguro dos dos títulos públicos, já que os papéis do governo tendem a pagar mais sob essas circunstâncias. 

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Jerome Powell, chefe do Banco Central dos EUA, anunciou que seria a partir de 2023. Final de 2023, na verdade. Ou seja: tem chão até essas circunstâncias chegarem. Mesmo assim, já bastou para assustar o mercado. 

Então veio um sujeito e colocou gasolina nessa fogueira: James Bullard, presidente do Fed de St. Louis (o Banco Central deles tem diversos braços, ainda que o chefe da coisa toda seja um só, Jerome Powell). Bullard disse nesta sexta que, se a inflação seguir apertando (o que está de fato acontecendo) os juros vão aumentar em 2022 mesmo.

Se os investidores já tinham ficado tristes com a fala de Powell, a de Bullard veio para declarar aberta a depressão. E aos investidores restou sextar vendo Netflix de pijama, com um pote de sorvete, chorando. 

E vamos que vamos. 

Maiores altas

Eletrobras (PN): 5,98%

Eletrobras (ON): 5,94%

Vale: 3,01% 

CSN: 2,73%

Weg: 2,24%

Maiores baixas

RaiaDrogasil: -3,81%

Santander: -3,32%

CVC: -2,89%

Cogna: -1,93%

MRV: -1,3%

Ibovespa: 0,26%, aos 128.057 pontos

Em NY:

S&P 500: -1,31%, aos 4.166 pontos

Nasdaq: -0,92%, aos 14.030 pontos

Dow Jones: -1,58%, aos 33.290 pontos

Dólar: 0,92%, a R$ 5,06. 

Petróleo

Brent: 0,59%, a US$ 73,51

WTI: 0,72%, a US$ 71,29

Minério de ferro: queda de 0,87%, a US$ 218,90 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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