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Eletrobras, a empresa de Schrödinger

Tal como o gato vivo e morto da física, a elétrica vive um momento fantasmagórico: seu preço-alvo sobrepõe a perspectiva de privatização e a de manutenção como estatal.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 15 dez 2020, 10h35 - Publicado em 11 dez 2020, 19h50

“Se você acha que entendeu a física quântica, é porque não entendeu”, disse certa vez o físico Richard Feynman. A mesma frase pode se aplicar ao relatório que o BTG Pactual produziu na última terça para a Eletrobras (nossa outra estatal sem acento no “a”, responsável por 30% da geração e 45% da transmissão de energia no país).

As ações preferenciais da companhia estavam na casa dos R$ 35 quando o BTG soltou o relatório. Os analistas do banco disseram que o preço-alvo, ou seja, algo como o “preço justo”, para cada ação da Eletrobras é bem maior do que isso: R$ 52. A justificativa é a de que, hoje, a estatal já seria gerida de forma bem mais profissional do que nos últimos anos. 

Mas esse não era o preço-alvo de fato. Seria para o caso de a empresa se manter como estatal. Eles avaliam que, se a privatização sair, a qualidade da gestão dará um salto. Logo, isso elevaria o preço-alvo da estatal para ainda mais empolgantes R$ 75.  Mas não, esse também não é o preço-alvo de verdade.   

O de verdade é outro: R$ 63 – o meio-termo entre a versão privada e estatal do preço. Um gato de Schrodinger da economia, basicamente. Tal qual o gato vivo e morto ao mesmo tempo da física quântica, a Eletrobras pode ser vista como uma entidade ao mesmo tempo estatal e privada. 

Se você não é familiarizado com o conceito do gato, dê uma olhada aqui. Resumindo, trata-se de um experimento mental com uma conclusão bizarra. Imagine um animal dentro de uma caixa acompanhado por um mecanismo radioativo que tem 50% de chance de matá-lo. Na física quântica, que rege a radiação, probabilidades distintas podem ocorrer ao mesmo tempo. Uma partícula, por exemplo, pode estar simultaneamente em dois lugares. A teoria quântica prova que isso é verdade. Mas, quando você olha para a partícula para flagrá-la nesse estado que desafia a imaginação, ela finge que a teoria não existe, e aparece num lugar só.  

Bom, se o gato estiver à mercê da indecisão quântica dentro da caixa, ele estará vivo e morto ao mesmo tempo – e só quando você abre a caixa para flagar esse estado fantasmagórico ele “assume” uma das condições convencionais: ou estará vivo ou estará morto, jamais num limbo.

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De volta à Eletrobras: estão prestes a abrir a caixa. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO) disse hoje pela manhã que a privatização da estatal será a grande prioridade nas casas legislativas já no primeiro semestre.

O Projeto de Lei que libera a privatização da maior companhia elétrica da América Latina está parado na Câmara desde novembro de 2019. E não se sabe se a privatização, menina dos olhos de Paulo Guedes, tem mesmo tantos apoiadores no Congresso. 

Mas, se a base aliada do governo realmente se articular para isso (como Eduardo Gomes sinalizou), é bem possível que comece a troca de favores por votos pela privatização. E a Eletrobras dê aquele salto que o BTG espera. 

Nisso, os papeis da empresa lideraram as altas do dia entre as empresas listadas no Ibovespa. E foram o destaque de uma sexta-feira siri: em que o mercado andou de lado, e fechou em precisamente 0,00%, mantendo o bom patamar de 115.128 pontos. 

Importante: a posição do BTG é racional, sim. O fato é que a novela da privatização se arrasta, e a mera possibilidade de a empresa deixar de ser estatal afeta o preço das ações, como afetou hoje. 

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Faz sentido, então, a ideia de um preço-alvo híbrido. Enquanto ninguém abrir a caixa a Eletrobras será mesmo “meio privada” – o mercado não trabalha com a realidade do presente, mas com as expectativas para o futuro. E elas seguem nebulosas. Logo, não dá para cravar nem uma realidade nem outra.

Se você acha que dá para prever o comportamento do Congresso, afinal, é porque não entendeu o Congresso. 

Bom  fim de semana!

Maiores altas

Eletrobras (ON): 5,65%

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Eletrobras (PN): 4,22%

Equatorial: 3,83%

Engie: 3,67%

Cemig: 3,39%

Maiores baixas

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Lojas Americanas: – 5,48%

Multiplan: – 3,58%

PetroRio: – 3,56%

B2W: – 3,55%

Yduqs: – 3,45%

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Em NY

S&P 500: – 0,13%, a 3.663 pontos

Nasdaq: – 0,23%, a 12.377 pontos

Dólar: alta de 0,16%, a R$ 5,04%

Petróleo

Brent: – 0,56%, a US$ 49,97

WTI: – 0,45%, a US$ 45,67

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