Economia global dá entrada na UTI. Bolsas temem que ela vá parar no IML
Quando o câncer da inflação bate numa economia fragilizada, onde o PIB não sobe mais, o destino tende a não ser dos melhores. E o paciente aqui não é só o Brasil. É a economia global.
Bom dia!
Perdão: pelo que os índices futuros indicam, o dia não vai ser assim uma beleza. No início da manhã, os mini contratos de S&P 500 caíam 0,41%, do Nasdaq, 0,34%. Na Ásia, os mercados já tinham fechado em baixa. Na Europa, onde a hora do almoço se avizinha, idem: só depressão.
No S&P 500, a mãe de todos os índices, e que serve de termômetro para todos os outros, aponta para fechar sua pior semana em um ano. Até agora está em -3,3%. A única semana pior do que esta aqui aconteceu em outubro do ano passado (-5.6%). Caso as previsões do índice futuro se confirmem, então, esse recorde negativo pode ser renovado.
Por aqui, a semana tinha começado otimista, com o Ibovespa de volta aos 120 mil pontos no final do pregão da segunda. Mas no topo dessa escada havia um tobogã: de lá para cá o índice já perdeu 8 pontos percentuais, e agora se equilibra nos 110 mil pontos. Mantidas as atuais condições de temperatura e pressão, o Ibovespa tem tudo para descer até a mesma classe numérica da inflação dos últimos 12 meses: a dos dois dígitos.
O pessimismo global vem de uma armadilha macroeconômica. A inflação sobe no mundo todo. Combater inflação é fácil: basta aumentar os juros básicos da economia. O crédito fica mais caro, o consumo diminui, e os preços cedem na marra.
Se alta de juros fosse um remédio com bula, porém, estaria escrito na tal bula: “Efeitos colaterais: recessão, desemprego, miséria”.
Costuma dar certo porque inflação, em boa parte dos casos, é sinal de que a economia está forte – muito emprego, muito consumo. Aplicar alta de juros nessas circunstâncias não é um problema. É algo bem vindo, importante para a saúde da economia.
Mas…. Quando o câncer da inflação bate numa economia que vai mal das pernas, com desemprego em alta e o PIB igual a pipa do vovô, que não sobe mais, os efeitos colaterais podem levar o paciente à UTI. Ou ao IML.
E isso não é privilégio do Brasil. Por aqui, os juros já começaram a subir mesmo com a economia capengando. O mundo desenvolvido está retardando esse tratamento. Mas já entendeu que ele deve começar.
Nesse cenário hospitalar, as bolsas são os parentes italianos do paciente. Emotivos, sanguíneos, começam a chorar de véspera, antevendo o pior.
Saúde para todos.
Futuros S&P 500: -0,41%
Futuros Nasdaq: -0,34%
Futuros Dow: -0,49%
*às 7h25
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,85%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,87%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,75%
Bolsa de Paris (CAC): 0,74%
*às 7h25
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): Feriado
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -2,31%
Hong Kong (Hang Seng): Feriado
Brent: -0,45%, a US$ 77,96
Minério de ferro: -2,89, a US$ 115,79
*às 7h25
9h30 EUA divulga o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) de agosto.
15h Governo divulga a balança comercial de setembro.
“Meus novos sócios: Lemann e Buffett”
A Kraft Heinz anunciou que fará aporte na BR Spices. Com isso, a multinacional de Warren Buffett e Jorge Paulo Lemann será acionista majoritária da produtora paulista de temperos. O valor do investimento não foi divulgado e o fundador Gabriel Daniel continuará no comando da empresa. Essa é a segunda movimentação da Kraft no mercado brasileiro em uma semana. Na quinta-feira passada, ela comprou a Hemmer, uma fabricante catarinense de molhos e condimentos. Até então, a única aquisição feita tinha sido a da Quero, em 2011, quando a Heinz desembarcou por aqui.
Caiu na deep web
O Banco Central alertou sobre o vazamento de dados de chaves Pix de correntistas do Banco do Estado de Sergipe, o Banese. Segundo o comunicado, houve uma falha no sistema de segurança da instituição que expôs somente as chaves – dados sensíveis, como senhas, saldos e informações de movimentações estão seguros. O Banese, por sua vez, detectou a tentativa de consultas indevidas a dados relacionados a 395 mil chaves Pix. As pessoas afetadas serão notificadas. Esse é o primeiro vazamento do Pix, que se tem conhecimento, desde o seu lançamento em novembro do ano passado.
O vestibular do CFA
Quem quer trabalhar como analista de investimentos já sabe que precisa tirar alguns certificados para poder exercer a profissão. Por aqui, o obrigatório é o CNPI (Certificado Nacional do Profissional de Investimento). Mas internacionalmente, tem um muito mais cobiçado: o CFA, ou Chartered Financial Analyst. Conseguir colocar as mãos nele não é fácil – são três provas com duração de 4 horas cada. Neste ano, dos 140 mil candidatos que se inscreveram para qualquer um dos níveis, só 35% foram aprovados. E só 22% conseguiram passar pela primeira fase. Foi a menor quantidade de aprovados desde 1963. As baixas notas reavivam uma discussão antiga: vale a pena manter a exigência da certificação? Leia aqui no The New York Times (em inglês).