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Crise de crédito bancário supera inflação como maior medo de 31% dos investidores

Nesta “super quarta”, espera-se que a Selic seja mantida aqui, e uma alta de 0,25 p.p. na taxa de juros americana. Uma pesquisa do BofA com gestores revela o pessimismo com os bancos e o risco de estagflação. 

Por Bruno Vaiano e Camila Barros
Atualizado em 22 mar 2023, 08h36 - Publicado em 22 mar 2023, 08h30

Chegou mais uma das super quartas – esses dias em que os comitês de política monetária do Brasil e dos EUA anunciam suas decisões sobre juros simultaneamente –, e um clichê literário batido se aplica bem à manhã de hoje: é a calmaria antes da tempestade. 

Os futuros de Nova York amanheceram meio travadões, próximos à estabilidade: o Dow Jones caía 0,05% às 6h45; o S&P 500, 0,07%. O índice Nasdaq, sempre mais nervosinho, marcava -0,22%. Já por volta das 8h, Dow e S&P marcavam verdes tão discretos quanto: +0,08% e +0,04%. Clima de indecisão. 

É que nenhum coletinho quer comprar (ou vender) nada antes de ter pistas do rumo que os juros tomarão no curto e no longo prazo. Faz dois dias que a bolsa brasileira faz o caranguejo e anda de lado à espera da decisão. Na segunda-feira, o Ibovespa caiu, na terça ele ficou basicamente estático, e o volume de negócios nos dois dias foi uns 60% da média – coisa que só costuma acontecer quando é feriado nos EUA e o faria limer não vê grande motivo para trabalhar aqui. 

Não há muito mistério em torno das decisões. Quem acompanha as aberturas e fechamentos da Você S/A já sabe que são basicamente unânimes as expectativas de manutenção da Selic em 13,75% e de aumento da taxa básica de juros americana em 0,25 ponto percentual – para a janela de 4,75% a 5%. De fato, a ferramenta de monitoramento do CME Group fala em 89% de chance de que essa aposta se confirme. 

As expectativas para os EUA caíram de 0,5 p.p. para 0,25 p.p. desde que a crise bancária desencadeada pela quebra do SVB mostrou ao Fed e seus boys (os dirigentes do banco central americano são apelidados de “Fed boys”) que as oito altas seguidas nos juros desde 2022 estão exercendo o efeito sufocante sobre a economia, com efeitos colaterais adversos. O Fed quer controlar a inflação, mas não quer ver banco quebrar. 

Como as decisões não têm lá muito espaço para surpreender – by the way, anota aí: a decisão do Fomc sai às 15h no horário de Brasília, a do Copom, às 18h30 –, o que todo mundo realmente aguarda é o discurso de Powell. A coletiva está programada para 15h30, em tempo de dar um agito nos mercados 90 minutos antes do fechamento. O impacto do Copom, por outro lado, só se fará sentir no pregão de amanhã. 

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Se as autoridades monetárias do Brasil e dos EUA adotarem um tom ameno, dovish (entenda o termo aqui), darão um gás bem-vindo ao mercado de renda variável, sufocado pela inflação resistente, os juros no talo para combatê-la, pela crise bancária recente, pela expectativa de recessão econômica no Ocidente em 2023, pela… enfim, a coisa tá feia. 

Em suma: o que está em jogo não são propriamente os juros de hoje, mas qualquer migalha de informação sobre o caminho que os juros tomarão amanhã. Todos aguardam ansiosos para que a Selic passe a cair (os mais otimistas apostam até em um corte de 0,25 p.p. ainda na reunião em maio, embora o segundo semestre seja uma aposta mais pé no chão) e para que o Fed chegue ao fim do ciclo de alta. O Bank of America (BofA) já fala em Selic em 11% ao final de 2023.  

E novidade, tem? 

Tem sim, ainda que seja mais do mesmo: o grau de pessimismo entre os operadores de Wall Street está em picos históricos, alinhados com os piores momentos dos últimos vinte anos (como a crise de 2008 e a eclosão da pandemia em 2020). É o que mostra uma pesquisa mensal do BofA com 212 gestores de fundos, cuja edição mais recente foi realizada entre 10 e 16 de março. 

A enquete mostrou que 42% apostam em uma recessão para 2023 (um estado que, vale explicar, normalmente é identificado por dois ou mais trimestres seguidos de queda no PIB de um país). E já faz dez meses que 80% dos entrevistados acreditam que os EUA estão caminhando para o estado conhecido como estagflação: quando a economia trava, mas os preços permanecem em alta. Trata-se de uma situação desesperadora, já que o único motivo dos bancos centrais usarem juros para travar a economia é combater a inflação. Se essa estratégia falha, ficamos com o pior dos dois mundos.

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E, no que diz respeito a medo, a inflação agora tem concorrentes: com a quebra do SVB, a especulação de que possa haver uma crise no crédito bancário em curto prazo (ou seja, uma redução repentina na concessão de empréstimos por parte dos bancos) foi elencado como o maior risco da vez na opinião de 31% dos participantes. 

Mas eu queria novidades sobre o Brasil…

Estamos na saudade, infelizmente: Lula ignorou as promessas de toda a cúpula do governo e só vai liberar o novo arcabouço fiscal em abril, quando voltar da viagem à China. O arcabouço será pivotal para a tão aguardada decisão do Copom em maio: se o novo pacotão de regras para gastos e dívida pública vier bem responsável, o Banco Central terá mais motivos para diminuir nosso juro.

Ou seja: aguardem ansiosos. Até mais tarde, quando voltamos com as decisões de Fomc, Copom e outras onomatopéias. 

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humorômetro: o dia começou sem tendência definida
(Arte/VOCÊ S/A)

Futuros S&P 500: +0,04%
Futuros Nasdaq: -0,12%
Futuros Dow: +0,08%

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*às 8h10

market facts

Liquida bombástica

A Americanas apresentou seu plano de recuperação judicial, que ainda depende de aval dos credores. O projeto prevê a venda de ativos, como a rede de hortifruti Natural da Terra, comprada há menos de dois anos, além da Uni.Co, da Imaginarium e, bem, um avião. O plano é arrecadar R$ 3 bi com as vendas – só no Natural da Terra a Americanas havia pago R$ 2,1 bilhões, ilustrando o efeito liquidação. Os acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, reforçaram o plano de colocar a mão no bolso e aportar R$ 10 bilhões na companhia, valor ainda considerado insuficiente pelos credores, que têm R$ 40 bilhões a receber da varejista. As ações AMER3, que não fazem mais parte do Ibovespa desde janeiro, fecharam em alta de 2,78%, a R$ 1,11, após a divulgação da proposta.

Agenda

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EUA, 15h: decisão de juros do Fomc
EUA, 15h30: discurso e coletiva de imprensa de Jerome Powell
Brasil, 16h30: decisão de juros do Copom

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): +0,35%

Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,05%

Bolsa de Frankfurt (Dax): +0,50%

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Bolsa de Paris (CAC): +0,26%

*às 8h08

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): +0,43%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): +1,74%

Hong Kong (Hang Seng): +1,73%

Commodities

Brent: -0,50% a US$ 74,94 o barril

*às 7h05

Minério de ferro: -2,59%, a US$ 120,15 a tonelada, em Cingapura

Vale a pena ler:

Layoffs: para além das big techs

A onda de demissões nas techs vem chamando a atenção pelos números vultosos: 27 mil na Amazon, 21 mil na Meta e, no Twitter, mais da metade do quadro de funcionários. Mas os cortes não atingiram só o setor de tecnologia e a maré pode subir mais: com as taxas de juros ainda escalando e alguns bancos quebrando, o medo de recessão deve fazer mais companhias, de outros setores, temerem que água chegue no umbigo – e, nessa, é “tchau” para os funcionários. Este gráfico psicodélico da Bloomberg traça a linha do tempo de demissões por setor ao redor do mundo. 

As startups brasileiras impactadas pelo colapso do SVB

O Silicon Valley Bank era ponto de parada de algumas startups brasileiras. Essas companhias funcionam no modelo “Cayman sandwich”: têm a sede principal em algum paraíso fiscal (tipo as Ilhas Cayman, daí o nome), uma intermediária em Delaware, nos EUA, e uma subsidiária aqui no Brasil. Esse bem bolado permite que as empresas paguem bem menos imposto – já que estão sujeitas às regras tributárias de um paraíso fiscal –, enquanto se mantêm protegidas pela segurança jurídica do tio Sam. Só que são poucas as instituições financeiras que topam oferecer crédito para esse tipo de negócio. O SVB era uma delas. Esta reportagem da Folha mostra como o colapso do banco americano tem influenciado as startups tupiniquins. 

Temporada de balanços
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Brasil, após o fechamento: Braskem

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