Continua após publicidade

Confusões do governo americano, e do nosso, derrubam as bolsas

Wall Street fica chateada com a lenga-lenga do Congresso americano. Ibovespa, com o vai e volta do governo brasileiro. E o dia fecha triste para todo mundo.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 dez 2020, 20h56 - Publicado em 9 dez 2020, 20h41

Enquanto os britânicos fazem filas nos postos de vacinação e o Canadá também autoriza o uso emergencial da vacina da Pfizer, os EUA jogam um balde de água fria nos investidores. 

Acontece que os representantes dos partidos Democrata e Republicano ainda não chegaram a um acordo sobre o tão esperado pacote de estímulos econômicos. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, apresentou um projeto de US$ 916 bilhões – o valor é um pouco mais alto do que os US$ 908 bilhões que já estavam sendo discutidos no Congresso. 

Mas Nancy Pelosi, a presidente do Congresso, não gostou. Reclamou da falta de um auxílio extra de US$ 300 semanais no seguro-desemprego – uma medida que já estava listada no projeto anterior. 

Além disso, a proposta nova deixou de lado o repasse de mais ajuda a Estados e municípios e a medida de proteções jurídicas para as empresas.

Wall Street não gostou dessa lenga-lenga. O S&P 500 teve queda de 0,80%, a 3.672 pontos. No Nasdaq Composite, pior ainda. O indicador das empresas de tecnologia despencou 1,94% (12.338 pontos). 

Um destaque do dia, ainda que esperado: o JPMorgan rebaixou sua classificação das ações da Zoom (à venda no Brasil, na forma de BDRs) para neutra. A empresa queridinha em tempos de covid-19 só cresceu por causa do isolamento social. Mas o banco espera que, com uma vacina chegando, o desempenho da companhia recue. Os papéis caíram 6,40%, seguidos por Apple (2,17%) e do Facebook (1,72%) – ambos também presentes nos home brokers  brasileiros, via BDRs).

Continua após a publicidade

Bom, o impasse  do pacote de estímulos e o pessimismo do mercado respingaram aqui no Brasil. O Ibovespa fechou o dia com queda de 0,70%, a 113.001 pontos.

Mas não dá para colocar a culpa só no mercado internacional.  

Com as polêmicas em torno das vacinas, o Poder Executivo vem dando uma aula de como NÃO lidar com crises, o que não ajuda em nada na confiança dos investidores.  

No início da semana, João Doria disse que a vacinação no Estado de São Paulo começa a partir do dia 25 de janeiro. Ok. Logo em seguida, o  Ministério da Saúde afirmou que nenhuma vacina seria aprovada antes de 60 dias – ou seja, só lá pra março. Outros governadores chiaram, claro.  

Agora, Eduardo Pazuello parece ter voltado atrás. Em entrevista à CNN na manhã desta quarta (9), o Ministro da Saúde disse que a vacinação emergencial – voltada para idosos e profissionais da saúde – deve acontecer em dezembro, e que a população começa a receber as primeiras doses entre janeiro e fevereiro. Legal. Mas, de fato, dá a entender que o governo não tem um plano de ação, apenas planos de reação. Nada bom.  

Continua após a publicidade

Outra questão que está incomodando os investidores é a desconfiança fiscal – ou seja, a de que o governo vai se endividar além da conta para lidar com a crise, o que pode quebrar o País.  

O ministro Paulo Guedes afirmou durante um evento que o governo está comprometido com o ajuste fiscal e o equilíbrio das contas públicas. Mas, enquanto o ministro diz que está tudo bem com o caixa, o texto da PEC Emergencial diz outra coisa. 

A proposta de emenda é a principal aposta de ajuste nas contas públicas depois de todos os gastos com a pandemia. A ideia era que o governo economizasse em outras áreas para ajudar a cobrir o rombo de quase R$ 1 trilhão das contas públicas.    

O que veio, porém, foi uma proposta pífia: economia de R$ 450 milhões. Muito abaixo das previsões mais pessimistas – que eram de um corte de R$ 25 bilhões.

Também não está claro se o governo pretende ou não mudar a regra fiscal no ano que vem para acomodar o Renda Brasil, o substituto do Renda Família. O programa é a grande aposta de Bolsonaro para uma possível reeleição em 2022. 

Continua após a publicidade

Ruim no macro, idem no micro. O dia foi ruim para todos os setores, mas o varejo sofreu mais, com a notícia de que a Amazon vai lançar um serviço próprio de entrega no país. A ideia da multinacional é criar uma rede de pequenas empresas de entrega independentes para o envio de encomendas da Amazon. No primeiro ano, o serviço não terá taxas. 

A Lojas Americanas lideraram as quedas do setor (-4,28%), seguido por Magalu (-4,01%), B2W (-2,82%) e Via Varejo (-2,77%).

Na ponta positiva de um dia negativo, o destaque foi a Telefônica. E a Ativa Investimentos recomendou compra da Telefônica/Vivo. A previsão é de que a empresa ganhe mais participação de mercado com a chegada do 5G e a venda de ativos da Oi. Além disso, o Bradesco BBI aumentou o preço-alvo de todas as empresas de telecomunicações de capital aberto. Aí foi como se as ações da empresa tivessem tomado duas vacinas de uma vez, e o resultado está aqui embaixo 😉   

Maiores altas

Telefônica: 3,09%

Continua após a publicidade

Eletrobras: 1,45%

Iguatemi: 1,43%

Ambev: 1,20%

PetroRio: 0,80%

Maiores baixas

Continua após a publicidade

Usiminas: -4,41%

CCR: -4,37%

Lojas Americanas: -4,28%

IRB Brasil: -4,25%

Magalu: -4,01%

Petróleo

Tipo Brent: +0,04% (US$ 48,86 o barril)

Tipo WTI: -0,18% (US$ 45,52 o barril)

Dólar: +0,87%, cotado a R$ 5,17

Publicidade