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Brasília quer Orçamento de Guerra para novo auxílio emergencial, e Faria Lima ocupa trincheiras

Ibov caiu, dólar e juros subiram. Tudo porque governo e Congresso negociam liberar novos pagamentos de auxílio emergencial sem cortar outros gastos.

Por Tássia Kastner e Luciana Lima
9 fev 2021, 20h16

Água mole, pedra dura, tanto bate até que? Até que nada. A equipe econômica queria chantagear o Congresso e condicionar uma nova rodada de auxílio emergencial à aprovação de reformas e corte de gastos. O plano durou parcos dias, foi pro brejo e junto com ele o Ibovespa. Já o dólar e os juros foram pras alturas, aquela reação mais que previsível do mercado financeiro quando o Brasília indica que vai abrir a torneira de dinheiro sem ter como pagar a conta.

Não que se levasse muita fé na chantagem. Primeiro, o ministro Paulo Guedes disse que, para liberar novos pagamentos a famílias sem renda, seria preciso aprovar a PEC Emergencial, aquela que permite o corte de até 25% em jornadas e salários de servidores públicos, além do congelamento de concursos. O Congresso disse ‘calma lá’, já que esse tipo de Emenda à Constituição é coisa que pega mal e o debate leva tempo; o auxílio é para ontem.

Aí nesta terça (9) a equipe econômica tirou da cartola quem? Ela mesmo, a CPMF, a maior ideia fixa de Paulo Guedes. O Estadão noticiou a eventual criação de um imposto temporário para pagar o auxílio emergencial. Poderia ser — quem sabe? vai que cola — a CPMF. Afinal, ela era provisória quando foi criada, perfeita… para quem não tem memória e não lembra que o imposto do cheque foi provisório por DEZ anos.

Você, eu, o Congresso e até o Paulo Guedes desconfiávamos que nada disso sairia do papel. Mas o auxílio, esse tem que cair na conta das pessoas para já.

Quem disse? Bolsonaro disse. No final da tarde de segunda (8), ele deu um duplo twist carpado e foi do “não tem dinheiro” a “precisamos liberar rapidamente”. A pressa veio da Faria Lima, quem diria. É que, horas antes, a XP tinha soltado mais uma pesquisa apontando o derretimento da popularidade do presidente após o fim dos pagamentos.

Se a urgência é do presidente, danem-se as reformas. Segundo o jornal Valor Econômico, agora o time de Guedes e o Congresso negociam a reedição da PEC Orçamento de Guerra, porque assim pelo menos o governo não é responsabilizado por descumprir a meta fiscal.

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No ano passado, o resultado do Orçamento de Guerra foi um rombo de R$ 743,1 bilhões nas contas públicas, o maior da história. 

Até esse buraco a Faria Lima tinha engolido (em seco), afinal o coronavírus estava se alastrando e era preciso socorrer a economia. Mas, para esse ano, a pressão é para que o dinheiro seja remanejado, evitando um aumento de despesas. Não parece estar funcionando.

Faz só uma semaninha, investidores contavam com os novos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, para conter novos gastos e aprovar reformas. Eles acreditaram na seguinte história: como os dois são de partidos do centrão e foram apoiados por Bolsonaro, que interferiu diretamente nas eleições do Congresso, então todos rezariam pela mesma agenda de reformas. 

Não aconteceu, claro. Hoje o Ibovespa caiu 0,19%, a 119.471 pontos. O dólar chegou a bater em R$ 5,45 e só desacelerou porque o Banco Central colocou US$ 1 bilhão em contratos de dólar para conter a alta, em uma operação que não ocorria desde o começo de janeiro. No total, o BC leiloou 20 mil contratos de dólar, a maior oferta dos últimos nove meses. Em outro sintoma de que a coisa não pegou bem, os juros futuros subiram. O contrato DI para janeiro de 2025, por exemplo, avançou de 6, 38% para 6,47%. 

Acho que a Faria Lima tá um tanto millennial e esqueceu do que diria a nossa avó: quando a esmola é muita, o santo desconfia. 

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Maiores altas 

Sabesp: 7,09%

CSN: 2,42%

Ultrapar: 2,22%

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BB Seguros: 1,74%

Santander: 1,61%

Maiores baixas

PetroRio: 4,13%

Ezetec: 3,35%

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JHSF: 3,03%

Gol: 2,95%

Petrobras: 2,60%

Em NY:

O Dow Jones: estável, aos -0,03%, aos 31.375,69 pontos.

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S&P 500: caiu 0,11%, aos 3.911,29 pontos. 

Nasdaq: subiu 0,14%, aos 14.007,70 pontos. 

Petróleo:

Brent (referência internacional): 1,16%, cotado a US$ 61,26 o barril

WTI (referência nos EUA): +0,67%, cotado a US$ 58,36 o barril

Minério de ferro: +2,24%, cotado US$ 164,10 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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