Bolsonaro joga gasolina (cara) na fogueira inflacionária
Banco Central decide hoje nova alta da Selic, enquanto governo prepara pacote que injeta dinheiro na economia. Para coroar a Super-Quarta, Fed sobe juros nos EUA. Entenda o que está em jogo.
Bom dia!
Chegou a Super-Quarta, aquele alinhamento astrológico de reuniões de bancos centrais. Hoje, o Fed, o BC dos EUA, deve tirar a taxa de juros americana da lona em que foi jogada há dois anos. E o nosso Banco Central decide no final do dia qual deve ser a nossa nova Selic, que já supera os dois dígitos.
Os dois bancos centrais estão preocupados com o mesmo problema: a disparada da inflação. Nos EUA, ela é a maior em quatro décadas: pesados 7,9%. A alta de preços é explicada pelo caminhão de dinheiro que o próprio Fed jogou na economia, no esforço de evitar que ela morresse de inanição quando as atividades foram paralisadas pelo coronavírus.
Só que isso faz dois anos. Desde então, o desemprego no país caiu a 3,8%, os salários sobem, e o PIB dos EUA avança 6,9% (na taxa anualizada). Na economia, é como se o coronavírus já tivesse sido enviado para os livros de história (ainda que o novo surto de Covid na China esteja aí para mostrar que não é bem assim).
E aí, nessa queda de braço que é o mercado financeiro, investidores afirmam que o Fed demorou a agir – isso enquanto curtiam a vida adoidado em ações arriscadas e criptomoedas.
Agora o baque vem. As apostas são de que o Fed começará aos poucos, elevando a taxa em 0,25 ponto percentual. Isso levaria a Selic deles para a banda de 0,50% ao ano. É dose homeopática, tanto que os futuros das bolsas americanas abriram as janelas dando bom dia para o sol. O anúncio sai às 15h.
Trata-se de um Fed bastante conservador, dado o potencial estrago que uma guerra pode causar nas economias globais. Vide o preço do petróleo. O barril pode ter caído das máximas de US$ 130/ US$ 140 da semana passada, mas US$ 100 ainda é caro o bastante para machucar bolsos mundo afora. Isso sem falar no impacto que a guerra causará na produção de alimentos, já que boa parte da produção mundial de trigo e outros cereais vêm da Rússia e da Ucrânia, além dos fertilizantes para as nossas lavouras.
Apertar o torniquete dos juros para resolver uma falta de oferta não salva a economia da inflação. Mata de fome. Mas deixar o dinheiro correndo solto tem o mesmo efeito. As coisas ficam tão caras que ninguém mais consegue pagar.
E nisso chegamos ao Brasil. Por aqui, depois de três altas consecutivas de 1,5 ponto percentual, agora o BC promete desacelerar o ritmo de aumento de juros. As apostas são de elevação de 1 ponto, o que levaria a Selic a 11,75% ao ano. É a maior desde 2017.
Naquela época, o juro estava na metade do processo de queda, isso depois da paulada de 14,25% para tentar baixar a inflação de dois dígitos. Aqui, ainda estamos no processo de subida, e não há sinais de que a inflação esteja desacelerando. O IPCA está em 10,54% em 12 meses, com altas disseminadas por todos os segmentos. O reajuste de combustíveis da Petrobras coloca mais lenha nessa fogueira.
Parece pouco? O governo de Jair Bolsonaro vai trocar lenha por gasolina, aumentando o tamanho das labaredas. Nesta semana, ele deve anunciar a antecipação do 13º para aposentados do INSS, a liberação de saque de R$ 1 mil do FGTS e ainda medidas de estímulo ao crédito.
São atos obviamente eleitoreiros, que acenam à população que não consegue mais fechar as contas no fim do mês com a disparada da inflação. Só que trata-se de um efeito placebo.
Na vida real, é mais dinheiro circulando em um cenário de escassez de produtos, o que tende a deixar tudo mais caro. Isso sem falar que atenua o efeito da alta de juros do BC. É como se o Banco Central fechasse a torneira d’água, e o governo Bolsonaro fizesse um furo no cano.
Quem vai secar a molhadeira vai ser o dinheiro que tiver sobrado na sua conta bancária. Boa quarta.
Futuros S&P 500: 1,28%
Futuros Nasdaq: 1,89%
Futuros Dow: 1,12%
*às 7h55
Índice europeu (EuroStoxx 50): 3,56%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 1,10%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 3,16%
Bolsa de Paris (CAC): 3,41%
*às 7h54
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 4,32%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,64%
Hong Kong (Hang Seng): 9,08%
Brent: -0,19%, a US$ 99,72*
*às 7h53
15h30 – Fed divulga sua decisão sobre a política monetária americana. Em seguida, o presidente da instituição, Jerome Powell, concede entrevista coletiva.
18h30 – O Banco Central anuncia a decisão para a política monetária brasileira.
Alguém pediu mais chips?
A americana Intel anunciou um plano de investimentos de US$ 87 bilhões para produzir chips na Europa. Segundo o comunicado, a companhia vai construir uma megafábrica na Alemanha, um centro de pesquisa e desenvolvimento na França e ainda vai realizar investimentos em outros países do continente. O objetivo é criar, em dez anos, o que a empresa chamou de “ecossistema europeu de microchips”. As ações da companhia, negociadas na Nasdaq, subiram 0,92% ontem.
Além da indústria, que vem passando um sufoco há dois anos por causa da falta de semicondutores, quem comemorou foi a União Europeia. É que hoje a produção é dominada pelos asiáticos – a maior fabricante do mundo, a TSMC, está sediada em Taiwan. E os europeus têm a ambição de, ao menos, equilibrar a oferta destes produtos na cadeia de suprimentos.
Menos petróleo, mais desespero
A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) disse em relatório divulgado nesta quarta que a Rússia pode cortar em um quarto a sua produção no próximo mês. Seriam 3 milhões de barris a menos por dia. A queda seria resultado dos boicotes de uma série de nações às importações vindas do país de Vladimir Putin – todas adotadas após o início da guerra na Ucrânia.
De acordo com o documento, os países terão que enxugar seus estoques de emergência. Em março, a IEA já anunciou a liberação de 60 milhões de barris, em uma iniciativa liderada pelos Estados Unidos.
Enquanto isso, a Opep+, liderada pela Arábia Saudita, se recusa a aumentar a oferta de petróleo. O cartel dos exportadores da commodity segura as vendas desde antes da guerra, mas o fato é que os sauditas também têm boa relação com Putin.
Emenda pior que o soneto
Em um evento para o agronegócio, Paulo Guedes disse que o Brasil está preparado para a Segunda Guerra Mundial. Imagina-se que de duas, uma: ou faltou às aulas de história, ou se perdeu nas contas. Só que não. Segundo a explicação do próprio ministro, ele não se referia ao conflito ocorrido entre 1939-1945. “Deu uma guerra, que foi essa pandemia, guerra sanitária mundial. Agora tem uma segunda. Ucrânia, Rússia”. Leia na Folha.
Fim da linha para um clássico
Os copos brancos da Starbucks, com o logo em verde e o nome do cliente escrito à caneta, são um clássico. E uma montanha de lixo ao mesmo tempo. Agora, a Starbucks planeja eliminá-los e adotar alternativas mais sustentáveis. O cliente poderá usar o próprio copo ou pegar um emprestado da cafeteria. Leia na CNN (em inglês).