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Bolsonaristas convocam novos protestos para hoje. O mercado continuará blasé?

Enquanto as autoridades se desdobram para evitar mais violência – e para investigar as ações das centenas de vândalos detidos –, os futuros de Nova York, o barril e o minério amanhecem todos em alta, e dão insumos para mais um dia bom na Faria Lima. 

Por Bruno Vaiano e Camila Barros
Atualizado em 11 jan 2023, 16h27 - Publicado em 11 jan 2023, 08h36

Se o mercado gostou da reação firme dos Três Poderes aos ataques bolsonaristas – e aparentemente gostou muito, já que nem as torres de transmissão de energia elétrica provavelmente derrubadas pelos golpistas fizeram cócegas no Ibovespa ontem –, então o pregão de hoje será uma lua-de-mel: a Advocacia-Geral da União (AGU) acionou o STF ontem à noite para conter uma nova onda protestos convocada em grupos de Telegram. Os atos ocorreriam hoje, em todas as capitais. A Guarda Presidencial e a Polícia do Exército vão guardar o Planalto.

Enquanto isso, as autoridades tentam lidar com a destruição de provas. Veículos de imprensa, cidadãos comuns e o Ministério da Justiça formaram um mutirão online para tirar prints, salvar vídeos e identificar os golpistas enquanto eles correm para excluir seus posts e perfis – repletos de provas que criaram contra si mesmos no domingo, ao fazerem uploads orgulhosos dos atos de vandalismo. Para piorar, as próprias redes sociais apagam conteúdos com notícias falsas ou incitação ao ódio (o que rola com a melhor das intenções, mas, neste caso, acaba destruindo evidências). 

Ou seja: ainda que a Faria Lima entenda a manutenção da democracia e das instituições como líquida e certa no longo prazo – e as ações firmes de Lula e Alexandre de Moraes mostram disposição em defendê-las –, não faltam riscos em curto prazo. Há uma ameaça real de mais ataques terroristas à infraestrutura do país, bem como incerteza em torno da capacidade de identificar e punir os vândalos. A ver se os investidores vão continuar seu show enquanto o circo pega fogo.  

Enquanto isso, na Economia

A carta aberta do Banco Central ao Ministério da Fazenda – uma walk of shame em que Campos Neto justifica o estouro na meta de inflação deste ano e explica o que fará para evitá-lo no ano seguinte – saiu depois do fim do pregão e deve fazer preço hoje. O IPCA de janeiro veio em 5,79% nos últimos doze meses, acima do limite superior de 5%. 

O dirigente explicou que a inércia do ano passado (o índice fechou em 10,06% em 2021, turbinado pelos auxílios distribuídos durante a pandemia e a retomada econômica posterior) e a alta nos preços das commodities devido à invasão da Ucrânia, no começo do ano, dificultaram o trabalho do BC. Disse ainda que, de sua parte, não descarta novas altas na Selic caso a alta nos preços não dê sinais de descanso. 

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Para 2023, a autarquia acredita que a inflação seguirá em trajetória de queda e terminará o ano em um patamar inferior ao de 2022. A estimativa é que o IPCA feche a 5% no final do ano – a meta é de 3,25%, com teto de 4,75%. 

Já sabendo que, de novo, não deve cumprir com sua única tarefa, o BC já se vacinou e cutucou o novo governo. Neto comentou “a elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos”. Traduzindo para o português claro, “se vocês injetarem dinheiro demais na economia ano que vem, aí é que eu não consigo trabalhar mesmo”.

Mas ele colocou um problema concreto na lista. Segundo o BC, a inflação continuará acima da meta porque a tributação federal sobre os combustíveis deve voltar. Em 2022, a desoneração dos combustíveis ajudou a controlar artificialmente a alta na inflação. 

O minério de ferro amanheceu em alta nas bolsas asiáticas de Dalian (1,62%, a US$ 121,60 a tonelada) e Singapura (1,33%, a US$ 125,15 a tonelada). O gás recente no preço das commodities, puxado pela esperança de reaquecimento econômico da China com o fim dos lockdowns, tem feito bem para a Vale: o papel VALE3 subiu 39,3% desde novembro, quando Xi Jinping falou em reabertura pela primeira vez. 

Em Nova York, os futuros também abriram em alta, felizes com a retomada da China, as bolsas em alta na Europa e, principalmente, com os próprios EUA: o CPI (que é o IPCA deles) sai amanhã, e os dados devem mostrar que a inflação está cada vez mais sob a rédea curta do Fed. Isso permitiria que o comitê de política monetária deles (o Fomc) aprovasse uma alta light nos juros em sua próxima reunião, de 0,5 ponto percentual ou até 0,25%, para os mais otimistas. 

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O Brent também amanheceu subindo 0,49% a US$ 80,48 – um oferecimento de novas sanções prometidas por Biden contra as exportações de petróleo russas –, o que é bom para as nossas petroleiras e para o Ibovespa como um todo. 

Ou seja: tudo errado, mas tudo bem. Enquanto os faxineiros limpam vidraças em Brasília, todos os números mostram que um dia bom amanhece atrás dos vidros da Faria Lima.

humorômetro: o dia começou com tendência de alta
(VCSA/Você S/A)

Futuros S&P 500: 0,15%

Futuros Nasdaq: 0,06%

Futuros Dow: 0,14%

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*às 8h19

market facts

Microsoft quer ser amiga do bot escritor ChatGTP

O ChatGTP é uma inteligência artificial das mais inteligentes, que mapeou e digeriu um naco considerável de todo conteúdo publicado na internet – e, agora, é capaz de escrever um texto instantâneo, legível e quase sempre correto sobre qualquer assunto. Ele está aberto ao público, e acumulou 1 milhão de usuários em uma semana. Você pode acessá-lo aqui (a equipe da Você S/A está se divertindo: pedimos para o robozinho escrever uma canção de Bob Dylan sobre buracos negros e as rimas vieram excelentes). 

Duas fontes anônimas disseram à Bloomberg que a Microsoft planeja um aporte de US$ 10 bilhões na OpenAI – a criadora do ChatGTP, que fica em São Francisco e foi avaliada em US$ 29 bilhões. O acordo, originalmente, estava programado para o final do ano passado, mas atrasou. Com a manobra, a empresa de Gates tenta bater de frente com o Google no campo da inteligência artificial. Leia mais no Valor.

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Agenda

Brasil, 9h: IBGE divulga dado de vendas no varejo de novembro, a previsão é de queda de 0,3%.

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,91%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,51%

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Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,93%

Bolsa de Paris (CAC): 0,79%

*às 8h18 

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,19%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,03%

Hong Kong (Hang Seng): 0,49%

Commodities

Brent: 0,49% a US$ 80,48 o barril

*às 7h03

Minério de ferro: 1,62%, a US$ 122,60 a tonelada, na bolsa de Dalian

Vale a pena ler:

De mala e cuia

O Japão vai dar o equivalente a R$ 40 mil por criança para famílias que toparem deixar Tóquio para morar em regiões menos povoadas do país. A ação faz parte de uma política que tenta equilibrar a densidade populacional japonesa: enquanto a capital não para de receber gente, outras cidades têm milhares de casas abandonadas por falta de quem queira morar. Essa disparidade pressiona para cima os preços da megalópole, que já tem aluguéis entre os mais caros do mundo. Ao mesmo tempo, as pequenas cidades ficam sem força de trabalho e consumidores. Esta reportagem do Financial Times, traduzida pela Folha, explica o caso. 

A não-tão-stable coin da Binance

A Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, tem uma stablecoin chamada Binance-peg BUSD. Para manter seu valor fixo em US$ 1, a moeda é lastreada em outra stablecoin – a BUSD, emitida e gerenciada Paxos Trust, outra corretora de cripto. O problema é que, em três ocasiões entre 2020 e 2021 a Binance-peg BUSD perdeu o seu lastro em BUSD. Isso significa que, naquelas horas, ela era só coin. Sem o stable. A Binance afirma que o problema já foi resolvido, a Bloomberg conta essa história aqui.

Nota: o texto foi modificado para incluir a posição da Binance.

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