Bolsas começam o dia em alta. Excesso de otimismo?
Analistas esperam que as altas nos juros americanos desacelerem no segundo semestre. Entenda porque isso faz pouco sentido. Mais: minério de ferro fecha em alta de 2,58% na Ásia.

Depois de uma ligeira queda ontem (-0,13%), as bolsas americanas ensaiam uma recuperação robusta nesta manhã: alta de 0,56% nos contratos futuros do S&P 500 e de 0,86% nos da Nasdaq.
A alta vem na esteira da habilidade de Jerome Powell em jamais sair do óbvio em suas declarações. Ontem ele prestou contas ao Senado americano sobre o aumento das taxas de juros nos EUA – que podem levar a uma recessão global, o grande medo do mercado neste fim de semestre. Essas audiências são uma tradição por lá, e terão mais uma sessão nesta quinta.
Powell disse que “não é nossa intenção [criar uma recessão], mas que esta é certamente uma possibilidade”. E que “será muito desafiador” baixar a inflação dos atuais 8,6% para a meta do Fed, de 2%. Se ele estivesse diante de uma plateia do jardim de infância, provavelmente diria o mesmo. E esta não é uma crítica: quanto menos surpreendente uma declaração do presidente do Fed, melhor.
Agora é ver os dados da economia real: hoje sai o número de pedidos de seguro desemprego da semana passada, que, claro, serve de termômetro para o índice de desemprego – e dá uma ideia sobre a tendência de recessão já começou ou não. Analistas esperam que não. A previsão é que o número fique no patamar da última semana, em 227 mil novos pedidos.
O mercado americano espera que as altas nos juros por lá desacelerem em setembro. Economistas consultados pela Reuters apontam que em julho deve vir mais uma alta de 0,75 ponto percentual, elevando a “Selic” deles a 2,50%. Em setembro, a aceleração baixaria para 0,50 pp, e em novembro, para 0,25%. Entre nós: haja otimismo. Os EUA já enfrentaram taxas de inflação bem mais amenas com taxas bem maiores – 5,25% em 2006, por exemplo.
Por aqui, a ideia do governo de aumentar o “vale diesel” para R$ 1 mil (versus R$ 400 da proposta inicial) acende de novo a sirene sobre as contas públicas. O governo já deve gastar perto de US$ 50 bilhões para subsidiar o corte do ICMS sobre os combustíveis. O aumento extra do voucher, direcionado a caminhoneiros autônomos, deve aumentar o buraco em R$ 4 bilhões.
Com as contas públicas sob ameaça, os juros futuros sobem. E quando isso acontece, os títulos do Tesouro passam a pagar mais. O IPCA+2035, por exemplo, foi a 5,76% (+inflação). Na semana passada, estava em 5,67%. Ou seja: a renda fixa fica ainda mais
atrativa, a pressão de baixa sobre o Ibovespa aumenta, e a gente vai levando.
Por outro lado, boas notícias lá do oriente: o minério de ferro à vista fechou em alta de 2,58% em Singapura. Nos contratos futuros, a alta foi ainda maior: 6,84%. Nada mal para a Vale e as siderúrgicas.
Bons negócios.

Futuros S&P 500: 0,56%
Futuros Nasdaq: 0,86%
Futuros Dow: 0,33%
*às 7h53
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,24%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,21%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,40%
Bolsa de Paris (CAC): 0,43%
*às 8h31
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,72%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,08%
Hong Kong (Hang Seng): 1,26%
Brent: -0,08%, a US$ 111,65
Minério de ferro: 2,58%, a US$ 130 por tonelada, em Singapura.
9h30 Número de pedidos de seguro desemprego nos EUA na semana passada. Expectatva é de estabilidade
10h30 Receita federal divulga a arrecadação de maio
Musk à beira de um ataque de nervos
Mais uma declaração apocalíptica de Elon Musk. Desta vez, ele disse que as novas fábricas da Tesla na Alemanha e no Texas são enormes fornalhas de dinheiro. Por causa da escassez de baterias e problemas portuários na China, as fábricas estariam perdendo bilhões de dólares enquanto lutam para aumentar a produção.
De acordo com Musk, a grande preocupação é descobrir como manter as fábricas operando para pagar os funcionários sem falir a empresa. As declarações foram feitas em uma entrevista com os proprietários da Tesla Silicon Valley em 31 de maio (e publicadas ontem).
Autônomos
19,7 milhões de brasileiros sobreviviam de bicos durante o terceiro trimestre de 2021. Classificados como “informais de subsistência”, esses trabalhadores têm renda de até dois salários mínimos. É o que mostra uma pesquisa feita pela B3 Social e a Fundação Arymax, em parceria com o Instituto Veredas. Você pode consultar outros números do estudo nesta reportagem da Folha.
O sufoco das techs
O setor de tecnologia dos EUA não para de cair. O Nasdaq Composite (índice que concentra boa parte das empresas de tecnologia listadas nos EUA) caiu 30,19% no acumulado do ano. Muito mais que os outros dois índices principais de Wall Street: o S&P 500 caiu 21,61%, e o Dow Jones 16,68%.
Nesta reportagem em vídeo, o Wall Street Journal mostra que os motivos vão além da alta nos juros. Primeiro, as empresas estão menos dispostas a gastar com publicidade. Tem também as novas regras de privacidade da Apple, que deixaram mais complicado acessar a mina de ouro das Big Techs – o comportamento online dos usuários.