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Bolsas começam a semana entre bombardeios e reuniões, mas no azul

Otimismo contrasta com os desafios da semana: lockdown na China, avanço da guerra e ainda a primeira alta de juros nos EUA em dois anos.

Por Tássia Kastner
14 mar 2022, 08h04

Quando você nada em um mar agitado, é inevitável que acabe engolindo um pouco d’água. O tempo sem levar um caldinho depende, no fim, da capacidade de prever a formação das ondas. O problema é que, em se tratando de mercado financeiro, essa capacidade de antecipar a formação de ondas está particularmente difícil.

A segunda começa com a notícia de que a China colocou em lockdown a região de Shenzhen após um surto de casos de coronavírus. Shenzhen é um importante polo tecnológico da China (lá há uma Foxconn, que produz componentes para a Apple, por exemplo), e ainda uma região portuária. O resto você já sabe: a medida tem tudo para desacelerar a economia, interromper a produção de bens e gerar mais um choque de alta de preços. A previsão é que o isolamento dure uma semana, o que foi suficiente para analistas colocarem em xeque a capacidade do país bater sua meta de crescimento neste ano. O alvo é de 5,5%, abaixo dos mais de 6% dos últimos anos.

Isso depois de empresas tech asiáticas terem voltado à berlinda. O regime chinês continua de marcação cerrada com a Uber local, a Didi, alegando uso de dados sem consentimento. Além disso, as empresas chinesas têm uma ligação mais simbiótica com a Rússia, sob todo tipo de ameaça de embargo. O resultado foi um dia negativo para as bolsas asiáticas.

O combo China-Rússia deve continuar no radar ao longo do dia. Os Estados Unidos  afirmaram que o governo de Vladimir Putin pediu aos chineses reforços de armas, o que o governo chinês nega. Os russos continuam a bombardear a Ucrânia e chegam perigosamente perto da Polônia.

A única notícia positiva do dia é o encontro entre Rússia e Ucrânia, que alimenta a expectativa de algum caminho para o fim do conflito. Por enquanto, trata-se só de uma luz no fim do túnel, não de algo concreto. Falando em encontro, Estados Unidos e China terão uma reunião para discutir o tema Rússia.

Nesse emaranhado, investidores se posicionam para um dia positivo nos Estados Unidos. Os principais índices das bolsas europeias também sobem (veja abaixo).

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Parece fácil continuar nadando. O problema é que mais ondas se formam nesse mar. Na quarta, o Fed (o BC americano) deve promover o primeiro aumento de taxa desde o início da pandemia, em uma medida para conter a inflação, que é a maior em 40 anos.

Mesmo com o dado alarmante, investidores apostam em um Fed bondoso. A inflação que vinha subindo sistematicamente ganhou combustível adicional – literalmente. A alta do petróleo deve levar a novas rodadas de aumento nos preços de gasolina, diesel, gás e tudo que faz a economia girar. E com um problema adicional: juros altos, nesse caso, só funcionam porque matam a economia de inanição. Daí a explicação para o viés mais tranquilo para a alta de juros na semana.

Por aqui, o BC decide também na quarta em quanto será preciso subir a Selic para fazer frente à nossa inflação de dois dígitos. As apostas do mercado estão em alta de 1 ponto percentual, o que levaria a Selic a 11,75%. 

Por fim, vale lembrar que a partir de hoje a bolsa brasileira volta a fechar às 17h. Uma hora a menos para a formação de tormentas. Boa semana.

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humorômetro: o dia começou com tendência de alta

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Futuros S&P 500: 0,93%

Futuros Nasdaq: 0,69%

Futuros Dow: 1,05%

*às 7h51

Europa

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Índice europeu (EuroStoxx 50): 2,24%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,39%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 3,02%

Bolsa de Paris (CAC): 1,86%

*às 7h48

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Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -3,06%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): +0,58%

Hong Kong (Hang Seng): -4,97%

Commodities

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Brent: -3,87%, a US$ 108,31*

*às 7h48

Agenda
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Dia de agenda esvaziada.

market facts

Gente grande

O Banco Central deu o primeiro passo para tratar de igual para igual grandes bancos e fintechs. Os bancões vinham reclamando que as fintechs cresceram, mas ainda eram tratadas como pequenas. As regras mais brandas daria uma vantagem competitiva às novatas, como Nubank, PagSeguro e Mercado Pago, por exemplo.

Essas empresas começaram como “instituições de pagamentos”, empresas que oferecem uma conta simples e um cartão. Aí as exigências do BC para a operação eram praticamente nulas. Acontece que, desde então, essas fintechs anexaram ao negócio uma série de outros serviços financeiros, inclusive crédito, que é a principal fonte de receita de um banco de verdade. 

Para dar crédito, bancos precisam ter um dinheiro mínimo “parado” para cobrir eventuais ondas de calote. São as chamadas regras de Basileia, aplicadas no mundo todo. 

Agora, o BC decidiu que as fintechs que dão crédito também vão precisar seguir essas regras. A medida deixa menos dinheiro “livre” para investir. O resultado da decisão foi uma queda de 7% das ações do Nubank em Nova York. Desde o IPO, os papéis caem 27%.

A casa caiu

As ações da construtora Tenda tombaram 25% na sexta-feira. Na véspera, a companhia divulgou ter estourado seu orçamento em R$ 350 milhões no quarto trimestre de 2021. O buraco foi causado pelo aumento nos custos de materiais de construção. Segundo cálculo do Estadão/Broadcast, o rombo equivale a 20% do valor de mercado da companhia. O setor de construção civil deslanchou na pandemia, uma cortesia dos juros baixíssimos. Ainda assim, havia quem estivesse alertando para o risco de a conta não fechar, justamente por causa da disparada de preços. Agora, o mercado financeiro quer saber se outras construtoras estão em dificuldades semelhantes. 

Vale a pena ler:

Não é mi-mi-mi

​​Burnout não é uma doença, e também não é mi-mi-mi. Trata-se de uma síndrome e tem diversas causas. Na reportagem de capa da VC S/A de março, destrinchamos o que causa a exaustão pelo trabalho. E, atenção, não é só excesso de trabalho: falta de reconhecimento, criatividade tolhida e mau relacionamento com os colegas também podem engatilhar uma síndrome de estresse crônico. Aqui.

Aprendizado

Há dois anos o mundo repete que faltam semicondutores para a produção de qualquer tipo de aparelho eletrônico no mundo. A guerra Rússia-Ucrânia tinha tudo para repetir a crise pelo terceiro ano, já que a região é uma das principais fornecedoras de matérias-primas para essa indústria. Mas tudo indica que desse problema mundo escapou. O The Wall Street Journal conta que produtores aumentaram seus estoques e encontraram novos fornecedores, isso tudo para evitar o trauma Covid. Agora, estariam mais bem preparados para atravessar a nova crise. Aqui.

Temporada de balanços

Direcional e EcoRodovias divulgam resultados após o fechamento do mercado

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