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Apple sem brilho e inflação americana derrubam Wall Street

Por aqui, a Vale padece com a queda do minério, e a Petrobras vive ameaça de intervenção. Não tinha milagre capaz de manter o Ibovespa no positivo.

Por Tássia Kastner, Alexandre Versignassi
14 set 2021, 18h23

A Apple anunciou hoje sua nova linha de iPhones e ainda atualizou seus iPads e relógios. Nada emocionante, já pedindo desculpas aos fãs da maçã. É que investidores também não ficaram impressionados, e as ações da companhia caíram quase 1%, pesando sobre as bolsas americanas.

A Apple é a maior companhia em valor de mercado (US$ 2,448 trilhões) e tem o maior peso no S&P 500 (uns 5%). No índice de tecnologia Nasdaq, pouco mais de 10%. E, claro, está sempre entre as BDRs mais negociadas. 

Já era esperado um evento sem grandes emoções tecnológicas, isso considerando as informações sobre os aparelhos que vinham sendo vazadas pela imprensa especializada. 

Mas o fato é que esse foi um dos lançamentos mais sem brilho da já longa história do iPhone. A Apple estreou um novo chip, mais econômico (2,5 horas a mais de bateria no aparelho padrão, o iPhone 13. E a grande novidade foi um recurso de vídeo chamado de “modo cinema”, que muda automaticamente o foco durante uma gravação (tem seu charme, mas é só um brinquedo – as mudanças bruscas de foco em nada lembram um filme de fato, só mostram uma inteligência artificial empolgada com a ideia de ficar borrando e desborrando partes da tela). 

Para o alívio dos entusiastas da Apple, a grade de preços (nos EUA) não sofreu alterações: sai de US$ 699 (o iPhone 13 mini) a US$ 1.099 (o Pro Max). O problema é que os custos de produção de eletrônicos (de tudo, mas vamos focar) saltaram do ano passado para cá, quando, o coronavírus quebrou as cadeias de fornecimento de componentes do setor. Aí que a Apple segurar o preço pode significar que ela terá margens menores daqui para frente. 

Aos olhos de investidores, a Apple vem atravessando uma fase turbulenta. Ontem, ela lançou uma atualização para seu sistema operacional tentando fechar a porta de entrada de um software que permitia a invasão de iPhones sem que o usuário precisasse cometer qualquer deslize de segurança.

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Além disso, na semana passada a companhia foi condenada a abrir o sistema de pagamentos dentro da App Store, resultado de uma batalha judicial aberta pela Epic Games, dona do jogo Fortnite.

Entre a falta de emoção no evento e as pequenas agruras da companhia, os papéis recuaram 0,96% em Nova York. 

Inflação

Não que o dia lá nos EUA tivesse começado exatamente bem. Antes da abertura do mercado, saiu a inflação de agosto dos Estados Unidos. O índice de preços avançou 0,3% na comparação com julho, a menor alta em sete meses. Em 12 meses, o avanço é de 5,2% – como comparação, no Brasil estamos em 9,68%.

Os dados ficaram abaixo da expectativa do mercado financeiro (a Bloomberg havia colhido projeções de 0,4% no mês e 5,3% na variação anual). Em vez de trazer um alento, porém, o número acabou lido com ceticismo.

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É que o dado abaixo do esperado, ainda que muito marginalmente, faz investidores se perguntarem se o impacto da variante delta sobre a maior economia do mundo já não é maior do que eles vinham projetando. Inflação, afinal, não é sempre sinônimo de desgraça. Quando ela baixa bruscamente pode ser sinal de desaceleração econômica – gente comprando menos.

Sim: o mercado é esquizofrênico.

Mas não é maluco. 

É que ainda não ficou claro como é que o Fed vai interpretar isso. Se o banco central dos EUA achar que a economia precisa de mais uma força, beleza: vai continuar jogando US$ 125 bilhões na economia todo mês. Se achar que não, que a economia já tem fôlego para caminhar com as próprias pernas, vai fechar a torneira – tudo o que o mercado não quer. 

Em suma, o suspense continua. Enquanto isso, os índices de lá vão perdendo musculatura: queda de 0,57% no S&P 500 e de 0,45% no Nasdaq.

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Ibov e economia em alerta

Enquanto os EUA pensavam sobre a inflação, investidores brasileiros tentaram firmar o Ibovespa mais uma vez no positivo. Não deu. O índice terminou o dia em baixa de 0,19%, a 116.180 pontos.  É que quando Vale e Petrobras vão para o vermelho, fica difícil mesmo segurar a bolsa no azul. Juntas elas respondem por quase 25% do índice. 

A Vale vem sofrendo com a queda brutal no preço do minério de ferro desde que a China decidiu cortar na marra a produção de aço do país, limitando a demanda pela matéria-prima. Só no acumulado de setembro, a commodity desvalorizou 20% e agora é negociada no patamar de US$ 120 por tonelada – em maio, estava no recorde de US$ 230. Nisso, a Vale tem acompanhado a baixa, ainda que com menos força. A queda de hoje foi de 0,71% (no mês, ronda -5%).

Já a Petrobras (-1,33% na PETR4) sofre com as ameaças de intervenção do governo sobre os preços dos combustíveis. Até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, decidiu palpitar sobre a companhia. Em um evento do BTG Pactual, disse que a companhia reajusta combustíveis “muito mais rápido do que a grande parte dos outros países” – sem apresentar evidências, claro.

Já faz um tempo que a política de reajuste dos combustíveis para acompanhar a cotação do petróleo no mercado internacional deixou de ser diária. O lance é que, com a disparada de preços lá fora, qualquer reajuste passou a ser mal visto, não importa se ele ocorre no mesmo dia, em um mês ou três meses. A conta chega igual. E se o minério foi ladeira abaixo, o petróleo não para de subir (hoje foi mais 0,45% de alta no brent), o que complica a situação.

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Tanto que a Câmara dos Deputados chamou o presidente da estatal, o general Joaquim Silva e Luna, para explicar os aumentos nos preços. Para aumentar a pressão sobre a companhia, Arthur Lira, o chefe da casa, tuitou reclamando que tudo estava caro e que arrematou: “A Petrobras deve ser lembrada: os brasileiros são seus acionistas.”

Silva e Luna decidiu se alinhar ao chefe Jair Bolsonaro e colocou na conta dos governadores que a gasolina e diesel nas alturas. O gogó não vai ser suficiente, já que terceirizar a responsabilidade não baixa preço. O problema aqui é que gasolina alta significa inflação na lua e popularidade de presidente no buraco. O jeito de baixar combustível é metendo a mão na empresa, e esse filme os investidores já viram de 2012 a 2016. 

Lá naquela época, o objetivo também era evitar a disparada ainda maior da inflação. Só que controle de preços é placebo, remédio para isso é alta de juros. Campos Neto reclama da Petrobras porque se vê às voltas com um aumento ainda maior na Selic para controlar a disparada de preços. A consequência é que o dinheiro fica mais caro, menos gente pede empréstimo e a economia desacelera.

Por sinal, já está acontecendo. O combo de inflação, risco de apagão e crise política fez o Itaú ceifar a sua projeção de crescimento do PIB de 5,7% para 5,3% neste ano. No ano que vem a navalha foi ainda mais brutal: de 1,5% para módicos 0,5%. “. A revisão decorreu principalmente da nossa expectativa de taxa de juros mais elevadas”, disseram os economistas do banco em relatório. Não tem saída fácil para a sinuca que o Brasil se meteu.

Até amanhã. 

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Maiores altas

Méliuz (CASH3): 15,10%

Locaweb (LWSA3): 8,46%

Petz (PETZ3): 4,00%

Cosan (CSAN3): 3,63%  

Braskem (BRKM5): 3,19%

Maiores baixas

BRF (BRFS3): 2,93%

CVC (CVCB3): 2,79%

Dexco (DXCO3): 2,40%

Cielo (CIEL3): 2,39% 

Embraer (EMBR3): 2,38%

​​Ibovespa: +0,19%, a 116.180 pontos

Nova York

S&P 500: -0,57%%, a 4.423 pontos

Nasdaq: -0,45%, a 15.037 pontos

Dow Jones: -0,83%, a 34.578 pontos

Dólar: +0,65%, a R$ 5,25.

Petróleo

Brent: +0,12%, a US$ 73,60

WTI: +0,01%, a US$ 70,46

Minério de ferro

queda de 1,75%, a US$ 121,67 por tonelada no porto de Qingdao (China)

 

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