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Alemanha joga bolsas de novo na depressão – mas com uma pontinha de esperança

País entrará em recessão em 2023 e está na iminência de um apagão de gás. E mesmo assim as ações da Porsche estrearam em Frankfurt no maior IPO europeu em uma década.

Por Tássia Kastner, Camila Barros
Atualizado em 29 set 2022, 08h17 - Publicado em 29 set 2022, 08h13

A Alemanha é uma das responsáveis pelo fim da trégua nas bolsas – apesar de ela ter durado menos de 24 horas. A manhã desta quinta começa com a previsão de que a maior economia da Europa deverá entrar em recessão em 2023.

Não é exatamente uma surpresa, mas agora a estimativa saiu de um órgão alemão, o RWI Institut. Eles falam em queda de 0,4% no PIB. A previsão anterior, de abril, era de alta de 1,3%. 

A recessão tem culpado: Vladimir Putin. A disparada dos preços de energia no país, causada pela guerra na Ucrânia afetou toda a indústria. É preciso economizar gás – e mesmo que não houvesse um programa de redução de consumo, as empresas cortariam a demanda de uma maneira ou outra. Os preços atuais tornam muitas operações inviáveis. O RWI também espera que a inflação alemã ficará em pesados 8,8% no próximo ano, ainda sob o impacto dos preços de energia. Hoje, o governo divulga a prévia da inflação oficial de setembro. Os preços rondam os 9% em 12 meses, sem sinal de alívio.

Essas estimativas saem justamente na semana em que o problema do gás ganhou um agravante. Se antes Putin estava fechando aos poucos as torneiras dos gasodutos, agora o drama é maior: existem quatro rompimentos nos dutos que ligam os dois países, e uma troca de acusações que envolve sabotagem russa e americana.

Enquanto isso, o gás continua borbulhando no mar Báltico. Uma avaliação dos estragos só será possível assim que as tubulações tenham se esvaziado. Para os alemães, uma coisa é certa. A situação de abastecimento do país, que já era dramática, ficou ainda pior.

Putin vinha jogando com o racionamento alemão, mas algum combustível ainda estava fluindo e ajudando a abastecer o país. Com a paralisação, o regulador de abastecimento da Alemanha afirmou que seria preciso reduzir o consumo em mais 20% para evitar apagões.

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Isso que a temporada de aquecimento das casas nem começou oficialmente. Por regulação, os locatários são obrigados a manter os sistemas de aquecimento funcionando apenas entre 1º de outubro e 30 de abril de cada ano. Os termômetros marcando mínimas de 6ºC em Berlim não comoveram os landlords alemães – ainda que, claro, algumas casas já estejam aquecidas.

No meio desse caos, chega a ser quase irônico que a própria Alemanha seja protagonista do maior IPO em uma década no continente. A Volkswagen decidiu listar a Porsche na Bolsa de Frankfurt, numa operação que avaliou a montadora de carros de luxo em 75 bilhões de euros. As ações começaram o dia em alta e subiam 2,74% por volta das 8h da manhã no Brasil. O DAX, Ibovespa alemão, caía mais de 1%.

O IPO da Porsche é ainda mais impressionante porque a janela de IPOs está virtualmente fechada no mundo. A alta de juros no mundo todo secou o dinheiro disponível para ofertas de ações, e as empresas novas nas bolsas são as que mais sofrem com as baixas no mercado. Via de regra, é difícil atrair novos investidores (ok, se você não for a Porsche 😉 ). Ainda assim, trata-se de uma gota de esperança para quem viu as bolsas se transformarem em um deserto de IPOs no ano.

Ainda na Europa, a primeira-ministra britânica decidiu conceder uma rodada de entrevistas a jornalistas para defender o programa de corte de impostos, apesar de todas as críticas que ele vem recebendo. O anúncio fez a libra afundar e colocou o país numa crise de confiança, parcialmente estancada após o BoE, o Banco Central do país, anunciar intervenção no mercado.

Do outro lado do oceano, os EUA divulgam o PCE de agosto, a medida de inflação mais usada pelo Fed (o BC americano) para decidir seus aumentos de juros. A inflação oficial, o CPI, gerou caos no mercado por ter desacelerado menos que o previsto.

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Os futuros americanos operam em queda. Claro, não é só culpa da Alemanha e tampouco do Reino Unido. O fato é que investidores não têm tido notícias boas de nenhuma parte do mundo, alguma novidade capaz de tirar o clima de recessão global do radar. 

No Brasil, o foco está nas eleições, com poucos respingos na bolsa. Bons negócios.

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Humorômetro - dia com tendência de baixa
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Futuros S&P 500: -0,85%

Futuros Dow: -0,67%

Futuros Nasdaq: -1,20%

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às 8h03

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): -1,21%

Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,90%

Bolsa de Frankfurt (Dax): -1,23%

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Bolsa de Paris (CAC): -1,23%

*às 8h03

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,04%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,95%

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Hong Kong (Hang Seng): -0,49%

Commodities

Brent*: 0,44%, a US$ 89,71

Minério de ferro: 0,81%, a US$ 95,95 em Singapura

*às 8h02

market facts

Pão de Açúcar de volta às origens

Em entrevista ao Valor, Marcelo Pimentel, presidente do GPA, disse que a companhia está buscando restabelecer os consumidores perdidos no segmento “premium” nos últimos anos. Além disso, afirma que tentará acelerar o estabelecimento na categoria de minimercados, que vem crescendo e ganhando competidores. Dos 300 pontos que serão abertos até 2024, 250 serão do tipo Minuto Pão de Açúcar e Mini Extra.

A declaração nem animou nem decepcionou o mercado: as ações PCAR3 terminaram estáveis ontem, a R$ 19,93. No ano, as ações da companhia caem 6,76%. Em um mês, a queda foi de 8,11%.

Vale a pena ler:

Índice Big Mac na alta do dólar

O Índice Big Mac foi criado pela revista The Economist em 1986. Desde então, ele é uma ferramenta para verificar a paridade de poder de compra entre os países. Funciona assim: o único produto vendido em todas as unidades do Mcdonald’s ao redor do mundo é o Big Mac. O sanduíche vem com os mesmos ingredientes, mas tem preços diferentes. Semestralmente, a The Economist compila os valores de dezenas de países e converte para dólar. Com tudo convertido, sabemos que quanto mais barato o Big Mac em uma região, mais fraca está a moeda daquele país. A Bloomberg conta o que o Índice tem mostrado, agora que o dólar alcançou a sua máxima em 20 anos. 

Juros mágicos de Do Kwon 

A criptomoeda do coreano Do Kwon, lastreada num algoritmo engenhoso, dependia de algo bem mais simples para existir: uma pirâmide de Ponzi, com fluxo eterno de novos investidores. Aqui, a Você S/A conta a história do colapso do TerraUSD, stablecoin que não era tão estável assim.

 

Agenda

8h Banco Central divulga relatório trimestral de inflação; às 11h, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falará sobre o documento

8h IGP-M/FGV deve registrar deflação de 0,89% em setembro

9h Alemanha divulga prévia da inflação de setembro

9h30 EUA publicam o Índice de preços de gastos com consumo (PCE)

9h30 EUA anunciam terceira revisão do PIB do segundo trimestre

9h30 EUA divulgam pedidos de auxílio-desemprego da semana até 24/09

10h30 Ministério do Trabalho divulga dados do emprego formal em agosto

14h30 Tesouro: Governo Central deve ter déficit primário de R$ 48,2 bi em agosto

18h Datafolha divulga pesquisa para presidente

22h30 Último debate presidencial do 1º turno na Globo

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