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ADRs de VALE3 caem em NY após queda nas vendas no 1T23

Enquanto a Faria Lima reage às treze alterações no texto final do arcabouço fiscal, entregue ontem ao Congresso, Wall Street lida com o Livro Bege do Fed e os bons resultados da temporada de balanços. 

Por Bruno Vaiano e Camila Barros
19 abr 2023, 08h25

Ontem à noite, após o fim do pregão, a Vale divulgou alguns dados de produção e vendas do 1T23, e os ADRs de suas ações entraram em queda no pré-market da bolsa de Nova York (estavam em cerca de -1% às 6h30 da manhã). 

É que as vendas de pelotas e finos (duas formas de minério de ferro) sofreram uma queda de 43,5% em relação ao trimestre anterior e de 10,6% em um ano. A isso, se soma uma tendência de prazo mais longo: o fim do rali do minério. A commodity está em queda desde 15 de março, após uma alta vertiginosa impulsionada pelo anúncio da reabertura da China, em novembro de 2022. 

Vale reforçar que esse ainda não é o balanço em si – nossa temporada está engatinhando, só duas empresas deixaram para soltar seus números nesta semana morna, com feriado de Tiradentes: as indústrias Romi, que foram na última terça (18), e a Usiminas, nesta quinta (20).

Enquanto isso, você sabe, o novo conjunto de regras fiscais brasileiras finalmente chegou às mãos do Congresso, com treze pequenas exceções de última hora ao limite de gastos. Apesar delas, a notícia deu algum fôlego ao Ibovespa ontem, na reta final do pregão, e tirou nosso índice do vermelho. 

Faz sentido separar a reação da Faria Lima em duas esferas:

A primeira é o desenho do arcabouço de modo mais geral – já que ele valerá para todos os anos a partir de 2024, e precisa demonstrar resistência à passagem do tempo e dos mandatos. Isso é algo que a regra inflexível do teto de gastos não conseguiu: Bolsonaro, sozinho, foi responsável por furá-lo cinco vezes. Entenda neste texto por que o teto era impraticável, e como os melhores exemplos gringos podem iluminar a tentativa atual de consertá-lo.  

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A segunda é a aplicabilidade do arcabouço especificamente ao ano de 2024, seu primeiro ano de vigência, e as maneiras como as regras desenhadas por Haddad, Tebet e companhia vão facilitar ou dificultar a vida deles próprios.

Cumprir as normas e manter os gastos previstos exigiria um aumento de R$ 7,8 bilhões nas receitas ano que vem, algo improvável já que o crescimento anual médio desde 2011 estacionou em uma média de 1%. Por isso, os coletinhos da Wall Street brasileira aguardam o PT anunciar um plano sólido de captação de receitas. Sem ele, os especialistas preveem um déficit de algumas dezenas de bilhões de reais. 

É possível que esse pessimismo com as vacas magras da arrecadação impere hoje, deprimindo a bolsa. A ver. Os dois últimos dias rolaram em compasso de espera na B3, com o volume de negócios estacionado em dois terços do normal e o dia fechando próximo à estabilidade (-0,25% na segunda e 0,14% na terça). No pré-mercado, o ETF do Ibovespa negociado na bolsa de Nova York (EZW) estava em queda de 2% às 6h da manhã. 

Falando em Nova York: hoje é dia de livro bege do Fed – um relatório sobre a situação econômica dos EUA que o BC americano publica oito vezes por ano. O Livro tem importância maiúscula para o humor dos investidores, porque serve de termômetro para as decisões do comitê de política monetária, o Fomc, que vai acontecer entre os dias 2 e 3 de maio. Se o tom da divulgação for hawkish – entenda o termo aqui –, o mercado terá mais motivos para temer uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros. As apostas para esse desfecho estão em 85%, de acordo com a plataforma de monitoramento do CME Group. 

O CPI de março da zona do euro, principal leitura de inflação da União Europeia, saiu hoje às 6h e veio com alta de 6,9% nos últimos doze meses, exatamente como previsto pelos analistas. No Reino Unido, a alta anual foi de 10,1%, contra os 9,8% previstos. Ou seja: nada que seja muito sinônimo de alegria para  Wall Street. 

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Na contramão do pessimismo do Fed e dos dados incômodos da União Europeia, vêm aí os balanços do Morgan Stanley antes da abertura e os da Tesla, Alcoa e IBM após o fechamento. Até agora, a temporada foi exemplar: muitas empresas do S&P 500 que já divulgaram seus números anunciaram resultados inesperadamente bons diante do reboliço no setor bancário em março. Espera-se que os dados das próximas semanas continuem dando motivo para euforia. 

O problema: empresas com desempenhos exemplares também são sinal de que a economia permanece aquecida e propensa à inflação, o que é ainda mais motivo para o Fed considerar a continuidade do ciclo de alta nos juros. No fim, as notícias são complementares – prova disso é que os futuros de Nova York amanheceram em queda. A mão que a afaga é a mesma que apedreja.

Bons negócios! 

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Humorômetro - dia com tendência de baixa
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Futuros S&P 500: -0,51%
Futuros Nasdaq: -0,75%
Futuros Dow: -0,42%

*às 8h06

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market facts

Qual é a do bitcoin

O bitcoin passou cinco dos últimos sete dias acima da casa dos US$ 30 mil, patamar que não cruzava desde junho do ano passado. A rainha das criptos tem se beneficiado da posição menos pessimista dos investidores em relação ao ciclo de aperto monetário americano no médio prazo. Boa parte deles (92%, de acordo com dados do CME) acredita que os juros estarão abaixo da casa dos 5% em dezembro deste ano. E isso beneficia as criptos, já que abre o apetite ao risco. 

Na máxima de ontem, por volta das 18h, o BTC estava cotado a R$ 30.439. Desde o início do ano, a alta é de mais de 80% (isso depois do tombo de 67% em 2022). 

Só que a desconfiança em relação ao setor, que alcançou seu pico no colapso da FTX, continua no ar. Nesta segunda, a SEC, agência reguladora do mercado financeiro americano, entrou com uma ação contra a corretora cripto Bittrex, acusando-a de não se registrar de acordo com as regras do país. 

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Agenda

Brasil, 9h: IBGE divulga dados de produção industrial de fevereiro;
EUA, 14h30: estoques de petróleo da semana;
EUA, 15h: Livro Bege do Fed;
EUA, 20h: discurso de John Williams, dirigente da sucursal do Fed de Nova York.

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,23%

Bolsa de Londres (FTSE 100):  -0,37%

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Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,20%

Bolsa de Paris (CAC): -0,04%

*às 8h16

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,90%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,18%

Hong Kong (Hang Seng): -1,37%

Commodities

Brent: -1,99% a US$ 83,13 o barril

*às 7h05

Minério de ferro: -0,96%, a US$ 112,70 a tonelada, na bolsa de Dalian

*às 7h06

Vale a pena ler:

IA ainda não consegue bater o mercado 

Há mais de quarenta anos, matemáticos se aventuram no mercado financeiro tentando prever o sobe e desce das ações. Eles usam machine learning, um tipo de inteligência artificial, para identificar padrões em negociações passadas – e, assim, montar uma posição lucrativa para seus fundos de investimento. Mas a imprevisibilidade do mercado continua invicta. Nem mesmo o ChatGPT, a ferramenta mais avançada em IA generativa (o tipo que consegue gerar conteúdos inéditos) que a humanidade tem em mãos, conseguiu avanços relevantes na arte de enxergar o futuro de Wall Street. Esta reportagem do WSJ conta as tentativas (e falhas) recentes de implementar inteligência artificial no mercado de ações – e especula sobre o futuro das IAs de coletinho. 

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EUA, antes da abertura: Morgan Stanley
EUA, após o fechamento: Tesla, Alcoa e IBM

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