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A mola do fundo do poço: VIIA3, AMER3 e MGLU3 sobem mais de 10%

Papéis de varejistas que sofreram quedas superiores a 50% ao longo de 2022 foram o alvo dos investidores que saíram às compras de Natal; compra da SulAmérica pela Rede D’Or dá gás em QUAL3. 

Por Bruno Vaiano e Alexandre Versignassi
Atualizado em 19 dez 2022, 19h16 - Publicado em 19 dez 2022, 19h16

O fundo do poço às vezes tem mola, às vezes tem um alçapão. Hoje foi dia de mola: investidores passaram a mão em ações de varejistas e outras empresas que apanharam o ano todo e agora são negociadas a preços historicamente baixos na B3. Os investidores sequer se deixaram abalar por Nova York, onde os índices fecharam em queda, e o Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,83%. 

Os papéis de Magalu, Via e Americanas chegaram em dezembro numa liquidação digna de panetone em janeiro: VIIA3 caiu 55,4% desde o começo do ano, MGLU3, 61,1%. AMER3 foi a campeã das más notícias, com 73,1%. Antes das altas de hoje, o buraco era ainda maior. Com uma promoção assim, então, uma hora os compradores aparecem: as três subiram respectivamente 10,13%, 12,65% e 16,23% no pregão desta segunda.  

A exaltação dos humilhados não se limitou ao trio de ferro do varejo. Foi um fenômeno generalizado: CVCB3, que caiu 68,4% nos últimos 12 meses, terminou o pregão de hoje em alta de 9,56%. QUAL3, que acumula queda de 63,7% em 2022, fechou o pregão surfando na paz celestial dos dois dígitos: 14,68%.

Dado o panorama geral, vamos aos detalhes: 

A alta da Via teve um tempero extra de fofoca corporativa. É que Raphael Klein, neto do fundador das Casas Bahia, abriu mão de presidir o conselho de administração da empresa – o colegiado agora está nas mãos de Renato Carvalho do Nascimento, um nome sem laços com a família que foi eleito de forma unânime pelo conselho de administração. A troca deve evitar que a rixa entre Raphael e seu pai, Michael, respingue na administração da empresa. Algo bem visto pelo mercado. 

A alta da Qualicorp veio de última hora, quase no finalzinho do pregão, com a notícia de que a Rede D’Or (dona de 29% das ações QUAL3) foi autorizada pela agência reguladora ANS a comprar a SulAmérica. A relação aí é a seguinte: o mercado temia que o Cade obrigasse a Rede D’ Or a desfazer-se de sua posição na Qualicorp. Se isso acontecesse, haveria uma venda de maçiça de QUAL3, o que pressionaria o papel para baixo. Esse eventual tombo vinha sendo precificado. Como a obrigação de venda não veio, QUAL3 livrou-se dessa amarra. Ficou livre para voar. 

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Toda essa bonança no mercado de ações foi coroada por uma queda no mercado de juros futuros – a mesa de apostas em que o mercado tenta prever as altas e baixas da taxa Selic e das taxas de depósitos interbancários (DI) daqui alguns meses ou anos. 

Quando o mercado exagera no pessimismo (morrendo de medo de uma política econômica desastrada e inflação, por exemplo), os juros futuros sobem. Isso cria um clima ruim para o varejo, já que a previsão de juros altos é um freio de mão puxado para o consumo – especialmente entre famílias de renda mais baixa, que dependem muito de parcelamento. 

Uma taxa DI futura mais baixa, por outro lado, sugere que os bancos estarão pagando menos para fazer empréstimos entre si no futuro. Isso se traduz em juros menores também para as pessoas comuns, que pegam empréstimos com esses bancos. E aí a notícia é boa para o consumo – daí o protagonismo das varejistas entre as altas. 

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Com esse alinhamento dos astros, sobrou pouco espaço para notícias ruins. As esparsas baixas do dia foram culpa do minério de ferro – cuja cotação à vista caiu 1,28% na bolsa de Cingapura (os contratos futuros, ainda mais: 3,59%). A preocupação de sempre é o avanço da covid na China e as incertezas de Xi Jinping em torno do alívio das restrições contra a doença. A consequência de sempre é que a notícia derruba a Vale e suas companheiras siderúrgicas, que têm a construção civil chinesa como grande cliente. Apenas 14 das 92 ações do Ibovespa caíram hoje; destas, 5 são do bonde metálico. 

Enquanto isso, em Brasília, o STF mexeu de dois jeitos no drama da transição. 

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O primeiro, claro, foi derrubar o infame orçamento secreto. Isso tira poder de barganha do governo (de qualquer governo) na hora de comprar votos negociar com o Congresso.   

De quebra, Gilmar Mendes usou seu último dia de trabalho no ano para deixar o Bolsa Família fora do atual teto de gastos. Isso torna menos necessária a aprovação de uma emenda constitucional (PEC) no Congresso. Caso ela não seja mesmo aprovada, o furo ficaria em R$ 80 bilhões por ano – abaixo dos R$ 145 bilhões previstos no texto atual da PEC, que contempla outras despesas além do Bolsa.        

Até amanhã.

Maiores altas

Via (VIIA3): 16,23%
Qualicorp (QUAL3): 14,68%
Americanas (AMER3): 12,65%
Magazine Luiza (MGLU3): 10,13%
CVC (CVCB3): 9,56% 

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Maiores baixas

Usiminas (USIM5): -6,12%
SLC Agrícola (SLCE3): -3,18%
3R Petroleum (RRRP3): -3,04%
Klabin (KLBN11): -2,47%
Cemig (CMIG4): -2,10%

Ibovespa: 1,83%, aos 104.739 pontos 


Em NY:

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S&P 500: -0,91%, a 3.817 pontos

Nasdaq: -1,49%, a 10.546 pontos

Dow Jones: -0,50%, a 32.756 pontos

Dólar: 0,28%, a R$ 5,30


Petróleo

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Brent: 0,96%, a US$ 79,80

WTI: 1,21%, a US$ 75,19


Minério de ferro:
-1,28%, a US$ 109,65 a tonelada na bolsa de Cingapura.

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