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Jovens são os mais afetados pelo desemprego

Saiba o que você deve fazer para não engrossar essa estatística

Por Katia Cardoso
Atualizado em 23 dez 2019, 12h36 - Publicado em 23 fev 2018, 17h00

Dados divulgados, em setembro de 2017, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que as maiores vítimas da recessão foram os jovens. No segundo trimestre do ano passado, do total de desempregados com idade entre 18 e 24 anos, apenas 25% conseguiram uma nova colocação no mercado de trabalho, enquanto 57% estão desempregados há mais de um ano.

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Os números são resultado da análise de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Jacques Meir, diretor do grupo Padrão – que elaborou outro estudo Millennials e a Geração Nem Nem, em parceria com a consultoria MindMiners – essa é a geração mais preparada, informada e educada, mas também a que tem mais desempregados. “Uma das razões para isso é a inadequação entre a formação acadêmica e o que o mercado exige. A outra é a necessidade de as empresas, para manter a produtividade, optarem pelos mais experientes na hora de escolher quem fica”, diz Jacques.

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A pesquisa, que ouviu 1 000 pessoas entre 18 e 30 anos, concluiu que 47% delas não estudam e, dessas, 34% não estudam nem trabalham – 28% estavam desempregadas e o restante nunca trabalhou. “Há uma geração capacitada que não está sendo aproveitada pelo mercado. Ao mesmo tempo, temos jovens com renda mais baixa que não trabalham nem estudam, mas que poderiam ter acesso a um bom ensino técnico, que os capacitasse para o trabalho”, afirma o diretor do grupo Padrão.

Outro problema frequente dessa geração, de acordo com Milie Haji, gerente de projetos da Cia. de Talentos, consultoria de seleção e desenvolvimento de carreira de São Paulo, é a falta de competências emocionais. “Muitas vagas deixam de ser preenchidas porque faltam candidatos que tenham, por exemplo, controle de suas emoções durante a seleção”.

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Por isso, ela aconselha a prestar atenção ao feedback dado pela empresa ou consultoria de RH durante todas as fases do recrutamento. “Por exemplo: se você se inscreve para uma vaga e não passa da etapa inicial, aproveite para rever seu currículo, pois seguramente tem algo errado nele”. Mas, se avança até a entrevista presencial e não consegue o emprego, provavelmente a deficiência é comportamental. No ano passado, 1,2 milhão de jovens estavam cadastrados no site da Cia. de Talentos, onde havia 6 000 vagas disponíveis. Ainda assim várias vagas não foram preenchidas. “Muitos candidatos não eram compatíveis com o perfil pedido pelas empresas, justamente pela ausência de algumas competências emocionais, como criatividade, resiliência, pensamento inovador ou autoconhecimento”.

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Uma situação parecida foi verificada na 99jobs, empresa de recrutamento de jovens talentos. “Recentemente, tínhamos 60 vagas para trainee e 28 000 inscritos, mas não conseguimos preencher todas”, afirma Quem concorda é Eduardo Migliano, co-fundador da 99jobs. “Vários jovens não sabem o que querem realmente e, de forma geral, têm prioridades distintas das valorizadas pela geração anterior – que é a empregadora”. Para complicar, o sistema de ensino brasileiro obriga o estudante a escolher a profissão que vai seguir quando ainda é muito imaturo para isso. Resultado: há quem abandone o curso ou se frustre quando põe a mão na massa.

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A crise atrapalha

Mas a crise, é claro, também tem sua parcela de culpa, ao gerar menos oportunidades de emprego. Então, para as poucas vagas que surgem a tendência é optar pelos profissionais mais experientes. Nesse caso, as indicações ajudam. “Uma boa rede de contatos pode proporcionar ao candidato maiores chances de conseguir uma oportunidade”, diz Rannison Silva, gerente de negócios da empresa de recrutamento Robert Half no Rio de Janeiro.

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 Foi justamente isso que permitiu a Jonas André Rosa de Souza, 22 anos, que conclui o curso de Relações Internacionais em São Paulo em dezembro, se recolocar rapidamente, após o fim do estágio anterior. “Ao sair, meu objetivo era permanecer na área comercial”, diz. Já na terceira semana após sua saída, ele recebeu a indicação de uma conhecida para o processo seletivo da Simpress, empresa da área de impressão. “Foi tudo muito rápido, pois ela conhecia o meu trabalho e sabia que o meu perfil era o que a empresa procurava”, diz ele, que foi contratado como gerente de negócios da Simpress.

Para os que estão ainda estão na busca por uma vaga, Jonas – que fala inglês fluente e está aprendendo francês e espanhol – recomenda aproveitar as oportunidades para ganhar experiência. Ele, por exemplo, participou da seleção para o estágio na Empresa Júnior de sua faculdade. Aprovado, participou da experiência por oito meses. “Não fecho a porta para nenhuma oportunidade”, diz ele.

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Reforma trabalhista pode criar oportunidades

Para Bruno Ottoni, pesquisador de Economia Aplicada da FGV-RJ, os empregos intermitentes, aqueles que contratam por períodos alternados e remuneram pelas tarefas executadas, podem ser uma alternativa para ingressar no mercado de trabalho. “Embora não seja o ideal, é uma oportunidade de ganhar experiência e se desenvolver profissionalmente”, diz ele. Segundo ele, ao regulamentar esse tipo de trabalho, a reforma trabalhista pode criar oportunidades para quem tem tido dificuldade em ingressar no mercado de trabalho.

O pesquisador analisou dados da PNADC e constatou que há no Brasil hoje 4 milhões de jovens de 18 a 24 anos que trabalham bem menos do que 40 horas semanais. “É preocupante perceber que as pessoas mais velhas estão saindo do mercado e os jovens, embora capacitados, não são aproveitados. Isso vai dificultar o crescimento do País no futuro”, diz. Pior: a crise pode precipitar a saída de outros jovens da educação, agravando esse quadro.

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