Como líderes podem cobrar a equipe com eficiência
As estratégias para incentivar as equipes a entregar rapidamente (e melhor) sem ser o chefe carrasco nem o molenga
SÃO PAULO – Com equipes menores e pressão nas alturas, a cobrança por resultados cresce e todo mundo sofre com isso. Mas quem é chefe encara a cobrança por dois lados: por suas metas individuais e pelas metas de seus times. Nesse contexto, a dificuldade dos líderes é encontrar o equilíbrio entre pressionar e incentivar os subordinados a cumprir seus objetivos. “Na crise, o chefe cobra mais porque está sendo mais cobrado, tem de achar um equilíbrio para isso”, diz André Caldeira, da Proposito, consultoria de gestão e recrutamento, de Curitiba. O importante, nesses momentos, é não fazer uma simples transferência de pressão para os funcionários – que precisam estar motivados para encontrar soluções e entregar bem. A seguir, descubra quais são as táticas mais eficientes.
Todos juntos
Com uma equipe de quase 30 pessoas, o desafio de Tiago Luz, de 31 anos, diretor de negócios da Movile, empresa de desenvolvimento de aplicativos, de Campinas, é encontrar o tom certo para a cobrança. Por ser uma empresa com grande proximidade entre chefes e subordinados, há o risco de pesar a mão na informalidade e esquecer as metas. Mas isso não é a regra por lá. “Como temos muitos objetivos para cumprir, a cobrança é rotineira”, diz Tiago. “Falamos sobre os resultados o dia inteiro.” Por isso, todo mundo entende que ser cobrado faz parte – e não é pessoal. “Há identificação entre as equipes e os líderes, que se envolvem também na execução dos projetos”, afirma. “Jogando junto, fica mais fácil entender qual é a deficiência do time.”
Mais racionalidade
É comum que chefes recém-promovidos tenham medo de ferir os sentimentos dos subordinados e sintam dificuldade para cobrar resultados com mais afinco. Mas o bom chefe não é o amigo, mas aquele que desenvolve e, para desenvolver, você precisa estimular as pessoas a entregar mais coisas. A melhor estratégia é entender qual é o estilo de seus subordinados para cobrá-los de maneira mais eficiente. Lembre-se: tem gente que responde mais quando a cobrança é mais direta e tem gente que desmorona se o chefe age assim, é preciso diferenciar os perfis e se adaptar.
Seja claro sobre as metas
Tenha em mente que, para as coisas funcionarem bem, a transparência deve imperar. Só assim o trabalho não precisará ser refeito (no máximo, alguns ajustes serão pedidos) e o funcionário terá compreendido totalmente quais são suas metas e qual é a expectativa da chefia com aquela determinada tarefa. “A clareza evita que, em caso de feedback negativo, o subordinado diga que não tinha entendido o que precisava ser feito”, diz André, da Proposito. E também ajuda a ter dados concretos na hora de fazer a cobrança. “Os times respondem melhor quando a comunicação é bem feita”, diz André.
Fique próximo do time
Liderar pelo exemplo é um clichê, mas dá certo. “Se você coloca sua equipe para trabalhar até as 10 da noite, tem de estar junto”, diz Ana Beatriz Tartuce Jorge, da Toolssearch, consultoria de gestão, do Rio de Janeiro. “É errado cobrar alguém em alguma coisa se você não tiver aquele comportamento.” Não adianta nada o gestor pressionar a equipe para entregar melhor e com mais agilidade sem estar, ele mesmo, comprometido com aquela meta. As equipes percebem quando as atitudes não correspondem ao discurso.
Entenda como cada um funciona
Os profissionais exigem tratamentos diferentes. Alguns preferem feedback constante e precisam que o chefe esteja sempre presente para acompanhar o trabalho, e outros gostam de ter mais autonomia para fazer o trabalho. Entender qual é o melhor jeito de cobrar cada pessoa do time poupa tempo e dá mais resultados. “Já que as equipes diminuíram, tente conhecer mais os liderados, descobrindo como eles preferem entregar os projetos”, diz Cris Gomes, coach, de São Paulo.
Mostre o propósito
As pessoas se engajam mais para cumprir determinado desafio quando compreendem o que há por trás daquela tarefa. “Os líderes que sabem o porquê de um objetivo transmitem melhor o propósito maior do trabalho àquele profissional”, diz Paulo Campos, professor do Insper, de São Paulo, e autor do blog Mochileiro Corporativo, da Exame.com.
Combine antes
Se uma bomba estourou e é preciso correr para resolver um problema, combine qual será a estratégia antes de sair distribuindo as tarefas apressadamente. “Explique com exatidão qual é o papel de cada um para que aquele desafio seja vencido e também aponte qual resultado precisa ser atingido”, diz Ana Beatriz, da Toolssearch. Se alguém não cumprir com o combinado, seja imparcial e rememore o acordo prévio para dizer que as expectativas não foram cumpridas. Depois disso, disponha-se a ajudar quem está com dificuldades – seja colocando a mão na massa, seja reformulando equipes para complementar as competências. Vale, também, formalizar o que foi combinado por e-mail, por exemplo, para que todo mundo saiba qual é a estratégia e possa consultá-la ao longo do processo.
Acerte na forma
Cada líder tem seu estilo próprio de gestão e, dentro desse estilo, é necessário encontrar o equilíbrio correto para cobrar os diferentes funcionários – e se adaptar para o que cada um necessita. Um chefe mais controlador, por exemplo, precisa respirar fundo para lidar com alguém do time que precisa de liberdade e controlar a ansiedade de monitorar tudo o que está sendo feito. Já um líder mais relaxado, que não gosta de pressionar os outros constantemente, deve se esforçar para ter uma postura mais enfática em momentos críticos.”O conteúdo pode até ser esquecido, mas a forma como um líder cobra, se for equivocada, fica marcada para sempre na mente dos funcionários”, diz Paulo, do Insper.
Erros comuns
As atitudes que devem ser evitadas na hora de cobrar a equipe
Transferir a pressão
Quando o líder se sente pressionado, tende a transferir essa pressão para a equipe e acabar com a motivação. Filtre a tensão para não disseminar a ansiedade. Quando for cobrar, seja objetivo.
Achar que todo mundo é como você
As pessoas funcionam de maneiras diferentes – e nem sempre são parecidas com você. Por isso, não parta do pressuposto de que todo mundo gosta de ser cobrado da mesma maneira como você prefere.
Ter medo de desagradar
É ótimo quando o chefe e a equipe têm um relacionamento amigável. O perigo é deixar as cobranças de lado por medo de desarmonia. Os resultados podem ser desastrosos, porque, uma hora, alguém tem de se responsabilizar pelos maus resultados.
Pedir metas impossíveis
Cobrar de menos é um erro, mas cobrar demais também é. Quando os funcionários são pressionados para entregar metas impossíveis de ser alcançadas, a motivação cai por terra. Desafios são importantes, desde que sejam realistas.