O risco de comprar ações por motivos errados
Sabe aquela ação que parece o negócio do século? Então: provavelmente ela não é. Este levantamento da FGV ajuda a separar alhos de eventuais bugalhos.
Há dois motivos sólidos para que alguém compre uma ação: a empresa ter uma boa perspectiva de crescimento ou, caso já tenha espichado o bastante, ser uma bela pagadora de dividendos.
Bruno Giovannetti, professor da FGV, filtrou 71 ações da bolsa brasileira que podem atrair a atenção dos investidores – mas pelos motivos errados. Isso acontece porque, inconscientemente, nos atraímos por movimentações atípicas das ações no curto prazo, e aí esquecemos de olhar para o negócio da companhia.
Giovannetti separou esses papéis em cinco categorias:
1. Ações em liquidação, que caíram mais de 10% em cinco dias (ficam parecendo uma pechincha, sem que sejam de fato).
2. Ações que subiram mais de 10% (atraindo investidores que apostam em subidas maiores).
3. Ações-loteria (voláteis, que têm passado por altas e baixas abruptas, abrindo espaço para ganhos rápidos – e nada garantidos).
4. As salientes, cujo volume de negócios triplicou em 20 dias (viraram moda).
5. As baratas, mas só porque o preço nominal é de menos de R$ 5 (qualquer subida de centavos rende grandes percentuais de alta).
Dos 71 papéis que fizeram parte do estudo, 40 se enquadram no perfil de loteria. É o caso, por exemplo, da Lojas Americanas (LAME4 e LAME3). A companhia tem apresentado grande volatilidade desde a mudança em sua estrutura, quando juntou as lojas de rua, aquelas de letreiro vermelho, com a operação online B2W (a dona de Americanas.com e do Submarino). Nisso, LAME4 e LAME3 passaram a ser uma espécie de holding. Só que, apenas em setembro, a queda nos papéis foi de 16%.
A segunda categoria com mais representantes é a que parece barata, com 37 papéis. Tem de Cielo (R$ 2,37) a Klabin (R$ 4,48), passando por Cogna (R$ 2,93) e Oi (R$ 1,68 – leia uma entrevista com o presidente da empresa aqui). Essas empresas têm torcida organizada entre pequenos investidores. Se Oi vai para R$ 3, por exemplo, cada pequeno investidor ganha 100% – mas, claro, absolutamente nada garante que isso vá acontecer. Motivo errado para entrar na ação.
CVC e Embraer entraram na categoria “subiu e eu acho que vai subir mais”. As duas são empresas que sofreram com a pandemia, e passam por um processo de recuperação que depende de vacinas e melhora da economia brasileira.
Apenas oito ações entraram na categoria “vou comprar porque caiu demais”, uma cilada dada a leitura de curto prazo. Uma delas é a Ambipar. A empresa chegou a subir mais de 100% desde o IPO, em julho do ano passado. Aí que uma queda de 10% em um mês não faz da empresa automaticamente uma pechincha. Na dúvida, o melhor é olhar para o longo prazo.