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JBS se valoriza 9% depois de confissão de culpa no EUA

Investidor vê caminho livre para IPO nos Estados Unidos, plano adiado por causa dos escândalos de corrupção.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 14 out 2020, 21h51 - Publicado em 14 out 2020, 18h26

Tem aqueles dias que a gente se pergunta se o crime não compensa mesmo. E isso tem tudo a ver com as ações da JBS, que subiram impressionantes 9,20% nesta quarta.

O motivo? A J&F, a empresa controladora da JBS, fechou um acordo com a Justiça americana em casos de corrupção, práticas anticoncorrenciais e não cumprimento de leis que regem o mercado acionário do país. Tudo está ligado aos irmãos Joesley e Wesley Batista, que foram alvo de investigações na Operação Lava Jato e presos em 2017. 

Os empresários foram acusados de pagar propina entre 2005 e 2017 para garantir que a J&F receberia empréstimos bilionários do Banco do Brasil, Caixa e BNDES. E parte dos recursos teria sido usada ​​para custear a expansão da JBS nos Estados Unidos.

Bom, aí a J&F confessou culpa e concordou em pagar uma multa de US$ 128,2 milhões para o Departamento de Justiça americano. A punição inicial era de US$ 256 milhões, mas a companhia teve um desconto de 50% por já ter ressarcido autoridades brasileiras. O caso foi alvo de um acordo de leniência com o Ministério Público brasileiro e de colaboração com a Procuradoria Geral.

Mas não é só. A JBS (sim, dessa vez a empresa, não a holding) vai desembolsar US$ 26,8 milhões para Securities Exchange Committee (a CVM americana) por falhas nos controles e registros contábeis da subsidiária Pilgrim’s Pride. Pelos próximos três anos, ela também será obrigada a informar sobre suas políticas anticorrupção, controles internos e registros dos processos de reporte de dados financeiros.

A Pilgrim’s Pride também entrou na roda: vai pagar uma multa de US$ 110 milhões  por ter inflado os preços do frango de corte durante sete anos. 

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Pois isso tudo fez, acredite ou não, a ação da empresa subir. Por quê? Para o investidor, é como se agora tudo estivesse em pratos limpos e a empresa abriu caminho para seguir com o seu projeto de IPO em Wall Street. 

Esse é um plano antigo, existe pelo menos desde 2017. Mas também são antigos os escândalos em que a empresa se enreda e que dificultam que saia do papel.

O mais simbólico é o Joesley Day. Joesley Batista foi pivô de um escândalo com o então presidente Michel Temer.

Pois o então empresário gravou sua conversa não muito republicana com o presidente. As informações vazaram e o mercado financeiro perdeu o prumo. Foi também o divisor de águas do próprio governo, que antes vinha conseguindo aprovar reformas, mas depois disso precisou se concentrar em evitar um novo impeachment mesmo.

Bom, depois disso, em setembro, os irmãos foram presos. Wesley comandava a empresa e precisou ser substituído. Emergencialmente entrou o fundador da companhia, o fundador da companhia, José Batista Sobrinho (Zé Mineiro para íntimos). Depois assumiu Gilberto Tomazoni, que segue no cargo.

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E quem olha a empresa três anos depois, parece que nada aconteceu. Antes do Joesley Day, a ação custava R$ 9,50. Hoje, depois da alta de quase 10%, fechou a R$ 21,48. Valorização de 126% no período.

A alta da JBS nesta quarta puxou também os papéis de outros frigoríficos: Marfrig ganhou 3,23% e Minerva subiu 2,60%. E olha que o setor andava sofrendo com alta do preço do boi, que aumenta os custos de produção dessas companhias.

Já a segunda maior alta, que não passou despercebida, foi a da Petrorio. A subida de 8,02% foi influenciada pelo petróleo –  o tipo Brent ganhou 2,05%, o tipo WTI, 2,09%. Mas como tudo depende de leitura de mercado, a Petrobras, por outro lado, não teve tanta sorte; queda de 0,79%.

Resultado do dia: exterior na lama, mas Ibovespa em alta. E depois de quase um mês, o Ibov volta a flertar com os 100 mil pontos. Não, a bolsa ainda não chegou lá; fechou o dia em 99.334 pontos (+0,84%). Mas, está bem próxima. A última vez que os investidores viram essa marca foi no dia 17 de setembro, quando o índice fechou em 100.098 pontos.

Quem sabe amanhã, não?

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As coisas não devem ser tão simples assim.

A segunda onda de covid-19 está ficando cada vez maior na Europa e alguns governos voltam a adotar medidas restritivas. A França terá toque de recolher em Paris e mais sete cidades.

E se na Europa o problema é o vírus, nos Estados Unidos o que atormenta os mercados é o que será feito para evitar danos maiores à economia conforme o vírus circula e a vacina não chega.

A proximidade das eleições sozinha já deixa investidores tensos. Somado a isso, republicanos e democratas ainda se digladiam pelo valor a ser liberado para estimular a economia. Fica difícil para as bolsas subirem desse jeito.

Com isso, a Nasdaq Composite teve queda de 0,80% (11.768 pontos), enquanto S&P 500 e Dow Jones recuaram 0,67% (3.488 pontos) e 0,58% (28.514 pontos), respectivamente. 

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O Ibovespa vai mesmo ter que contar com as notícias positivas por aqui para bater os 100 mil pontos de novo.

Maiores altas

JBS: 9,20%

Petrorio: 8,02%

Rumo: 5,52%

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CCR: 4,42%

BTG Pactual: 3,99%

Maiores baixas

Hering: -2,22%

Lojas Americanas: -1,98%

Renner: -1,78%

Magazine Luiza: -1,58%

Cyrela: -1,55%

Dólar: +0,36%, cotado a R$ 5,59

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