ETFs: o poder de diversificar os seus investimentos
Eles permitem que você tenha toneladas de ações ao mesmo tempo. São a forma mais simples e barata de investir na bolsa. E podem fazer qualquer pessoa lucrar mais que investidores profissionais.
e você não dá conta ou tem preguiça de limpar a casa sozinho, a saída é contratar alguém para fazer a tarefa no seu lugar. A mesma coisa acontece com investimentos: quem não sabe por onde começar ou não tem tempo de tomar uma decisão tende a delegar a missão de fazer o dinheiro render a uma outra pessoa, um gestor.
Só que, diferentemente da faxina, você não precisa necessariamente pagar uma pessoa. O mercado financeiro oferece uma saída sob medida para quem quer investir de uma maneira barata, relativamente segura e sem que seja preciso pensar muito sobre cada nova aplicação. São os ETFs (Exchange Traded Funds), ou simplesmente fundos negociados em bolsa.
O princípio geral desses fundos é ser um espelho. A imagem refletida é a de um índice do mercado financeiro, como o Ibovespa (que acompanha a variação no preço das ações de 81 das maiores empresas da B3) ou o S&P 500 (das 500 maiores empresas dos EUA).
Você compra uma cota de um ETF na bolsa pelo home broker da corretora, como se fosse uma ação. O esquema, por sinal, é igual: digitar um código de quatro letras mais um número – nesse caso, o 11 (BOVA11, por exemplo, que é o código de verdade de um dos ETFs disponíveis na bolsa).
O pulo do gato é que, com ele, seu dinheiro fica magicamente dividido entre todas as empresas do índice. Se o índice do ETF for o Ibovespa, 12,439% do dinheiro vai para ações da Vale, 6,095% para as do Itaú, 5,009% para a Petrobras, e assim por diante. Aí se o índice sobe, você ganha. Se cai, você perde. Investir em ações não é garantia de nada, afinal.
Mas vale ter paciência. Os resultados tendem a ser mais recompensadores do que se você tivesse escolhido suas ações sozinho ou se tivesse delegado essa tarefa a um gestor profissional, via fundo de banco ou de corretora (que cobram relativamente caro pelo serviço).
Quem diz isso é gente como o megainvestidor Warren Buffett. Ele já afirmou um punhado de vezes que é melhor recorrer aos ETFs do que a fundos comuns. Por sinal, é como ficará investida a herança que pretende deixar – 90% do dinheiro em um ETF que acompanhe o S&P 500, 10% em títulos públicos americanos.
Buffett é ele próprio uma espécie de gestor de fundos – sua empresa, a Berkshire Hathaway, é basicamente uma companhia que investe em ações de outras empresas. Compre uma ação da Berkshire e você passa a ter a mesma carteira de ações de Buffett. Mesmo assim, ele não recomenda gestores profissionais. É que pouquíssimos deles conseguem resultados de longo prazo melhores que a pura variação de um índice, como o S&P 500 ou o Ibovespa.
Buffett é a maior das exceções: consegue em média o dobro do S&P 500 desde 1965. O placar desses 56 anos está em S&P 500 10% X 20% Buffett. Mas, de fato, Buffett é como Pelé: só tem um. A tendência dos fundos comuns é dar menos do que os índices com o passar das décadas. Ponto.
Os bancos e corretoras cobram coisa de 2% anuais sobre o valor investido nos seus fundos para remunerar os gestores. Um ETF é mais barato: você gasta em torno de 0,30%, já que o robozinho que replica o índice escolhido não recebe salário, não tem filhos nem exige vale-refeição. Ao fim e ao cabo de muitos anos, essa economia faz mais diferença do que parece – veremos isso mais adiante.
Nem só de índices como o Ibovespa e o S&P 500 vive o mundo dos ETFs. É que existe índice para tudo: de empresas “mais sustentáveis”, de companhias que pagam dividendos mais gordos, de empresas gringas que atuam no setor de maconha legalizada… Eles são mais arriscados que um fundo de índice – todas as empresas de maconha podem falir em bloco caso a legislação mude, por exemplo. Já um S&P 500 ou um Ibovespa da vida tendem a ser menos vulneráveis a tragédias.
Seja como for, existem mais de 2 mil fundos do tipo nos EUA, com US$ 5 trilhões aplicados. Isso dá 17% do mercado de fundos, e a coisa cresce em ritmo exponencial. Cada vez mais investidores desistem de fundos geridos, e também da ideia de escolher as próprias ações, em prol dos ETFs – principalmente os de índice. O mercado é tão grande por lá que o primeiro ETF do mundo, o Spyder (que replica o S&P 500), é “a ação” com mais negócios diários do planeta.
Isso quer dizer que, mais uma vez, estamos um tanto atrasados por aqui. O primeiro ETF no Brasil foi uma iniciativa do Itaú, em 2004. Desde então, foram só outros 32. São R$ 32 bilhões investidos, o que dá 0,52% de tudo que está em fundos no país. Ainda que o número esteja crescendo, apenas 300 mil investidores têm ETFs, contra 3,5 milhões que compram ações diretamente e 3,6 milhões de cotistas de fundos de ações com gestores humanos. O investidor de ETF ainda é um solitário no Brasil.
E só agora a indústria financeira decidiu se mover para mudar esse cenário. Se você faz a linha São Tomé, precisa ver para acreditar até nas recomendações do oráculo Omaha, a gente está aqui para te mostrar o poder dos ETFs sobre o dinheiro. É o que vamos ver a partir de agora. 🙂
Os ovos e as cestas
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is a regra número 1 de redução de riscos: não coloque todos os ovos na mesma cesta. Nos investimentos, a pergunta que segue, então, é “quantas cestas?”. Cinco? dez? trezentas?
O americano John Bogle, fundador da gestora Vanguard, sugeriu nos anos 1970 que investidores comprassem ações de todas as empresas do mercado. Só que fazer isso na mão era inviável – é até hoje, mesmo com o home broker das corretoras no celular. É que um ser humano mortal precisaria de um caminhão de dinheiro para ter lotes de todas as ações e ainda pagaria caro por taxas de corretagem. Pense no Ibovespa: são 84 ações, multiplicadas por uns R$ 5 de tarifa para cada compra. Ao fim do primeiro mês você terá pago R$ 450 só em despesas, sem contar o quanto precisa para de fato ser acionista de todas as empresas. Se a ideia é fazer aportes mensais, a brincadeira perde a graça ainda mais rápido.
Bogle, então, criou uma ferramenta engenhosa para permitir isso, o primeiro “fundo de gestão passiva”. Se no fundo de gestão ativa uma pessoa escolhe ações a dedo, no passivo ela simplesmente segue um índice de ações, como a gente falou lá atrás.
A lógica dele era a seguinte. Se você tiver ações de basicamente todas as empresas, não precisará escolher onde investir e mesmo assim vai garantir um retorno decente no longo prazo. Qual é esse rendimento? Grosso modo, o crescimento da economia. Essa tese funciona porque, ao longo de décadas, a tendência é que países cresçam, que o lucro das empresas avance e as ações delas subam. Algumas vão fracassar, é verdade, mas serão compensadas pelas que tiverem ganhos surpreendentes.
Se você tivesse comprado um ETF de Ibovespa em 2010, teria ganhado com a trajetória meteórica do Magazine Luiza e penado com o ocaso da OGX até que ela fosse excluída do índice.
Os ETFs de hoje não compram ações de TODAS as empresas listadas em bolsa porque isso não faria sentido. Nos EUA, há 13 mil companhias listadas. Mas 80% do valor do mercado de capitais está nas 500 maiores. E parte das outras 12.500 estão esquecidas. Quase ninguém as compra ou vende. Logo, melhor seguir o S&P 500 de uma vez. Vale o mesmo na bolsa brasileira. Há 400 empresas de capital aberto por aqui, mas as que realmente contam estão no clube das 81 do Ibovespa.
Há cinco ETFs que replicam o Ibovespa (BOVA11, BBOV11, BOVB11, BOVV11, XBOV11 – perdão pela sopa de letras) e dois que refletem o S&P 500 (IVVB11 e SPXI11).
A força do mercado
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uase todo investidor acalenta um sonho um tanto inconsciente de ficar rico na bolsa. O normal é querer o bônus da valorização de quase 4.000% da Magalu em dez anos (equivalente a 45% ao ano), mas sem perder rentabilidade com os eventuais tombos de outras companhias. Nesses mesmos dez anos, o Ibovespa subiu 74%. Equivalente a 2,1% ao ano.
A fantasia de quem entra na bolsa, então, é buscar as “novas Magalus”, as ações que vão crescer bem acima do mercado e fazer o seu dinheiro se multiplicar como os pães e peixes do Sermão da Montanha. Ou então vai contratar um gestor que faça isso por você. Spoiler: tende a dar errado.
Em 2020, o Ibovespa subiu 2,92%. Mesmo assim, 74% dos fundos de renda variável entregaram aos seus cotistas um ganho ainda menor. A conta foi feita pela S&P Global no relatório Scorecard.
Isso significa o seguinte: você até pode ter investido com um gestor que ficou entre os 26% que superaram o Ibovespa no ano passado. Absolutamente nada garante que ele conseguirá fazer isso de novo ao longo dos próximos anos. Na verdade, os números mostram que o mais provável é que ele não consiga.
Isso vale para o mundo inteiro, e, quanto maior for o período de tempo, pior para os fundos ativos. Antes de completarem dez anos, muitos deles deixam de existir, por simplesmente perderem o tempo todo. A taxa brasileira de mortalidade é de 60% a cada década.
Se já é difícil fundos ativos acompanharem a variação média das ações mais negociadas, “bater o mercado”, como se diz no jargão, é algo ainda mais raro.
A importância das taxas baixas
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entabilidade é o único fator nos investimentos em renda variável que você não consegue controlar – é 200% impossível saber de antemão se um fundo de ações vai dar lucro ou prejuízo, mesmo no longo prazo, mesmo com diversificação. Mas há uma variável que está completamente nas suas mãos: o preço de um fundo. Você pode simplesmente escolher os mais baratos. Faz mais diferença do que parece.
Pegue R$ 100 mil e deixe num fundo que cobra 2% ao ano sobre o montante total – essa é a taxa média do mercado hoje. Se ele render 10% anuais, o valor bruto final após 20 anos, descontando a taxa de 2%, será de R$ 466 mil.
Num ETF que tenha rendido os mesmos 10%, mas com uma taxa de, digamos, 0,30%, seu saldo vai para R$ 636 mil. Dá R$ 94 mil a mais. Ou seja: você pode deixar o valor de um carro nas mãos do gestor.
Não é só para o gestor que o dinheiro da taxa vai. É que ele pega uma parte da receita de seu fundo e repassa para a corretora que comercializa o fundo. A condição é que ela ajude a captar mais gente interessada em investir com ele. Esse pagamento é chamado de rebate e muda a cada acordo entre gestora e instituição financeira. Se a gestora topa pagar um rebate maior, a corretora tem mais incentivo para sugerir aquele fundo aos clientes, em detrimento de outros que eventualmente tenham uma performance melhor. Essa taxa, vale lembrar, também ajuda a remunerar o agente autônomo, que nada mais é do que um vendedor de investimentos.
Pagar o salário e o espumante de tanta gente nos prédios envidraçados da Faria Lima sai caro. Por isso os 2% ao ano. Os ETFs, como dissemos, custam cerca de 0,30% – 0,34% é a taxa do BOVA11, que espelha o Ibovespa. Poderia ser menos até, já que o robozinho do ETF também não toma champanhe nem passa o Réveillon em São Miguel do Gostoso. Mas é o que temos por hoje. A boa notícia é que a taxa vem baixando. O “velho normal” era 0,50% para cima.
ETFs diferentões, que seguem índices menos óbvios que Ibovespa ou S&P 500, cobram um pouco mais caro – na faixa dos 0,50% mesmo. É o caso do recém-lançado TECK11, do Itaú, que segue um índice de ações de tecnologia gringas. Mas também há ETFs absurdamente baratos. É o caso do PIBB11, o primeiro do país. Custa 0,059% e segue o índice IBR-X, um primo do Ibovespa, por assim dizer, composto por 50 empresas em vez de 81 (e tende a variar igual ele). De novo, faz mais diferença do que parece. Com o PIBB11, aqueles R$ 100 mil do outro exemplo teriam virado R$ 665 mil em 20 anos. Grossos R$ 29 mil a mais do que num ETF com 0,30% de taxa.
As taxas baixas, enfim, criam um paradoxo. Elas tornam os ETFs interessantes para o público, mas não para os agentes autônomos, corretoras e bancos, que deixam de ganhar os polpudos extras lá dos 2%.
“Não existe estrutura de incentivo aos ETFs. Você não espera que o mercado financeiro vá oferecer ETF para o consumidor final”, afirma Pedro Lula Mota, gestor da Vérios Investimentos. Ele é um dos mais recentes defensores da gestão passiva no Brasil. Sua fintech aposta numa carteira de títulos públicos combinada com os ETFs PIBB11 e IVVB11 (um daqueles que replica o S&P 500). O que muda é a proporção de cada um dos ativos na carteira de cada cliente, de acordo com o risco que ele está disposto a correr – quanto menor o risco, maior o volume de títulos públicos, de renda fixa, na mistura.
Por sinal, também dá para investir em renda fixa via ETFs. Quem cria os índices de renda fixa é a Anbima (a associação das entidades do mercado de capitais do Brasil). O que entra nesses índices são diferentes tipos de títulos públicos (Tesouro Selic, Prefixado, IPCA+) e seus prazos de vencimento. O principal é o IMA-Geral, mas existem índices só de títulos prefixados ou só daqueles que têm a remuneração ligada à inflação (IPCA+). Só que eles não estão entre os mais populares, talvez por conta da concorrência com fundos de títulos públicos com taxa zero – uma criação relativamente recente, fruto da concorrência no mercado financeiro. Dos já poucos 300 mil investidores de ETFs, menos de 10 mil têm aqueles de renda fixa.
Seja como for, a falta de interesse por ETFs em geral no Brasil começou a mudar no ano passado, também graças à concorrência. Primeiro foi o crescimento da Avenue, uma corretora brasileira com sede nos EUA, que facilita investimentos no exterior. As outras corretoras, então, passaram a mostrar aos investidores opções para ganhar com a valorização de bolsas no exterior sem tirar o dinheiro daqui. Foi assim que o IVVB11 destronou o BOVA11 como o ETF com mais investidores no país.
Foi aí que a CVM liberou o investimento em ETFs gringos por meio de BDRs (os recibos de ações e outros investimentos listados lá fora). A BlackRock, dona do IVVB11 e do BOVA11, é a maior gestora de fundos no mundo e está no top 3 do mercado de ETFs. Com o aval da CVM, ela começou a listar ETFs gringos por aqui usando os recibos de ações – já são 65 fundos desse tipo ao alcance dos home brokers dos brasileiros por esse mecanismo.
Isso fez a concorrência se mexer. Até então, os donos do mercado de ETFs eram o Itaú (dono do BOVV11 e do PIBB11) e a própria BlackRock. Agora a XP entrou na briga e aproveitou para criar fundos com acesso a mercados realmente novos – e não mais um ETF de Ibovespa.
Nisso, ela lançou um ETF só de ações da China (XINA11), um só de empresas da Europa (EURP11) e um global (ACWI11). Este último segue o índice MSCI ACWI, com 3 mil empresas de 50 países (23 desenvolvidos e 27 emergentes). A XP também colocou no mercado alguns bem segmentados: um de ouro (GOLD11), que acompanha a oscilação do metal sem que você precise estocar barras em casa, e um de Fundos Imobiliários (IFIX11).
Só tem um detalhe. Essa oferta massiva de ETFs segmentados vai contra o princípio original de John Bogle e também o conselho de Buffett, aquele de diversificar severamente – poucas coisas representam melhor “colocar todos os ovos na mesma cesta” do que um ETF que acompanha a variação do ouro, por exemplo. Mas ok. Nem por isso eles deixam de ser alternativas interessantes na construção de um portfólio variado.
A ascensão dos ETFs temáticos
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ideia original de Bogle, aquela de comprar o mercado todo para ganhar com o crescimento da economia em si, e não exatamente com uma ou outra empresa, evoluiu para os ETFs de índice, como vimos antes. O nome completo deles é “ETFs de índice amplo” – sendo que os mais amplos são os que seguem o MSCI ACWI, como aquele global da XP (ACWI11), que cobre 85% do mercado mundial de ações. Agora, vamos mergulhar mais a fundo no cardápio completo.
Dentro do grupo de índices amplos, podem existir os ETFs “smart beta”, uma espécie de espelho distorcido. Eles até seguem as ações que estão no índice de referência, mas com pesos distintos – ou seja, é como se um ETF de Ibovespa não comprasse 12,4% de Vale, mas a proporção que lhe desse na telha. Aqui, Bogle já começaria a reclamar. Pesquisas mostram que esses fundos têm custos maiores e começam a esbarrar no mesmo problema dos fundos de gestão ativa: a ideia de que é possível bater o mercado no longo prazo – nenhum desse tipo está disponível no Brasil (ainda bem).
Outra subdivisão no mundo dos ETFs é dos fundos setoriais. Setoriais são os mais “papai-mamãe”, como o DIVO11 e o SMAL11, do Itaú. O primeiro segue o índice de empresas pagadoras de bons dividendos (com o detalhe que, no caso dos ETFs brasileiros, os dividendos são obrigatoriamente reinvestidos, não pingam na sua conta como acontece quando você compra ações por conta própria). O outro é o de ações small caps (de empresas de menor valor de mercado e, consequentemente, maior potencial de valorização). Também nessa linha setorial há o IMAT11, que distribui o dinheiro em ações de empresas de “materiais básicos” (mineradoras, siderúrgicas, produtoras de celulose e papel). Os ETFs setoriais estão por aí há um bom tempo, aliás, mas não causaram grande comoção entre investidores.
Neste ano a coisa mudou um pouco de figura, com a chegada de ETFs setoriais mais alternativos, os “temáticos”, no jargão do mercado. O XINA11 e o GOLD11, ambos da XP, ganharam espaço no top 5 de cotistas logo após a estreia, em parte com o empurrão do baixo valor mínimo de investimento. Dá para comprar uma cota desses fundos por cerca de R$ 10, o que ajuda bastante no processo de dizer para o investidor colocar um trocado “para ver como é”. Em comparação, o BOVA11 é vendido ao redor de R$ 100 por cota.
Aí veio a Hashdex, uma gestora especializada em criptoativos, e mostrou o quanto dá para ir longe no lance temático. Ela lançou o HASH11, um fundo para investir em bit e outras coins. Foi um sucesso de público: alcançou mais de 60 mil cotistas em menos de um mês, galgando o terceiro lugar no pódio dos ETFs brasileiros, atrás apenas dos tradicionais IVVB11 e BOVA11. Isso tem tudo a ver com o momento das criptomoedas, claro. O bitcoin subiu mais de 600% em 12 meses, entrou no portfólio de grandes gestores e passou a ser aceito no pagamento de Teslas.
Algo parecido ocorre com as empresas de tecnologia americanas, não à toa esse foi o tema escolhido pelo Itaú para um novo ETF. O índice que ele segue é o NYSE FANG+, composto por Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google, Alibaba, Baidu, NVIDIA, Tesla e Twitter.
Essa onda acende um alerta vermelho. A tendência é que novos ETFs sejam criados com base em modinhas passageiras. Investimentos específicos, afinal, só viram assunto depois de uma valorização expressiva do ativo em questão. A longo prazo, essa alta pode não se sustentar e o investidor ficar exposto aos riscos de um único segmento de mercado – justamente o oposto do que a filosofia original dos ETFs prega. Como exemplos, desde os picos do começo de janeiro, as ações da Tesla recuam 35%. As da Apple caem pouco mais de 12%, enquanto as da Netflix recuam 17%. Já o ETF HASH11 cai 12% depois que Elon Musk pulou fora dos bitcoins alegando preocupações ambientais.
Um estudo recente feito por quatro economistas, três dos EUA e um da Suíça, se debruçou sobre os ETFs temáticos. Eles concluíram que ETFs temáticos costumam, sim, ser lançados após certos temas virarem moda. Em 2019, os ETFs temáticos mais recentes eram ligados a maconha, cibersegurança e videogames. Em 2020, surgiram fundos dispostos a cobrir ações ligadas a vacinas contra a Covid-19 e a tendência de home office.
O que os pesquisadores descobriram é que, antes do lançamento, esses fundos tendem a ser superavaliados, mas que o movimento de euforia se desfaz rapidamente. Ah, claro. O estudo indica ainda que o rendimento desses ETFs fica abaixo dos ganhos de índices amplos. Quer dizer, até dá para surfar no investimento enquanto a onda está em alta, mas a tendência de longo prazo é levar um caldo.
Renato Eid, executivo da Itaú Asset, questiona a conclusão do estudo, e defende essa classe de ativos. “Quando se fala em ETFs temáticos, o que nós buscamos são ‘cestas de mega tendência’.” Bom, é fato que certos ETFs setoriais ou temáticos, como os que só investem nas gigantes de tecnologia, podem ter uma certa solidez para o longo prazo. O guru Warren Buffett até se desfez de alguns milhões de ações da Apple no ano passado, temendo que a onda de valorização já estivesse baixando – e disse ter se arrependido.
O que não muda é o seguinte. Os ETFs temáticos elevam a exposição do investidor ao risco de um outro mercado específico. Mas isso pode ser proposital. Não é só pequeno investidor que se beneficia dos baixíssimos custos dos ETFs. Gestores de fundos ativos podem comprar cotas de ETFs para diversificar o fundo que administram, e cobrar taxas menores.
Pedro, da Vérios, dá uma ideia de como tirar proveito deles sob essas condições. “Os ETFs temáticos servem para atender um nicho de investidores com propósito mais claro, como os que buscam empresas ESG ou inovadoras. Mas eles devem ser uma parcela pequena do portfólio. Não dá para ter 50% do patrimônio em ETF de cripto.”
Uma carteira racional de ETFs, então, precisa ser construída em basicamente três etapas: primeiro, a maior parte do dinheiro fica nos ETFs nacionais, que seguem o Ibovespa ou outro índice amplo. Não porque o Brasil seja mais seguro que os EUA, mas porque os preços das ações daqui não refletem diretamente as oscilações do câmbio.
Um segundo passo, de qualquer forma, é ter ETFs com exposição internacional – bolsa americana, bolsa chinesa, índice global. Nesse caso, para proteger a carteira de eventuais trapalhadas da economia brasileira, tão frequentes. Só depois disso faz sentido pensar em fundos temáticos. E, mesmo assim, reservar para eles só uma parcela pequena do dinheiro.
Os ETFs, afinal, nasceram para trazer mais segurança, e não mais risco. Quando bater a tentação de tentar a sorte grande com algo mais temerário, seja um ETF doidão, seja no garimpo solitário por uma nova Magalu, seja colocar seu dinheiro nas mãos de algum gestor que prometa mundos com seus fundos, lembre-se das palavras de Warren Buffett: “Com um ETF de índice, qualquer investidor que não saiba nada pode ganhar mais do que a maioria dos profissionais do mercado”.