Conheça a éNozes, empresa de pasta de amendoim sem açúcar que fatura R$ 17 milhões

O paraibano Mauricio Bezerra criou, na cozinha de casa, sua própria pasta de amendoim sem adição de açúcar. Nascia aí a éNozes. E a empresa, com apenas três anos de vida, já exporta para os EUA.

Por Juliana Américo
17 set 2021, 05h40
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Esqueça o arroz com feijão. Brasileiro gosta mesmo é de fast food. Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, a frequência diária do consumo de arroz caiu de 82% para 72% em dez anos. O feijão tombou de 72% para 59%. E o mesmo aconteceu com a carne bovina (43% antes, 34% agora) e as frutas (45% a 37%).

Quem assumiu o lugar foram os sanduíches e pizzas. Há dez anos, 10% da população consumia essas tranqueiras diariamente. Essa porcentagem saltou para 17% – e deve ser um pouco mais até, já que o IBGE coletou esses dados em 2018, antes da pandemia (e, portanto, antes da ascensão da entrega de comida).

Com essa mudança no cardápio, o brasileiro também viu subir os números na balança. Entre 2003 e 2019, a quantidade de adultos obesos mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%. São 41 milhões de pessoas obesas e outros 96 milhões com excesso de peso. Mauricio Bezerra, de 33 anos, fazia parte dessa estatística.

O paraibano chegou a pesar 142 kg quando tinha 23 anos, mesmo praticando esportes – ele jogava no João Pessoa Espectros, um time de futebol americano da sua cidade. O problema estava na alimentação. Em 2010, Mauricio foi estudar administração na Woodbury University, na Califórnia, e aproveitou a mudança para rever a sua relação com a comida. O problema é que ele adotou uma dieta restritiva demais (pouco sustentável no longo prazo). “Perdi 45 kg em quatro meses fazendo loucuras. Eu só consumia atum, água e treinava quatro horas por dia. Cheguei a desmaiar duas
vezes”, relembra.

Quem já fez esse tipo de coisa sabe que o peso tende a voltar logo. Foi o que aconteceu com o Mauricio. Durante férias aqui no Brasil, ele não resistiu aos quitutes da terra natal e acabou engordando. Lição aprendida: quando voltou às aulas lá nos EUA, adotou uma dieta mais equilibrada, com a ajuda de nutricionistas. Os quilinhos extras foram embora, para não voltarem mais.
Depois de formado, ele retornou para o Brasil e trabalhou na empresa de coleta de resíduos do pai até 2017. Foi quando uma amiga (dona de uma loja de produtos naturais) comentou que estava com dificuldade de encomendar uma certa pasta de amendoim. Uma sem adição de açúcar, que leva adoçante no lugar para dar uma baixada no total de calorias. Mauricio entendeu que a necessidade da amiga poderia ser uma oportunidade de negócio. E resolveu colocar a mão na massa – ou melhor, na pasta.

Mirando os consumidores do Sul e Sudeste, a empresa planeja montar uma fábrica em São Paulo.

Comprou um quilo de amendoim, um chocolate branco sem açúcar e foi para a cozinha. Na semana seguinte, já tinha desenvolvido 12 sabores diferentes e usou os amigos de “cobaias”. Ele preparava um pouco de algum sabor e distribuía dez amostras de 20 g. Em troca, as pessoas davam um feedback. E em janeiro de 2018 surgiu a éNozes.

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A empresa procura manter seu produto o mais natural possível – a stevia da receita não é aquela granulada ou líquida dos supermercados; mas sim a folha desidratada da Stevia rebaudiana, a planta de onde o adoçante é extraído. Mesmo assim, Mauricio pretende concorrer com produtos carregados de açúcar no campo em que eles são mais fortes: o do sabor. “Meu objetivo é derrubar a Nutella”, diz. A sério.

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Ganhando espaço no mercado

Ele investiu R$ 17 mil para comprar os ingredientes, equipamentos e alugar um espaço para produzir as pastas. Na época, contava com a ajuda de uma funcionária e da mãe de um amigo (que tinha experiência em gastronomia, já que ele mesmo era amador na cozinha). No portfólio, eram três tipos de pasta: duas de amendoim e uma de avelã.

Além de participar da produção, ele era responsável pela distribuição; colocava as pastas no porta-malas do carro e tentava vendê-las nas lojas de produtos naturais da cidade. Quatro meses depois da inauguração, Mauricio conseguiu fechar negócio com um supermercado de João Pessoa. Aí entrou mais uma atividade para a lista de tarefas: organizar os produtos nas prateleiras. No primeiro ano, a empresa faturou R$ 200 mil e já estava presente em 38 lojas, além de duas redes de supermercados.

No começo, o empreendedor também se aventurou em outros produtos, como snacks de amendoim temperados com lemon pepper, barbecue e no sabor de churros. Também tinha no cardápio biscoitos de castanhas, batizados de “nookies” (o nome criativo era uma junção de cookies com nuts, “nozes” em inglês). No fim, porém, Mauricio decidiu focar só nas pastas – pelo menos até conquistar mais espaço nas prateleiras.
“O mercado da Paraíba é pequeno. Se eu fosse viver de vender pasta de amendoim só lá, iria morrer de fome. Uso a região para testes e também para identificar mudanças que possam agradar o mercado nacional”, afirma.

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Nesses experimentos, Mauricio desenvolveu uma pasta de castanha de caju, que substituiria a de avelã em sua linha de produtos. E hoje ele vende sete pastas: duas de amendoim (nos sabores de chocolate belga e chocolate branco) e cinco de castanha (de beijinho, cheesecake com frutas vermelhas, chocolate, churros e red velvet).

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Em 2019, Mauricio foi para São Paulo apresentar a éNozes a um potencial investidor. As negociações não evoluíram, mas ele aproveitou a viagem para se encontrar com um amigo de infância que estava morando na cidade. Papo vai, papo vem, o amigo decidiu entrar como sócio. O aporte foi de R$ 150 mil – dinheiro que foi usado para ampliar a produção, criar um e-commerce e abrir um centro de distribuição na cidade de Barueri (SP).

O site da éNozes foi lançado em outubro de 2019, e foi aí que o negócio deslanchou. Com uma loja online própria, a empresa não dependia mais exclusivamente de parcerias com outros lojistas. Por mais que as pastas sejam comercializadas em 400 pontos espalhados pelo Brasil, a verdade é que 85% das vendas são feitas pelo e-commerce.

“O leite em pó feito de avelã vai ser o nosso divisor de águas. A partir dele, podemos lançar versões veganas de milk-shake, cappuccino e até barra de chocolate ao leite.”

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Mauricio apostou em promoções estilo “compre um, leve dois” e em influenciadores para atrair a atenção do público. Deu certo: só entre junho e setembro de 2020, o faturamento mensal subiu de R$ 120 mil para R$ 1 milhão. A expectativa é de que a companhia feche o ano de 2021 com uma receita de R$ 17 milhões – 183% maior que a do ano passado.

Para dar conta das vendas, a empresa precisou crescer, claro. Em setembro de 2020, Mauricio montou uma fábrica de 400 m², em João Pessoa, com 42 funcionários. Agora, o empreendedor já planeja abrir uma nova unidade, também em Barueri, de 1.200 m², para reforçar a presença no Sul e Sudeste.

R$ 17 mil foi o investimento inicial, em 2018.

R$ 17 milhões é a previsão de faturamento para 2021.

42 é o número de funcionários dedicados à produção de pastas de oleaginosas na fábrica da empresa, em João Pessoa.

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Da Paraíba para o mundo

Em julho, a éNozes começou a exportar para os EUA. Começou com um pedido pequeno: 400 unidades para um supermercado na cidade de Delran Township, em Nova Jersey. A segunda exportação foi quatro vezes maior, com as pastas indo também para Miami.

Mauricio está trabalhando com um parceiro por lá, mas também já abriu uma empresa em solo americano para construir um centro de distribuição e aumentar os envios para fora do Brasil.

E o crescimento não é só geográfico. Mauricio planeja retomar a ideia de aumentar seu portfólio. Para o ano que vem, a empresa deve lançar leite de avelã em pó – tradicional substituto vegano para o leite de vaca. “O leite em pó vai ser o nosso divisor de águas. A partir dele, podemos lançar versões veganas de milk-shake, cappuccino e até barra de chocolate ao leite. Tenho certeza que, daqui a cinco anos, a pasta de amendoim não vai ser um dos produtos mais vendidos da éNozes.”

 

 

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