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Conheça a Diáspora.Black, startup especialista em afroturismo

A traveltech surgiu com a ideia de promover experiências de viagem afrocentradas. Oito anos e uma pandemia depois, ela ampliou suas frentes de atuação e virou referência no setor público e privado brasileiro.

Por Sofia Kercher
7 ago 2024, 12h00
Três homens negros olham para a câmera, sorrindo. O primeiro, mais à esquerda, tem um suéter cinza e uma camisa branca. Está com as mãos dentro do bolso da calça, que não aparece. O homem do meio usa óculos e veste uma camisa jeans de manga comprida. Está com os braços cruzados. O terceiro, também de braços cruzados, veste uma camisa branca de manga comprida.
André Ribeiro, Antonio Pita e Carlos Silva, cofundadores Diaspora.Black  (Divulgação/ Diáspora/VOCÊ S/A)
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V

iajar é um verbo que indica movimento. Movimento esse que, graças à tecnologia moderna, acontece em velocidade desumana: você pode acordar em Pirapora do Bom Jesus, entrar num ônibus, voar num pássaro de metal gigante e deitar a cabeça do outro lado do globo, fitando o Mar Mediterrâneo. Tudo no mesmo belíssimo dia.

E bota belo nisso. Nem é preciso ir tão longe para sentir os benefícios que uma viagem traz ao nosso corpo e mente. Realidades, vivências e experiências diferentes das nossas colocam tudo sob uma perspectiva necessária: afinal, são pelas estradas do mundo que se pavimentam rotas mais claras pelas estradas da mente.

Claro, essa catarse toda depende muito do roteiro escolhido, e do tratamento que você recebe ao longo da viagem. E estudos indicam que algumas culturas e vivências recebem maior visibilidade no setor – e que a cor da pele do viajante pode transformar esse sonho em verdadeiro pesadelo.

Segundo um levantamento feito em 2018 com 580 turistas afro-brasileiros, quase 50% já vivenciaram ou presenciaram situações de racismo em viagens nacionais. Nas internacionais, esse número é de 21,3%.

E não são apenas os turistas negros que estão em desvantagem. Uma pesquisa feita em 2021 por Bianca Briguglio, socióloga da Unicamp, mostra que trabalhadores brancos do setor recebem 72% a mais que seus congêneres negros. É quase um salário mínimo de diferença entre eles.

Ninguém entende isso melhor do que Carlos Humberto Silva. Depois de passar por esse tipo de situação na pele, ele decidiu fundar, em parceria com dois colegas, a Diáspora.Black: marketplace que disponibiliza roteiros, viagens e experiências turísticas que visam ensinar e celebrar a cultura negra no Brasil. Nascida em 2016, a empresa tornou-se a principal referência de turismo afrocentrado por aqui – e já marca presença no mundo corporativo e no maquinário público brasileiro.

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Mas estamos nos adiantando. Para entender a magnitude dessa diáspora, primeiro precisamos voltar para o antigo apartamento de Carlos, no Rio de Janeiro. Vamos lá.

Viagem sem preconceito

As coisas andavam bem para o empreendedor. Carlos havia se mudado para um apartamento aconchegante em Santa Teresa, que tinha espaço para mais gente além dele – daí a ideia de começar a alugar o espaço para terceiros, algo que amigos da região já faziam.

O que era para ser graninha extra e troca boa acabou virando história de terror. Carlos começou a viver episódios de racismo e injúria racial dentro de sua própria casa. “Foi ali que eu finalmente entendi essa falha no mercado”, conta ele a Você S/A.

Logo no primeiro momento, o empreendedor decidiu que a startup abordaria duas frentes: o afroturismo e a consultoria. Sobre a primeira, a ideia era centrar a experiência da população negra nos roteiros oferecidos pela startup. Assim, turistas poderiam conhecer, reviver, experienciar e valorizar a cultura, a religião e a história afrodescendente do país. Coisa que, até então, nenhuma empresa turística por aqui oferecia. 

A segunda frente de atuação da empresa (que só se consolidaria um pouco mais à frente, como veremos logo mais) serviria de complemento, para educar as pessoas sobre esses espaços – e como se comportar com respeito e noção ao acessá-los. 

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Quase 50% dos afrobrasileiros já vivenciaram ou presenciaram situações de racismo em viagens nacionais.

“Não adiantava ampliar o acesso de pessoas negras ao turismo e de promover mais visitas a turistas nesses lugares se as pessoas não passassem por um mínimo de treinamento”, explica.

Junto com Antonio Pita e André Ribeiro, em 2016, os empreendedores decidiram começar um crowdfunding para desenvolver a parte tecnológica, além de uma prospecção de interessados em oferecer roteiros turísticos na plataforma. O resultado foi um sucesso: R$ 15 mil e 100 pré-cadastros depois, começava, oficialmente, a jornada da Diáspora.Black.

Um vírus que apareceu pelo caminho

Depois do crowdfunding, três acelerações vieram para trazer robustez à estrutura da startup: a Oi Futuro, em 2017; uma da Meta e Artemísia, em 2018; e a InovaBrar, do Bradesco, logo em seguida. Somada a isso, uma aceleração da Vox Capital, no final de 2019, trouxe ao caixa da empresa R$ 600 mil para aprimorar ainda mais a tecnologia da plataforma de viagens.

Quando toda a história começa a se aproximar de 2020, os alertas acendem. Quando a história é sobre uma empresa de turismo, mais ainda. Carlos explica que, no Brasil, o comportamento dos consumidores com viagem é de longo prazo: as reservas de pacotes são feitas com muito tempo de antecedência, com depósitos temporários (sujeitos à taxa de cancelamento apenas quando a viagem está se aproximando. Já está nervoso por aí?).

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Resultado: em março de 2020, em menos de 48 horas, a Diáspora foi do lucro ao endividamento.

Mas a desmotivação foi passageira. Com a grana da Vox destinada à tecnologia, a Diáspora mergulhou no desenvolvimento de uma das frentes que citamos lá em cima: a da consultoria.

Mulheres dançando e sorrindo
Na frente corporativa, a Diáspora passou a realizar eventos, também voltados à promoção da afrocentricidade. Ela ainda oferece cursos, palestras, facilitação de reuniões e atividades educativas para empresas. (Divulgação/ Diáspora.Black/VOCÊ S/A)

Com mais um aporte do Google no começo de 2021, de R$ 100 mil, a Diáspora criou duas trilhas de treinamento corporativo com jornadas gamificadas. Os dez episódios foram  desenvolvidos por um comitê de representantes de empresas, profissionais de recursos humanos e especialistas, que identificaram os principais desafios e responsabilidades de colaboradores ao trabalhar com a temática antirracista dentros. Tudo isso centrado em volta de valores afro civilizatórios, conceito da pedagoga Azoilda Loretto da Trindade. 

Carlos explica que a intenção é colocar a África em destaque ao longo de dez episódios, mostrando como os africanos e africanas que vieram ao Brasil enraizaram valores que estão em nossa memória, música, literatura, ciências, religião, gastronomia… enfim, em tudo que diz respeito a ser brasileiro. Atualmente, 182 empresas já fizeram essa parceria com a startup (vide Claro, Dínamo, BYD, Google, WeWork e mais uma pá de nomes de peso).

Saldo positivíssimo

A hecatombe pandêmica já se foi. No lugar dela, em 2023, a startup atingiu o marco dos R$ 4 milhões em faturamento. Este ano, o plano é chegar aos R$ 6 milhões. 

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Atualmente, 1.800 profissionais vendem por meio da Diáspora. Além da plataforma, a startup trabalha na formação de profissionais negros no turismo. Frentes essas ampliadas também à iniciativa pública: em parceria com a Embratur, autarquia do Ministério do Turismo, a startup hoje é responsável por promover a visitação e visibilidade de roteiros na Pequena África (RJ), Ubatuba (SP) e Salvador (BA).

Na frente corporativa, a Diáspora passou a realizar eventos, também voltados à promoção da afrocentricidade. Ela ainda oferece cursos, palestras, facilitação de reuniões e atividades educativas para empresas.

Em 2023, a startup atingiu o marco dos R$ 4 milhões em faturamento. Este ano, o plano é chegar aos R$ 6 milhões. 

Acima de tudo, Humberto acredita que a grande contribuição da empresa é preencher as lacunas históricas, trazendo cada vez mais visibilidade à comunidade e à experiência negra. “Por meio do nosso serviço, a gente apresenta às pessoas a possibilidade de descobrirem histórias que não conheceram em sua formação pessoal e profissional”, conta o empreendedor. 

Agora, o sonho é que a diáspora se realize além-mar. Carlos Humberto Silva nos conta que já tem em seus planos uma nova rodada de captação, que busca aprimorar a plataforma e viabilizá-la lá fora. Um percurso inverso ao dos primeiros africanos que chegaram, de forma degradante, a este país séculos atrás.

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