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900 alunos em menos de um ano: conheça a Basa Beach Tennis

Samantha Barijan, fundadora e atleta profissional, se divide entre a escola e campeonatos internacionais.

Por Júlia Moura
Atualizado em 15 ago 2022, 12h51 - Publicado em 12 ago 2022, 06h00

Não é preciso andar muito para se deparar com uma nova febre urbana: quadras de beach tennis. Elas se espalham com uma velocidade tamanha que até faz lembrar as falecidas paleterias mexicanas e as ainda onipresentes hamburguerias artesanais. O esporte, antes restrito à diversão de final de semana na praia, virou uma opção para quem prefere se exercitar ao ar livre em vez de fazer esteira em uma academia lotada.

Mas o número de especialistas na modalidade ainda é baixo no Brasil para uma demanda cada vez maior. Surfando nessa onda, a atleta profissional de beach tennis Samantha Barijan virou empresária.

Aos 39 anos ela concilia as competições internacionais com o dia a dia do Basa Beach Tennis, uma rede de escolas para a modalidade. Mais que um espaço para a prática do esporte, a empresa visa a aplicar o método de treinamento de Samantha. As aulas são estruturadas com fundamentos do beach tennis profissional, que vão além do lazer. É assim, afinal, que ela sempre encarou o beach tennis: como coisa séria.

Antes de experimentar a prática em uma viagem ao Rio de Janeiro, em 2008, ela já era atleta de tênis de quadra. Mas logo virou a chave e passou a se dedicar à versão praiana, onde havia mais oportunidades por conta da concorrência menor.

No ano seguinte, ela até se mudou de São Paulo para o Rio – então epicentro da modalidade, por razões óbvias. Mas ela só se aprofundaria mesmo no esporte após uma escala no país onde ele nasceu: a Itália. Pois é. O beach tennis começou por lá, em meados dos anos 1980, como um passatempo de verão nas praias do Mediterrâneo.

“Fui pra Itália para saber o que era jogar beach tennis. Aqui no Brasil, no comecinho, jogávamos tênis na areia, que era completamente diferente. Teve uma vez que fui em um mundial e a arquibancada estava lotada, as crianças pediam autógrafos para os jogadores. Só quem viajava conseguia enxergar o tamanho do esporte.”

Logo que virou atleta de beach tennis, Samantha, formada em Educação Física pela PUC Campinas, passou a dar aulas da modalidade. Era a maneira de se sustentar. Com pouca visibilidade, não é possível viver com a renda de atleta. Até hoje, quase todos os beach tenistas profissionais no Brasil também são professores.

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(Basa/Divulgação/VOCÊ S/A)

Mesmo com o malabarismo entre treinar e ensinar, ela chegou ao primeiro lugar do ranking mundial em 2014. Foi a primeira atleta não italiana a conseguir tal feito. Hoje, ela está dentro do top 10 do ranking brasileiro e do top 20 mundial.

“É uma paixão ser atleta e professora. Posso falar hoje que trabalho com uma coisa que realmente amo. Acho que foi por isso que [a Basa] teve um boom muito rápido. A nossa metodologia, que mistura minha experiência de professora e de atleta, dá muita liga. Porque os professores são didáticos, o que é muito importante. Só que o atleta tem aquela expertise tática”, conta Samantha às vésperas de um campeonato internacional no Nordeste – com o esporte em alta no Brasil, cada vez mais torneios intercontinentais acontecem nas praias brasileiras. Antes, eram quase todos na Europa . A Espanha é o outro centro global do beach tennis, junto de Brasil e Itália.

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“O número de patrocinadores aumentou, as arenas cresceram. E a própria CBT [Confederação Brasileira de Tênis] está conseguindo avançar com o esporte. Mas ainda falta consolidação. Pode ser que mude alguma coisa por causa da televisão, já que a modalidade está sendo transmitida pelo SporTV.”

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Os números falam por si só sobre a popularidade que o beach tennis conquistou no Brasil. A Basa conta com quatro filiais no Rio de Janeiro, duas em Vitória (ES), uma em Vila Velha (ES), outra em Uberlândia (MG), e, em Itu (SP), um beach club (estrutura mais complexa, com restaurante, espaço para shows e, claro, muita areia). Ao todo, são 900 alunos. São dados ainda mais impressionantes quando se considera que a empresa é um bebê de um ano.

No Rio, onde a Basa começou, todas as unidades são à beira-mar: três na Barra e uma em Ipanema. Apesar de ser um espaço público, as quadras precisam de licenciamento da prefeitura – cada uma paga taxa anual de R$ 280. Também é necessária manutenção e uma política de boa vizinhança com o pessoal da praia – barraqueiros e outros esportistas.

O quê relaxado e de informalidade das aulas na praia geram um problema para as escolas de beach tennis: a inadimplência. Muitas vezes o aluno não leva celular ou cartão para a praia e acaba atrasando a mensalidade. Para solucionar essa questão e organizar o fluxo das aulas, Samantha está desenvolvendo um aplicativo que irá unir a escola, os professores e os clientes. O agendamento de aulas será digital, com a parte do pagamento integrada.

E tem interessados já de olho no projeto, para aderir ao modelo. “Só que eu preciso fazer esse sistema funcionar primeiro. Já apareceram interessados, já conversei. Mas pedi para esperarem.”

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Apesar de ter crescido, o mercado de beach tennis ainda peca em estrutura. É aí que, para Samantha, mora a oportunidade. “Sempre fui muito empreendedora. Desde quando comecei a jogar, eu sabia que o meu custo para viajar seria muito alto. Antes, eu até tinha o Bolsa Atleta, que acabou cortado. Na minha vida inteira, fui guardando, fiz um fundo. Até que peguei uma parte para investir na Basa.” Como Samantha já tinha renome dentro do esporte, conseguiu atrair clientes com facilidade.

O seu maior desafio é fidelizar a equipe de professores, já que a mão de obra no setor é escassa. “Como o mercado está tão em alta, pode chegar alguém e oferecer mais para os professores que trabalham comigo, que eu capacitei. Então, não é só pagar os profissionais, é você fazer com que eles se sintam bem.”

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(Basa/Divulgação/VOCÊ S/A)

A concorrência infla bem os salários nessa área. Um bom professor de beach tennis pode ganhar até R$ 20 mil ao mês, dependendo de quantas aulas ministra. Sim, trata-se de um esporte caro para quem empreende, e para quem aprende. A mensalidade de um pacote com uma aula por semana vai de R$ 180 a R$ 240 por pessoa. Em São Paulo, esse valor pode chegar a R$ 400, dependendo do bairro. Comparado ao tênis tradicional, porém, tende a sair mais em conta.

Com as quatro quadras de praia, no Rio, Samantha tem um lucro líquido de R$ 25 mil. Já num beach club propriamente dito, com diversas quadras e espaço para eventos, é possível lucrar R$ 300 mil ao mês, de acordo com ela. Por conta disso, ela investiu R$ 1,7 milhão em parceria com a também atleta de beach tennis Lorena Melo para a construção do beach club lá em Itu, chamado Ei. São 140 alunos nessa unidade.

Sobre os próximos passos, Samantha demonstra duas qualidades que nem sempre andam juntas: ambição e cautela.

“Quero que a Basa funcione como uma franquia, mas uma franquia com metodologia de treinamento e gestão da prática esportiva. No momento em que minha escola estiver 100% é que vou realmente disseminar mais. Não tenho pressa: quero fazer tudo direito.” Bela jogada.

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