Os mais de 22 milhões de habitantes de Xangai, capital econômica da China, entraram em rigoroso lockdown no dia 27 de março. Abril passou, e nada de as medidas de restrição acabarem. E “lockdown”, aqui, é no modelo chinês mesmo: todo mundo em casa, salvo as poucas exceções escolhidas a dedo pelo governo.
Isso afetou, é claro, toda a economia da cidade, com destaque para o porto de Xangai – o maior do mundo. Muitos funcionários foram dispensados, e, entre os que permanecem trabalhando, muitos têm de dormir no local de trabalho para evitar contato com pessoas de fora, segundo a mídia local.
O porto passou a operar com mais ou menos metade de sua capacidade. Dados do Automatic Identification System, o sistema de rádio usado pelos barcos, mostram um enorme congestionamento na área. Os contêineres importados, por sua vez, são deixados nos pátios por até 12 dias – antes do lockdown, a espera era de apenas quatro dias e meio.
A lentidão no maior porto do mundo afeta o planeta todo, como já vimos lá no começo da pandemia. De fato, o baque dos primeiros lockdowns chineses na logística mundial foi tão grande que é ainda sentido pelas empresas. Um setor que não se recuperou até hoje é o de semicondutores (chips), que ainda passa por uma escassez de produtos.
Agora, o problema deve piorar. A Apple, por exemplo, já adiantou que o atual lockdown chinês vai custar à empresa algo entre US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões em vendas neste segundo trimestre – o equivalente a até 8,2% do faturamento que a companhia obteve no primeiro trimestre (US$ 97,3 bilhões).
Não é só em Xangai. Sete dos dez portos mais movimentados do mundo estão na China (os outros três ficam na Coreia do Sul, em Singapura e nos Emirados Árabes). E o Partido Comunista Chinês já deixou claro que não pretende abandonar sua política de “Covid-zero” – o que significa que lockdowns restritivos como o de Xangai podem pipocar pelo país, a qualquer momento, se o número de casos aumentar. Nada é tão ruim que não possa piorar.