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Bolsa abre a porteira para o agronegócio: oportunidade para os pequenos investidores

A balança comercial do agronegócio fechou com saldo positivo de US$ 105,1 bilhões em 2021. E os números dos quatro primeiros meses do ano indica que 2022 será ainda melhor. Enquanto isso, a B3 dá boas vindas ao primeiro ETF de agro.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 10 jun 2022, 13h13 - Publicado em 10 jun 2022, 13h07

“O Brasil precisa multiplicar por 10 sua produção de alimentos, ou será forçado a parar o surto de industrialização por falta de divisas para pagar o crescente volume de importação de comida”, dizia um artigo do Estadão, de 24 de abril de 1968, cujo título era “Escassez Alimentar no Brasil”. 

O final do texto é profético. Diz que o aumento da população urbana no Brasil (um assunto recorrente na época) só iria agravar o problema. O eventual enriquecimento dos habitantes das cidades criaria uma demanda ainda maior por comida, e passaríamos por uma grande escassez, “a não ser que a produção agrícola acompanhe esse desenvolvimento”.

Pois é. O campo não só acompanhou a evolução das cidades: ultrapassou. Em 2021, a balança comercial do agronegócio fechou com saldo positivo de US$ 105,1 bilhões (ou seja, US$ 120 bi em exportações versus US$ 15 bi em importações). Foi um aumento de 19,8% no saldo em relação a 2020. Já os outros setores somados registraram um déficit de US$ 43,8 bi. Ou seja: nossa balança comercial do ano passado só fechou no positivo (US$ 61,2 bi, no caso) graças ao agro.

E tudo indica que 2022 será ainda melhor. Entre janeiro e abril (data dos dados mais recentes do Ipea) o saldo da balança está positivo em 43,7 bilhões – 40,5% acima do mesmo período de 2021. 

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O que possibilitou tudo isso foi uma revolução tecnológica, da qual a soja é o maior exemplo. Soja é uma cultura de regiões temperadas. Por conta disso, o cultivo começou tímido, no Rio Grande do Sul. Pesquisas da Embrapa, de universidades e da iniciativa privada, porém, criaram sementes e fertilizantes que tornaram a produção possível nas vastas áreas do Centro-Oeste, o que redesenhou a economia brasileira. 

Hoje, metade da soja importada pelo resto do mundo vem do Brasil. E o agro não é só soja. Nem só carne, açúcar, café – outros produtos nos quais o protagonismo do país é bem conhecido. O Brasil está entre os cinco maiores exportadores globais de 30 produtos agrícolas: milho, oleaginosas, feijão, pimenta…

A tecnologia agrícola bombou a produtividade. Entre 1975 e 2017, a produção de grãos aumentou em seis vezes – de 38 milhões de toneladas para 236 milhões. No mesmo período, de acordo com um estudo da Embrapa, a área plantada cresceu apenas duas vezes. 

Cada hectare de terra passou a produzir 100% mais feijão, 270% mais milho, 317% mais arroz e 346% mais trigo – o campeão em aumento de produtividade.  

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O trigo é outro caso notório. Ainda se trata de um dos poucos produtos agrícolas de alta demanda no qual o Brasil não é auto-suficiente –  o país ainda importa metade do que consome. Mas esse problema pode estar perto do fim. O trigo é outra cultura típica de regiões temperadas que passou a crescer no calor do Cerrado (cortesia das pesquisas para o aprimoramento genético de sementes). Hoje, o Centro Oeste é responsável por 10% da produção nacional. Caso essa expansão siga em frente, de acordo com a Embrapa, ela pode nos trazer a auto-suficiência em trigo nos próximos anos. 

Bacana. Só que, mesmo com toda a grana, com toda a fama e com todas as promessas que ainda guarda na manga, o agronegócio tem uma participação relativamente tímida na bolsa. À exceção das ações das gigantes da carne e do açúcar/etanol, há poucas oportunidades para o pequeno investidor na área da economia que sustenta nossa balança comercial.   

Mas esse cenário está mudando. Na reportagem de capa desta edição, Tássia Kastner mostra as novas opções de investimento no agro – de empresas que fizeram IPOs recentemente aos novos fundos negociados em bolsa. Demorou. O primeiro ETF agro, por exemplo, surgiu praticamente ontem, em maio de 2022, mais de um ano depois do primeiro ETF de cripto. 

Que venham mais alternativas agro de investimento. E que elas formem um solo fértil para ajudar no cultivo do seu dinheiro. Boa colheita. 

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