Banco americano fará demissões por baixa performance. Um dos critérios de corte? Home office
A expectativa é que cerca de 3% da força de trabalho do Goldman Sachs seja cortada, segundo o Wall Street Journal.
Goldman Sachs tem uma política anual de revisão de performance. Em 2024, a ideia é que cerca de 1.300 funcionários sejam cortados – 3% de sua força de trabalho atual.
Segundo o jornal americano Wall Street Journal, os cortes impactarão vários setores da instituição, com alguns times mais afetados do que outros. Até aí, é costumeiro. Conforme disse Tony Fratto, porta-voz do Goldman, ao WSJ: “Nossas avaliações anuais de talentos são normais, padronizadas e habituais, sem nada especial.”
Normais e padronizadas, pode até ser. Mas há algo que chama a atenção no movimento: as idas (ou não) dos funcionários ao escritório entraram em um dos critérios de “baixa performance”.
Nos últimos quatro anos, com a esmagadora maioria das firmas, a instituição tinha flexibilizado seu modelo de trabalho. Agora, as instituições financeiras estão apertando o cerco: o JP Morgan, outro banco gringo, também tem cobrado cada vez mais o presencial de seus profissionais.
Cabo de guerra antigo
Que o CEO do Goldman Sachs é hater do home office, é sabido. Desde os primeiros sinais de melhora da pandemia, David Solomon vem vociferando aos quatro ventos suas críticas ao modelo, do qual chegou a chamar de “aberração”.
Ele não é o único, claro. Elon Musk já disse que trabalhar de casa é “moralmente errado”; o CEO da Disney, Bob Iger, afirmou que “nada pode substituir a capacidade de se conectar, observar e criar com colegas que estão fisicamente juntos”.
A temática foi extensamente abordada na capa da Você S/A em novembro do ano passado, a qual você pode ler aqui. Fato é: de um lado, empresas e suas lideranças estão mais inclinadas a trazer os funcionários para o presencial; do outro, eles clamam por mais flexibilidade (ou ao menos a manutenção do que foi concedido na pandemia).
Elon Musk já disse que trabalhar de casa é “moralmente errado”; o CEO da Disney, Bob Iger, afirmou que “nada pode substituir a capacidade de se conectar, observar e criar com colegas que estão fisicamente juntos”.
Existem argumentos favoráveis e contrários a ambos os modelos. Mas a associação direta entre baixa performance e idas ao escritório não é comprovada pela ciência, e pode ter consequências perigosas à saúde mental dos trabalhadores (e, consequentemente, ao bolso das empresas). Vamos entender.
Felizes, saudáveis & produtivos
Aqui vale o disclaimer: estamos falando sobre o modelo híbrido. Aquele que conta com dias presenciais e dias home office, geralmente na proporção 3×2.
Aos fatos. Um novo estudo significativo feito pela International Workplace Group (IWG) com mil trabalhadores do Reino Unido mostrou que mais de 70% deles sentiram-se menos esgotados, estressados e ansiosos após passarem parte da semana trampando de casa.
Ainda, 86% disseram que o aumento na quantidade de tempo livre que tiveram por não ter que se locomover ao trabalho todos os dias melhorou o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ainda aumentou sua qualidade de sono (68%), quantidade de vezes em que faziam exercícios (54%), preparação de refeições mais saudáveis (68%) e melhor saúde no geral (68%).
Os benefícios estão aí para os trabalhadores, e coincidem com uma pesquisa feita por Nick Bloom, professor de economia da Universidade de Stanford, com 1,6 mil funcionários de uma empresa de tecnologia chinesa
O especialista descobriu que o trabalho híbrido não tem qualquer impacto significativo na produtividade dos funcionários, melhora sua satisfação no trabalho e, acima de tudo, reduz as demissões (especialmente de mulheres, funcionários que não estão em cargo de gerência e pessoas que têm longos deslocamentos ao presencial) em 33%.
Trabalhadores do Reino Unido sentiram-se menos esgotados, estressados e ansiosos após passarem parte da semana trampando de casa.
No fim das contas, a discussão sobre a melhor forma de trabalhar dificilmente acabará tão cedo. A pandemia deu um chacoalhão na relação entre as pessoas e seus trabalhos, e ela não voltará a ser a mesma de antes (assim como quase tudo na vida).
Fato é: demitir funcionários adeptos ao trabalho híbrido dificilmente adiantará alguma coisa. Afinal, esse é o modelo de preferência de quase 80% de quem faz os negócios girarem – os funcionários.