Bitcoin, ethereum, solana, XRP, Dogecoin, Cardano, Shiba, Cosmos, Fantom, Tezos… Existiam 5.536 criptomoedas em julho deste ano. No início de novembro, eram 13.438. Uma das recém-criadas era a Squid – uma cripto cujo nome se refere a Squid Game (Round 6, no Brasil), a série de maior audiência da história da Netflix. A operadora de streaming não tem chongas a ver com a coisa. Uns caras fizeram uma criptomoeda com esse nome e jogaram no mercado. Só isso.
Lançaram a US$ 0,01. Dada a óbvia inutilidade do “ativo”, um centavo de dólar já era caro demais. De graça já seria muito, já que adquirir o troço numa corretora de cripto toma alguns segundos, e a vida é curta.
Mas… não faltou quem pensasse o contrário. O Squid estreou no dia 26 de outubro, uma terça-feira. Na sexta, 29, já tinha saltado de US$ 0,01 para US$ 3,37. Alta de 33.600%. Algo capaz de transformar R$ 1.000 em R$ 33,6 mil.
E a escalada continuou. Ao longo do final de semana, o Squid já estava dez vezes mais valioso: US$ 39. Às 9h de segunda-feira, 1º de novembro, foi a US$ 89. Ao meio-dia, US$ 523. Meia hora depois, US$ 2.861.
Alta de 28.000.000% em uma semana – ou seja, o bastante para transformar R$ 1 em R$ 2,8 milhões. De acordo com o CoinMarketCap, que monitora o mundo cripto, o Squid movimentou mais de US$ 100 milhões. Pois é. Muita gente se deu bem.
Mas… O fantasma de Milton Fridman costuma aparecer de vez em quando para avisar que não existe almoço grátis. Foi o que aconteceu. Às 12h45, o preço do Squid tinha caído de US$ 2.861 para US$ 0,0007. Exato: tombou para 7 milésimos de centavo. Em cinco minutos.
Foi o tempo que levou para cair a ficha de que algo que não valia nada de fato não valia nada. E era tudo um golpe – sabe-se que os criadores aproveitaram a onda para emitir um monte de squids, vender e fugir com pelo menos US$ 3,5 milhões. Mesmo assim, o episódio diz mais sobre o mundo das criptomoedas.
O bitcoin, mãe de todas elas, é um projeto completamente honesto. Nasceu em 2009 para produzir uma moeda de fato: algo que você pudesse trocar por bens e serviços. Mas toda a demanda por bitcoin hoje consiste em gente a fim de comprar por um preço e vender mais tarde pelo dobro, pelo triplo. Sequer há interesse em utilizá-lo como moeda. Isso faz com que o bitcoin seja algo tão vazio quanto era o tal do Squid. Seu valor de mercado, de mais de US$ 1 trilhão, sustenta-se em nuvens – feitas de imaginação.
O bitcoin, e qualquer outra cripto do mercado, só vale algo porque há muita gente a fim de comprar com a esperança de que, no futuro, haja ainda mais gente a fim de comprar. E a história da economia mostra: a demanda por ativos vazios (tudo bem por aí, tulipas?) sempre foi um recurso finito. A eventual sobrevivência do próprio bitcoin no longo prazo seria a primeira exceção a essa regra em todos os tempos. Se quiser apostar em cripto, então, tenha isso em mente.