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Viver bem de grana – e gastar tudo até seu último suspiro chegar. Entenda o conceito

O gestor de fundos de investimento Bill Perkins defende, em seu best-seller “Morra Sem Nada”, a ideia de que todos deveríamos ter uma vida cheia de experiências, sem se privar delas em prol de uma economia excessiva. E isso só poderá acontecer se, ao bater as botas, sua conta bancária estiver zerada (ou quase). E aí, topa?

Por Da Redação*
12 abr 2024, 18h30
E

stava faltando uma teoria financeira que resumisse bem aquela música do Titãs: “a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade; a gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade”.

Talvez ela tenha marcado presença na playlist de Bill Perkins, um dos gestores de fundos de investimento mais bem-sucedidos da história e autor do livro “Morra Sem Nada: Aproveite ao máximo sua vida e seu dinheiro e morra zerado”, best-seller do Wall Street Journal.

A tese de Perkins gira em torno da ideia de que todos nós deveríamos ter uma vida plena de experiências; não nos arrepender de não ter feito tudo que queríamos (ou podíamos). A provocação do autor é que você deveria usufruir o máximo possível do dinheiro que ganha – consequentemente, aproveitaria o máximo de sua vida. E isso só poderá acontecer se, ao morrer, sua conta bancária estiver zerada (ou, ao menos, muito próxima do zero).

Ele sugere que você monte uma “lista de desejos” de todas as atividades que quer realizar ao longo da sua existência, e crie metas financeiras de médio e longo prazo para poder cumpri-las. O objetivo é definir um cronograma baseado em uma estimativa de sua morte – que você pode fazer pelo seu seguro de vida ou por aplicativos gratuitos na internet.

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Pode parecer polêmica, mas o argumento de Perkins rendeu frutos entre os super-ricos. Warren BuffettBill Gates e Steve Jobs, por exemplo, optaram por gastar seus robustos patrimônios em filantropia, ainda em vida. Os dois primeiros, inclusive, já deixaram claro: aos filhos, a profissão herdeiro não vai rolar.

Leia um trecho do livro a seguir:

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(Arte/VOCÊ S/A)

Página 43 – Por que morrer sem nada?

Seguir no piloto automático é fácil, e é por isso que o fazemos. Mas se você está tentando viver uma vida plena e ideal, em vez de apenas seguir o caminho mais prático, o piloto automático vai privar você de obter o que deseja. Para aproveitar a vida de forma absoluta, e não apenas sobreviver, precisamos parar de seguir adiante sem grandes reflexões e tomar as rédeas de forma ativa para chegarmos onde desejamos. Essa não vai ser a última vez que digo isso: ajudar você a viver de acordo com escolhas mais ponderadas é um dos meus maiores objetivos aqui. Precisamos continuar revisitando esse tema ao longo destas páginas, porque o piloto automático opera em diversas áreas da nossa vida, desde nossa forma de ganhar dinheiro até nossa forma de doar o dinheiro que temos. Cada tipo de piloto automático tem sua própria maneira de desperdiçar nossa energia vital e, portanto, precisamos de abordagens diferentes para eliminar os desperdícios. 

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Este capítulo se concentra no processo de ganhar e economizar mais dinheiro do que você jamais poderá desfrutar. Vamos sugerir uma solução pensada para acabar com esse tipo de desperdício. Para ilustrar esse ponto, falarei um pouco sobre John Arnold, uma pessoa com quem fiz amizade anos antes de ele se tornar bilionário. Já nos conhecíamos quando John criou um fundo de investimentos chamado Centaurus, cujo objetivo era lucrar bastante com sua experiência em negociação na área da energia. Mas enquanto trabalhava lado a lado com ele na Centaurus, pude ver que, de alguma forma, John muitas vezes deixava sua boa vida de lado em troca de ganhar mais milhões. Durante um dia de trabalho pesado, ele se virou para mim e disse: “Bill, quando eu chegar a 15 milhões de dólares, se eu ainda estiver trabalhando, me dá um soco na cara, ok?”.

Cada tipo de piloto automático tem sua própria maneira de desperdiçar nossa energia vital e, portanto, precisamos de abordagens diferentes para eliminar os desperdícios. 

Bem, é claro que eu não fiz isso quando John alcançou a tal meta, e ele continuou trabalhando como corretor. John é um cara brilhante. (As pessoas o chamavam de “o rei do gás natural”, devido a seus ganhos imbatíveis.) Em dado momento, John se deu conta de que faz muito mais sentido gastar dinheiro fazendo as coisas que se ama do que apenas seguir ganhando dinheiro, mas sua meta continuava mudando. Ele não parou nos 15 milhões. Suas negociações iam tão bem que esses 15 milhões viraram 25, e em certo ponto se tornaram 100 milhões, e assim por diante. Quando se entra em uma sequência de vitórias tão grande, é difícil parar, mesmo quando a mente racional diz que deveríamos. 

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A vida de John não se limitava ao trabalho. Ele fazia uma ou outra viagem para grandes eventos, mas dificilmente para algum destino ou evento espetacular, como seria esperado de um multimilionário. Na verdade, à medida que sua riqueza crescia, seu tempo de lazer parecia diminuir. John parecia preso ao raciocínio de que, se ganhasse mais dinheiro, poderia fazer mais coisas. Só que, na prática, ele não estava fazendo nem um pouco mais. 

John continuou comandando a Centaurus e não parou, mesmo quando atingiu um patrimônio líquido de 150 milhões de dólares. Em 2010, a fundação filantrópica que ele e a esposa criaram chegou ao total de 711 milhões de dólares em ativos. John era tão rico que suas doações eram milionárias como ele. E, embora não gostasse muito daquele trabalho, ele seguiu trabalhando. Quando finalmente se aposentou, em 2012, aos 38 anos, havia construído um patrimônio de mais de 4 bilhões de dólares. 

É claro que se aposentar relativamente jovem, aos 38 anos, é apenas um sonho para a maioria das pessoas, mas, para John, a aposentadoria estava atrasada em alguns anos. Por quê? Duas razões. Primeira, John nunca vai recuperar aqueles anos que passou concentrado apenas em ganhar dinheiro. Ele nunca mais terá 30 anos e seus filhos nunca mais serão bebês. Segunda, ele ganhou tanto dinheiro que agora enfrenta o mesmo problema do personagem de Richard Pryor na comédia Chuva de milhões: é bem difícil gastar uma fortuna assim com a velocidade necessária. Ele já mora em uma casa magnífica e hoje em dia faz praticamente o que quer. 

Um dos motivos pelos quais John não consegue gastar todo esse dinheiro são os filhos: por mais que queira ter o Maroon 5 fazendo um show particular em seu quintal todos os sábados, por exemplo, John não faz esse tipo de coisa porque não quer deixar seus filhos mimados. Filhos limitam nossa forma de gastar dinheiro e tempo. Tenha em mente que cada escolha que você faz afeta as escolhas subsequentes, e ter filhos é o exemplo mais comum disso. 

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John poderia dizer que se tivesse se aposentado com 15 milhões, nunca teria chegado aos 4 bilhões – uma quantia que lhe permite provocar um impacto muito maior nas causas sociais para as quais advoga. Uma grande verdade, sim, mas John também seria o primeiro a admitir que ultrapassou o ponto ideal da utilidade desse dinheiro. Ele ultrapassou esse ponto em 1,6 bilhão de dólares? Em 2 bilhões? Impossível saber, mas com certeza foi antes de acumular 4 bilhões. 

Você também pode estar pensando que John deve ter se divertido muito ganhando todo esse dinheiro, caso contrário não teria continuado fazendo isso por tanto tempo. Talvez ele tenha permanecido atrás da mesa de operações porque a sensação de negociar era mais emocionante do que qualquer experiência que ele poderia viver em casa. 

Acontece que John não estava fazendo uma escolha calculada entre trabalho e família, ou entre trabalhar por dinheiro e os milhões de outras coisas que poderia ter feito com a sua riqueza, tempo e talento. 

Não, ele continuava trabalhando porque adquiriu o hábito, como um fumante que começou a fumar quando era adolescente porque queria parecer legal para as garotas. Mas agora que arrumou uma namorada, por que continuar fumando? Ele havia adquirido um vício, e vícios são difíceis de largar. Para algumas pessoas, trabalhar por dinheiro pode ser a mesma coisa; é mais fácil continuar fazendo o que você sempre fez, especialmente quando o que você tem feito continua a recompensá-lo com a forma universal de reconhecimento da sociedade por um trabalho bem-feito, isto é, com dinheiro. Uma vez que você adquire o hábito de trabalhar por dinheiro para viver, a emoção de ganhar dinheiro supera a emoção de viver de fato. 

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Uma vez que você adquire o hábito de trabalhar por dinheiro para viver, a emoção de ganhar dinheiro supera a emoção de viver de fato.

Claro que John é um caso extremo, e sua situação simboliza um problema da classe alta. Mas a situação em que ele se encontra não é exclusiva, e nem mesmo se limita apenas aos ultrarricos em geral. Muitas pessoas acham que nunca ganharam o sufi ciente, e à medida que o patrimônio líquido cresce, suas metas continuam mudando. Mas não importa quem você seja, se dono de uma indústria ou um trabalhador comum. Uma coisa é verdade: se você gasta horas e mais horas de sua vida acumulando dinheiro e depois morre sem gastar tudo, então você também desperdiçou muitas horas preciosas da sua vida sem necessidade. Simplesmente não há como ter essas horas de volta. Se você morrer com 1 milhão de dólares na conta, isso é igual a 1 milhão de dólares em experiências que você não viveu. E se você morrer com 50 mil dólares sobrando, bem, são 50 mil dólares em experiências que você não viveu. Nem um dos dois cenários é o ideal, de forma alguma.

Se você morrer com 1 milhão de dólares na conta, isso é igual a 1 milhão de dólares em experiências que você não viveu.

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(Arte/VOCÊ S/A)
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*Escrito por Sofia Kercher.

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