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Bolsonaro “pai dos pobres” derruba o Ibovespa

Presidente suspende proposta de Guedes para o renda Brasil alegando defender o povo de baixa renda. Nos EUA, as big techs seguem em altas astronômicas.

Por Juliana Américo
Atualizado em 17 out 2024, 10h57 - Publicado em 26 ago 2020, 18h29
 (Hulton Archive/Getty Images)
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O que parecia ser um dia modorrento, com os mercados andando de lado, se transformou em um cheio de emoções. Os Estados Unidos surpreendeu com as novas máximas históricas dos indicadores S&P 500 e Nasdaq. O primeiro valorizou 1,02% e atingiu os 3.478,73 pontos; o outro subiu 1,73%, alcançando 11.665,06 pontos. Já o Dow Jones fechou em 28.331,92 (0,30%).

De novo, as gigantes da tecnologia pagaram a cerveja dos investidores nesse verão americano. Olha isso: Google: 2,38%; Amazon: 2,85%; Tesla: 6,42%; Netflix, 11,61%. Uau.

Na parte macroeconômica, a expectativa lá fora é para o simpósio anual do Fed, que começa amanhã. Toda a atenção está voltada para o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, que deve abordar o futuro dos juros da economia americana. 

O lance é o seguinte. O Fed sempre aumentou os juros ao menor sinal de inflação (já que juros mais altos são a melhor arma contra a perda de valor da moeda). Os analistas, porém, imaginam que Powell não deve fazer isso agora. Que vai manter os juros perto de zero mesmo que os preços comecem a subir. Isso pode ser ok para retomar o crescimento da economia por lá. Mas também pode muito bem levar a um colapso do valor do dólar. Stay tuned.  

Pobres e paupérrimos

Por aqui, não dá para dizer a mesma coisa. O ministro Paulo Guedes não está em seus melhores momentos e o atrito com o presidente Jair Bolsonaro só aumenta com a proposta de criação do Renda Brasil – programa pensado para substituir o Bolsa Família. O mais novo entrave está relacionado com o abono salarial (um benefício pago a trabalhadores que recebem até dois salários mínimos). A previsão é de que, neste ano, o abono custe aos cofres públicos um total de R$ 18,3 bilhões.

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Enquanto o ministério da Economia quer o fim do benefício para conseguir financiar o novo projeto, Bolsonaro afirma que não vai aprovar a extinção por causa de resistências no Congresso. “Não vou tirar do pobre para dar ao paupérrimo”, disse o Presidente, que após ver o auxílio emergencial alavancar sua popularidade, aderiu de vez ao populismo de massa, estilo Getúlio Vargas.

O problema do populismo, seja ele de esquerda ou de direita, é que você precisa combinar com o russos das finanças se há como bancar novas benesses sociais. Bolsonaro não gostou proposta do Ministério da Economia, e decidiu nem enviá-la para o congresso. A proposta está suspensa agora – e joga sob a luz do dia o grau de desentendimento entre o presidente e seu principal ministro. 

O mercado, que torce por uma trégua entre Bolsonaro e Guedes com mais afinco do que do que Moraes Moreira torcia para o Flamengo, não gostou, lógico. E o Ibovespa vermelhou geral. 

Logo depois do discurso do presidente desbancando Guedes, a bolsa registrou mínima de 99.359 pontos, e a muito custo retornou aos 100.627, com queda de -1,46%. E foi aquela gangorra: bolsa lá embaixo, dólar lá no alto. A moeda subiu 1,59%, a R$ 5,61.

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Quem segurou a bronca foi o Magalu. O valor das ações da varejista atingiu sua  nova máxima histórica. Com alta de 2,33%, terminou o dia a R$ 90,05 – até então, o fechamento mais alto do papel foi na quarta-feira passada (19): R$ 89,70.

No setor de saúde, o grupo Notre Dame Intermédica anunciou a aquisição das empresas do Grupo Medisanitas Brasil – até então controlada pela colombiana Keralty – por R$ 1 bilhão. Conforme detalhou a companhia, a transação será paga à vista, com recursos próprios das controladas e linhas de crédito já alinhadas com instituições financeiras. O negócio ainda depende de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e da (ANS) Agência Nacional de Saúde Suplementar. Mas já foi o suficiente para jogar as ações da companhia lá para cima (3,24%). 

Hoje também foi um dia com notícias positivas para o pessoal do aço. A Usiminas ligou seu alto-forno 1, na unidade de Ipatinga, em Minas Gerais. O equipamento estava inoperante há quatro meses, desde 24 de abril, por conta dos impactos da covid-19 na economia. Ele é responsável pela produção de ferro-gusa, a primeira etapa do processo siderúrgico, e, como a empresa não faz estoque do material, isso indica uma retomada da indústria – algo fundamental não só para as siderúrgicas, mas para toda a economia.

Tudo isso colocou a Usiminas e as outras siderúrgicas lá em cima no início do pregão. Mas nem elas tiveram força para sobreviver à crise Guedes X Bolsonaro. E fecharam o dia assim: Usiminas (-1,42%), CSN (-1,55%), Gerdau (-0,05%).

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Ainda no mundo metálico: governo de Minas Gerais, junto com o Ministério Público, Advocacia-Geral da União (AGU) e outras instituições, entrou com uma petição judicial para bloquear até R$ 26,68 bilhões  em contas da Vale por danos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro em 2019. Isso, porém, afetou pouco as ações da Vale. O minério de ferro se recuperou bem no porto de Qingdao (+0,98%), e isso bastou para que a mineradora não embarcasse no trem vermelho do Ibovespa, e fechasse numa ligeira alta de 0,21%.    

O petróleo também tinha tudo para subir, mas não rolou. Os estoques dos EUA recuaram 4,689 milhões de barris – mais do que a previsão, de 3 milhões. Além disso, o furacão Laura, que atingiu o Golfo do México, afetou 85% das plataformas e reduziu a produção da região. Esses dois fatores, em condições normais, elevariam o preço do barril. Só que não estamos em  condições nada normais. Incertezas sobre o futuro da demanda, por conta do aumento de casos Covid nos EUA, fizeram o barril do tipo Brent (referência internacional) cair 0,48%. O WTI (referência nos EUA), ficou apenas estável: 0,09%. 

E se nem o petróleo conseguiu subir, imagina a Petrobras. A estatal acabou mesmo tragada pelo pessimismo do resto da B3, e viu suas ações entrarem em queda livre, fechando o dia em -2,86%.

Maiores altas

Notre Dame Intermédica: 3,24%

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Magazine Luiza: 2,33%

Marfrig: 1,35%

Suzano: 1,29%

TOTVS: 0,93%

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Maiores baixas

Eletrobras (ELET3): -4,71%

Embraer: -4,57%

Cemig: -4,23%

Ultrapar: -4,02%

Eletrobras (ELET6): – 4%

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