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Segundo este autor, seu chefe tem grandes chances de ser um psicopata

Em novo livro, Thomas Erikson defende que as pessoas com transtornos de psicopatia estão mais próximas do que você imagina. Entenda.

Por Monique Lima
Atualizado em 8 jun 2021, 13h32 - Publicado em 11 mar 2021, 15h00

Cuidado! Há psicopatas por todos os lados planejando formas de manipular você. Pelo menos é o que afirma o escritor Thomas Erikson em seu livro Cercado por Psicopatas, lançado pela Editora Intrínseca. Segundo o autor, que é palestrante e especialista em comportamento humano há 25 anos, os psicopatas não se resumem apenas a criminosos confinados em presídios: eles são mais comuns do que imaginamos e usam charme e manipulação para conseguir o que querem. 

Podem ser colegas de trabalho, chefes e até mesmo aquele amigo mais próximo — todos são suspeitos. No livro, o autor dá dicas de como identificar essas pessoas, resume truques cotidianos que elas usam e também ensina como se desvencilhar das suas formas de dominação.. 

Embora a conclusão de Thomas soe um tanto quanto paranoica, existe um contexto que levou o especialista a defender a teoria.  Antes de Cercado de Psicopatas, o autor escreveu Cercado de Idiotas, também publicado no Brasil pela Editora Intrínseca em 2020. Nele, Thomas fala sobre a dificuldade natural do ser humano em lidar com a discordância do outro. 

Nos tempos que vivemos, isso está bem evidente. As redes sociais alimentaram as polarizações. Que ver só? Quando alguém não concorda com você, sua avaliação mais rápida é que essa pessoa é uma idiota que não consegue ver as coisas com clareza, não é? É essa intolerância de lidar com o outro que, para o autor, faz de todos nós completos idiotas. 

De acordo com ele, a base dessa dificuldade está na falta de comunicação e habilidade de ler o comportamento do próximo. Thomas propõe que devemos compreender os diferentes comportamentos das pessoas. Entendendo como o outro age, fica mais fácil para as pessoas se alinharem.  Para isso, o autor trabalha com o famoso método DISC, descrito pelo psicólogo americano William Moulton Marston no livro As Emoções das Pessoas Normais, publicado em 1928. 

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Trata-se de uma metodologia de análise comportamental marcada por quatro tendências humanas, que são ilustradas por cores: dominância (vermelho), influência (amarelo), estabilidade (verde) e conformidade (azul). A descrição completa do DISC é a seguinte: 

Vermelho: ambicioso, determinado, rápido, pontual, impaciente, guiado por resultados;

Amarelo: entusiasmado, criativo, encorajador, falante, sem interesse por rotina;

Azul: sistemático, distante, parece inseguro, perfeccionista, meticuloso, segue regras;

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Verde: leal, cauteloso, discreto, acolhedor, prestativo, produtivo, guiado por relações.

Claro, nenhuma pessoa possui somente uma dessas características. Em geral, todos têm uma cor predominante, combinadas com detalhes de outras cores, mas jamais as quatro juntas.

E o psicopata nisso tudo? Foi depois de publicar o livro explicando o DISC que o autor descobriu que o psicopata não se encaixa em nenhuma das opções. Na verdade, ele se adequa às cores para influenciar outras pessoas — e não por ter características próprias. 

Dentro desse sistema, o psicopata pode ser charmoso para influenciar um “vermelho” ambicioso. Ou passivo-agressivo para manipular um “verde” prestativo. Há somente uma coisa em comum: o desejo de explorar o outro. 

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A intenção de Thomas com o livro é ensinar as pessoas a avaliar o próximo. Entender como os diferentes comportamentos, seja dentro do DISC seja de um psicopata, funcionam. E, por fim, estando mais atento ao comportamento alheio, ajustar a si próprio para lidar melhor com chefes, colegas e subordinados.  

Cercado de Idiotas foi publicado nos Estados Unidos em 2014 e Cercado de Psicopatas em 2018. Desde então, mais de 2 milhões das obras foram vendidas em mais de 20 países. Outros livros escritos pelo autor são Cercado de Péssimos Chefes e Cercado de Contratempos, ainda não publicados no Brasil. A seguir, Thomas explica o que o levou a escrever sobre os psicopatas  e, claro, como lidar com eles. 

Como você conheceu o método DISC e por que decidiu se aprofundar nele?

Eu usei o modelo DISC como uma ferramenta de comunicação por muitos anos. Muitos de meus clientes me perguntaram onde poderiam aprender mais sobre o tema e, finalmente, decidi escrever um livro. Nenhuma editora quis publicá-lo no início. Eles me disseram que era um título estúpido, que a capa era feia e que eu deveria simplesmente abandonar a ideia. Mas não o fiz. Em vez disso, eu mesmo publiquei e hoje ele está traduzido para mais de quarenta idiomas.

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Foi depois de escrever Cercado de Idiotas que você se deparou com o assunto da psicopatia?

Sim, após a publicação recebi e-mails diversos e, como o esperado, a maioria eram de pessoas dizendo que gostaram do livro. Entretanto, havia alguns que me questionavam (de maneira estranhamente franca) como utilizar a teoria DISC em outras pessoas. Obviamente isso não era a minha intenção, então passei a aprender mais sobre manipulação — e caí na psicopatia, um assunto muito perturbador. Então, percebi que existem mais psicopatas do que eu poderia imaginar.

Quem são os psicopatas e por que eles não se enquadram na classificação DISC?

A psicopatia é um transtorno de personalidade e o DISC não mede isso. Ele avalia apenas comportamentos e, portanto, é impossível descobrir qualquer coisa sobre psicopatia dessa forma. Se um psicopata fizesse uma análise comportamental, provavelmente algo sairia disso, mas nunca seríamos capazes de confiar no resultado. Os psicopatas são especialistas em jogos. Ferramentas muito mais avançadas são necessárias para classificar um psicopata. Como o PCL-II [Escala de Hare, um método de avaliação de graus de psicopatia usado internacionalmente].

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As pessoas relacionam psicopatia a criminosos, como foi aplicar essa ideia para o ambiente de trabalho? 

Existem muitos mitos sobre psicopatas. Eles são supostamente assassinos em série, malucos e assim por diante. Mas, não é bem assim. É verdade que, em média, mais psicopatas são criminosos do que o restante da população, porém a maioria dos psicopatas não está atrás das grades. Eles estão entre nós. Os estúpidos podem acabar na prisão, mas os inteligentes não. E os psicopatas podem chegar ao topo em absolutamente todas as áreas: corporativo, política, entretenimento, você escolhe. Isso me fascinou. Como obviamente fascina muitos outros também.

Como os leitores podem usar essas informações para avançar na carreira ao invés de ficar paralisados ​​já que, bem, seus chefes e colegas podem ser psicopatas? 

Ótima pergunta. Meu ponto é que você não deve sair por aí e ter medo de dar de cara com um psicopata. Minha mensagem é que devemos prestar atenção quando encontramos novos conhecidos. Esteja um pouco mais atento. Assim como quando você dirige seu carro no trânsito intenso e você é observador. Com certeza há riscos de estar lá, mas você ainda faz isso. Você não fica em casa. Meu conselho é aprender mais sobre manipulação e ser realista: algumas pessoas não estão aqui para o bem maior. Eles existem apenas para si próprios. E, na maioria das vezes, eles têm uma agenda oculta. Se você souber o que procurar, terá menos com que se preocupar.

É válido usar a teoria do livro para evitar contratar pessoas que tenham sinais de psicopatia?

Pergunta difícil. Primeiro, porque para realmente diagnosticar alguém com psicopatia é preciso ser um especialista. Todos nós temos alguns pontos na lista de verificação desse transtorno. Mentir, correr riscos e assim por diante. Você deve procurar padrões específicos e isso leva tempo. Em segundo lugar, um psicopata não se revelará em uma entrevista. Porém, algo importante: se algo parece bom demais para ser verdade é bom duvidar. E o psicopata é um especialista em se vender.

O que fazer quando é você que se identifica com alguns dos traços psicopáticos?

Como mencionado antes, todos nós marcamos alguns pontos. Mas, um verdadeiro psicopata nunca se vê como um psicopata. Eles simplesmente não pensam isso. Se você tem medo de ser um psicopata, essa geralmente é uma evidência bastante segura de que você não é.

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