De volta ao jogo: Estratégias para recuperar seu rendimento no trabalho
Um guia prático (e realista) para identificar os sinais de que algo não vai bem e retomar o controle da sua energia.

Sabe aquele profissional que sempre foi sinônimo de produtividade? Entregava tudo no prazo, organizava o happy hour, respondia e-mail antes do chefe pedir e ainda sobrava energia para correr 5K e cuidar das plantas. Pois é. De repente, ele começa a se sentir mais lento que internet discada, vive esquecendo tarefas, está sempre cansado e o único objetivo do dia é… sobreviver à próxima reunião.
Se você se identificou com essa cena (ou conhece alguém assim), respire fundo: isso é mais comum do que parece, e tem nome. Não, não é preguiça. Estamos falando de uma queda de rendimento profissional, um fenômeno que pode afetar qualquer pessoa, em qualquer fase da carreira. E, spoiler: não é o fim da linha. É um sinal.
Segundo pesquisa da Deloitte (2023), 74% dos profissionais relataram sintomas de exaustão mental ou perda de produtividade no último ano. E o relatório “State of the Global Workplace” da Gallup (2024) aponta que apenas 23% dos trabalhadores no mundo estão realmente engajados no trabalho.
Ou seja, se você anda funcionando no modo “tanto faz” ou se sente mais improdutivo que reunião sem pauta, talvez seja hora de olhar com mais carinho para sua própria carreira e para você mesmo.
As razões mais comuns
Quando um profissional começa a se sentir fora do eixo, o primeiro passo é entender que isso pode acontecer com qualquer um, e por muitos motivos. Veja os mais comuns.
Pode ser por simples cansaço físico ou emocional. Excesso de tarefas, noites mal dormidas, reuniões eternas e a cultura da disponibilidade 24/7 são ingredientes perfeitos para um quadro de burnout. O corpo avisa: concentração baixa, irritabilidade alta, energia no negativo. Segundo a OMS, a Síndrome de Burnout já é considerada um fenômeno ocupacional, e o Brasil lidera o ranking.
Problemas fora do escritório também têm um impacto inegável. Lidar com questões familiares, luto, crises financeiras ou ansiedade interfere diretamente no foco. Uma pesquisa da Think Eva e LinkedIn (2023) mostra que 76% dos profissionais reconhecem que suas emoções afetam sua entrega no trabalho.
Outro motivo é um desalinhamento com a função ou com o propósito. Às vezes, o trabalho perde o sentido. Pode ser a empresa que mudou, o cargo que virou outra coisa… ou você mesmo, que evoluiu. Resultado: queda de motivação. Um estudo da McKinsey (2022) mostra que 70% dos profissionais que pediram demissão alegaram falta de propósito.
E a empresa pode contribuir muito com essa queda de rendimento, principalmente aquelas com um clima organizacional tóxico. Ambientes nos quais imperam o microgerenciamento, a competitividade sem propósito ou a ausência de escuta ativa drenam energia.
Nessas empresas, ninguém sabe exatamente o que deve entregar, e o caos está armado. Confusão e retrabalho minam a produtividade. A Gallup revela: só 41% dos trabalhadores globais sabem o que é esperado deles.
Está tudo bem com você?
Não espere desmaiar em cima do teclado para perceber que algo vai mal. Existem sinais e ferramentas que ajudam a perceber e agir.
Os sinais mais comuns de que seu trabalho não está mais rendendo como antes começam com uma procrastinação crônica (até para responder “ok” no WhatsApp corporativo) e uma queda brusca de energia, mesmo com três cafés e um energético. Note também se está rolando um desinteresse por tarefas que antes eram motivadoras. Sentimentos como irritabilidade por qualquer coisa ou frustração são outros indicadores fortes.

A luz no fim do túnel
Antes que seu rendimento entre no alerta vermelho, quando a demissão parece inevitável, há algumas providências que podem ajudar. A primeira passa pelo autoconhecimento. Faça um diagnóstico pessoal honesto. Susan David, psicóloga de Harvard, lembra: “Negar emoções é o caminho mais curto para a estagnação”. Para isso, use diários, testes e autorreflexão. O que está te travando?
Nesse exercício de autoconhecimento, vale se perguntar ainda o que te dá orgulho no trabalho. É uma forma de reacender o propósito, que está na raiz da motivação. Como aponta Frederic Laloux, autor do livro Reinventando as Organizações, “o desempenho humano floresce quando há senso de pertencimento e propósito”.
Viver num caos diário é um dos fatores que mais tiram o prazer de trabalhar. Para sair do olho do furacão, reorganize sua rotina e defina prioridades. David Allen, autor de A Arte de Fazer Acontecer, recomenda: “Sua mente é para ter ideias, não para armazená-las”. Tente o método Pomodoro de gestão de tempo, time blocking, matriz de Eisenhower… Redefina entregas e defenda seus limites.
Também vale retomar (ou iniciar) hábitos saudáveis, porque isso ajuda em tudo. Estar bem disposto para todo o seu período de vigília inclui estar bem disposto para o trabalho. Isso envolve sono de qualidade, comida de verdade, atividade física (sim, seu médico tem razão)… e pausas também. A produtividade aparece mais na recuperação do que na resistência.
Viver num caos diário é um dos fatores que mais tiram o prazer de trabalhar.
E pode também contar com ferramentas que o ajudem a avaliar (e melhorar) seu rendimento. Vamos a elas.
Diários de produtividade e energia: Anotar, ao fim do dia, o que você fez, como se sentiu e o quanto estava focado pode revelar padrões (e gargalos).
Aplicativos de bem-estar emocional: Daylio, Wysa, Moodpath, Headspace… são apps que ajudam a monitorar humor e identificar tendências de esgotamento.
Autoavaliações estruturadas: Ferramentas como DISC, MBTI, StrengthsFinder e feedbacks 360º ajudam a entender como você está se percebendo e sendo percebido.
A ajuda que vem de quem paga o seu salário
Não se sinta solitário nessa recuperação da sua produtividade. A empresa pode (e deve) ajudá-lo. Até porque é de interesse dela, ter um profissional que esteja na plenitude da sua performance. E manter um talento sai muito mais barato do que demitir e ir atrás de um substituto.
Por isso, converse primeiro com seu líder direto. Claro, não é o assunto mais agradável do mundo, dizer que você não está rendendo mais do jeito que era antes, mas, se o seu histórico na empresa é bom, as pessoas vão te escutar. “Boas lideranças não exigem respostas prontas, elas criam espaços seguros para perguntas difíceis”, diz Adam Grant, psicólogo organizacional e autor de Repensar: A Arte de Mudar de Ideia.
Fale com jeitinho, mas com sinceridade. Leve exemplos, hipóteses e abertura para buscar soluções conjuntas. Bons líderes não julgam, eles colaboram.
E procure o RH (ele está lá para isso!). Uma área de recursos humanos estratégica oferece escuta ativa, programas de apoio psicológico e suporte para redesenhar rotinas ou funções. Pode ser tudo o que vira a chave para um profissional em baixa.

A empresa também pode oferecer coaching e mentoria de carreira. Se o problema for falta de propósito ou desencaixe com a função, o coaching pode ser um mapa, e a mentoria, uma lanterna.
Falando em uma luz à sua frente, ela existe também fora do seu escritório. Fóruns no LinkedIn, comunidades de carreira ou rodas de conversa internas ajudam a tirar o peso dos ombros e a ouvir outras perspectivas.
Rendimento não é constante. E tudo bem
Acredite: todo mundo já teve aquele mês em que entregou menos que o usual. Ou aquele trimestre em que o botão da motivação parecia travado. A oscilação faz parte da jornada profissional. O problema não é cair. É ignorar os sinais.
Se você anda se sentindo distante do seu melhor desempenho, não se cobre ainda mais. Comece acolhendo a si mesmo com empatia, identifique os fatores em jogo e busque apoio… seja profissional, institucional ou emocional.
Lembre-se: rendimento sustentável não vem de cobrança, mas de equilíbrio. E, às vezes, para voltar a render, tudo que a gente precisa é parar um pouco e se perguntar: “afinal, o que está realmente acontecendo comigo?”. A resposta pode indicar o caminho de volta à melhor versão de si mesmo.