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O que é arbitragem?

Foi o jeito que o Paulo Guedes arrumou para ganhar um bom dinheiro no começo do Plano Real.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 6 dez 2022, 08h25 - Publicado em 8 jul 2022, 06h05

É aquilo que o cara do apito faz num jogo de futebol. Próxima! Brincadeira. “Arbitragem” é o jargão financeiro para explorar diferenças no preço de uma mesma coisa em mercados diferentes. Acontece muito com cripto. A cotação do Bitcoin pode estar, digamos, a US$ 21.306 na Binance e a US$ 21.312 na Coinbase.

Se você comprar mil Bitcoins na primeira e vender imediatamente na segunda, lucra US$ 12 mil no ato. Não que seja simples. Primeiro, você vai precisar de US$ 21 milhões para fazer a compra. Segundo, que as tarifas envolvidas num volume assim podem somar mais do que os US$ 12 mil. Aí não tem negócio.

Mesmo assim, não falta arbitragem no mundo cripto. Nos períodos mais voláteis, em que os preços estão subindo ou caindo demais, rápido demais, as diferenças na cotação de cada corretora podem ficar grandes o bastante para que a operação valha a pena. Detalhe: todo mundo no mercado percebe, e começa a fazer as compras e vendas entre instituições diferentes. Nisso, os preços vão equalizando – e a oportunidade de arbitragem acaba.

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A forma mais tradicional de arbitragem envolve juros. É o carry trade (“carregamento” em economês do Brasil). Você pega emprestado num país que cobra juros baixos, investe num outro que paga juros altos, paga o empréstimo e embolsa a diferença. O antigo Banco Pactual (atual BTG Pactual) fez uma bela grana com isso no início do Plano Real. A Selic da época (então chamada de “Taxa Básica do Banco Central”) estava em mais de 60%. Nos EUA, os juros do Fed eram de 5,5%.

Os então sócios do Pactual, André Jacurski e Paulo Guedes (ele mesmo), passaram a pegar dólares emprestados a taxas próximas desses 5,5% (uns 7%, digamos) e converter em reais. Então adquiriam títulos públicos aqui que pagavam 60%. Como o governo da época garantia a paridade entre o dólar e o real, funcionava como receber 60% de juros em dólar.

Em um ano, US$ 100 milhões emprestados viravam US$ 160 milhões. Pagavam US$ 10,7 milhões (o empréstimo mais 7% de juros do nosso exemplo aqui) e pronto: a  diferença de US$ 49,3 milhões virava lucro na veia. Parece dinheiro fácil. E é mesmo. Mas havia risco: se o Plano Real não tivesse dado certo, o real teria desvalorizado abissalmente da noite para o dia, e a dívida em dólar ficaria impagável. Não existe almoço grátis, afinal. 

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