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O come-cotas dos fundos afeta o rendimento deles?

Sim, porque ele atrapalha a magia dos juros compostos. O Pac-Man afeta fundos de renda-fixa, multimercados, debêntures, cambiais e ouro.

Por Alexandre Versignassi
10 fev 2023, 05h23

Afeta. Um fundo com come-cotas, taxa zero e rendimento médio de 10% ao ano transforma R$ 10 mil em R$ 12.733 líquidos ao longo de três anos, depois da saraivada de impostos. Num CDB equivalente, que não tem come-cotas, dá R$ 95 a mais: R$ 12.828.

Note que o IR sobre os dois, para esse prazo de três anos, é o mesmo: 15% sobre o rendimento. Os juros são iguais também, e não rolam taxas nem em um nem no outro. Por que, então, o CDB dá um teco a mais? Porque o come-cotas atrapalha a magia dos juros compostos.

A coisa é um adiantamento do imposto de renda que incide sobre os fundos de renda fixa e multimercado (veja no box). Ele cobra 15% sobre o rendimento a cada 6 meses*, sempre no último dia útil de maio e de novembro.

Vamos dizer que, em dezembro, você colocou R$ 10 mil num fundo DI que esteja dando 10% ao ano. Dá 0,798% ao mês. Ao fim de 6 meses, em maio, seu saldo será de R$ 10.490. Mas aí vem o come-cotas, e digere 15% desse rendimento de R$ 490. Seu saldo, então vai cair para R$ 10.416. É sobre esse montante que os juros de 0,798% mensais vão incidir, não sobre os R$ 10.490. Seis meses depois, vem outra pancada na cabeça dos juros compostos.

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Fundos com come-cotas:
De renda-fixa, multimercados, debêntures, cambiais, ouro.

Fundos sem come-cotas:
De ações, previdência, ETFs, imobiliários e de debêntures incentivadas.

Num CDB, ou qualquer outra coisa que não tenha come-cotas, a cobrança dos 15% vem só quando você saca (caso isso role após 720 dias, se não a taxa é maior). Caso você deixe a grana investida por seis meses, vai dar na mesma. Passou disso, o CDB começa a ganhar dos fundos. Quanto mais tempo, maior a vantagem. Em cinco anos, por exemplo, R$ 100 mil numa aplicação sem come-cotas que paga 10% a.a. se transformam em R$ 152,2 mil. Em uma com o come, daria R$ 150,4 mil. R$ 1.800 de diferença.

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Só note que não faz sentido calcular a disparidade para prazos maiores do que esse. Se você não investir num fundo, terá de trocar de CDB a cada três ou, no máximo, cinco anos – já que eles vencem. Idem para títulos Tesouro Selic (o mais longo à venda hoje é de seis anos). E na hora da troca você paga o imposto, quebrando as pernas dos juros compostos.

Para aproveitar juros compostos a valer mesmo, só com ações. Primeiro porque fundos de ações não têm come-cotas. Segundo, porque não há impostos sobre os dividendos. Se você reaplicar sempre que eles pingarem na conta, o provento seguinte virá engordado pelos juros compostos, sem adiantamento de imposto. E ações só “vencem” se a empresa sair da bolsa. Ou se ela quebrar – e esse é um risco real, sabemos todos. No fim, não existe vida fácil no mundo das finanças, por mais que gerentes, agentes autônomos e influencers tentem te convencer do contrário.

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*Taxa para os fundos de longo prazo, os mais comuns; nos de curto, que investem em títulos com vencimento em até um ano, a cobrança é de 20% (vale checar na lâmina do seu fundo)

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