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Diana Gabanyi

Por The School of Life
É diretora e sócia-fundadora da The School of Life
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Bom o suficiente: conheça o conceito que combate o perfeccionismo

Já parou para pensar no que deu certo na sua vida? Refletir sobre isso ajuda a diminuir a ansiedade em alcançar a perfeição

Por Diana Gabanyi, colunista de VOCÊ RH
16 nov 2020, 18h00

Olhe a sua volta, publicitariamente falando. Tudo o que vemos há décadas são anúncios de famílias perfeitas, férias inesquecíveis em lugares paradisíacos, imagens de profissionais ultra bem-sucedidos… Todos sempre com o sorriso no rosto. Isso, não importando se são cirurgiões que passam anos estudando, operando as mais complicadas partes do nosso corpo, perdendo diversas batalhas contra a vida, ou se são pessoas do mercado financeiro, submetidas ao estresse diário de quem opera a bolsa de valores. A imagem que temos é sempre a do sorriso e a do profissional bem-sucedido. Crescemos com esses ideais da busca de um mundo perfeito.

Claro, todos nós queríamos viver assim. Ter ambições altas é importante, é nobre, mas chega um momento em que tanta ambição só nos traz ansiedade e problemas infindáveis.

Feito é melhor do que perfeito

Lembro de quando era uma estudante de jornalismo e, por falar inglês fluente, acabei sendo convidada, junto a uma amiga, para “ciceronear” o veterano repórter de guerra da CNN Peter Arnett. Ele estava no País para lançar a sua biografia e, entre os seus compromissos, estava uma palestra na PUC. Foram três dias intensos, em que aprendi – para sempre – o conceito do “Bom o Suficiente”.

Ele contou que nas guerras, décadas atrás, antes de trabalhar na televisão, a tecnologia ainda engatinhava no mundo e o sucesso era conseguir ditar uma matéria para a redação por telefone. Na visão dele, o importante era fazer com que a mensagem principal de interesse público chegasse à redação, ainda que faltassem alguns detalhes. Não dava tempo de se preocupar com a matéria perfeita. O importante era a notícia chegar, antes de outra bomba causar mais estragos em alguma região.

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Usei e até hoje uso essa referência na minha vida. Quem me conhece sabe o quanto eu prezo por trabalhos completos, com planejamento e capricho. Mas, dependendo da situação, acredito de verdade que vale muito mais um projeto bom e que saia do papel, apesar de não estar 100% completo, do que um que pode vir a ser perfeito, mas que nunca vire realidade.

Bom o Suficiente

Anos depois, já na The School of Life, fui me aprofundar no conceito do “Bom o Suficiente” e descobri que ele surgiu nos anos 1950 com o psicanalista britânico Donald Winnicott. Trata-se de um especialista em relações entre pais e filhos, que minou nossos ideais do perfeccionismo. Ele entendia que o desespero dos pais era consequência de uma busca por serem “pais perfeitos”. Para ajudar a aliviar esse fardo, criou o conceito de “pais bons o suficiente”, que foi ampliado para usarmos na vida em geral, especialmente em torno do amor e do trabalho.

Na The School of Life entendemos que um trabalho “Bom o Suficiente” é aquele que nos apresenta a amigos verdadeiros, projetos importantes para nós e pessoas tão apaixonadas por certas causa como a gente… Mas também pode ser o lugar em que, às vezes, vamos sentir tédio, não colocaremos todas as nossas habilidades em prática ou não nos deixará milionários… Esse conceito nos faz sentir confortáveis com a ideia de que, em qualquer parte da vida, podemos ter momentos de empolgação legítima e realização profunda, ainda que terminemos alguns dias bastante cansados ou reflexivos.

Desistir? Jamais

Talvez, você esteja se perguntando se com o “Bom o Suficiente” não corremos o risco de desistir dos mais lindos sonhos, dos ideais que nos colocamos ou nos foram impostos, por exemplo, quando entramos anos atrás entramos em uma universidade. Minha resposta é: não. Esse conceito nos convida a explorarmos mais os nossos limites e da situação que estivermos vivendo, aceitar que podemos mostrar vulnerabilidade e admitir fracassos de vez em quando.

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Pense em uma obra de arte. Em vez de admirar o resultado final pendurado no museu ou em um palácio aristocrático com moldura de ouro, que tal tentar enxergar quantas vezes o artista precisou refazer o quadro, quantos rascunhos foram necessários para se chegar à versão que resolveu apresentar? Quando penso dessa forma, tenho mais facilidade para reconhecer que, às vezes, vou errar, fracassar… Precisamos nos permitir ser imperfeitos por um longo período para nos dar a chance de, um dia, daqui a um bom tempo, fazer algo que será considerado um grande sucesso.

Minha sugestão é que você comece essa mudança de pensamento fazendo uma breve pausa na correria do seu dia a dia para apreciar o que já tem, aquilo que já deu certo na sua vida, quem e o que você tem – trabalho, colegas, parceiros, família. Talvez, você descubra que já tem algo “Bom o Suficiente”. Dessa maneira, começamos a tirar a pressão e a ansiedade do ideal da perfeição e entendemos que o que já temos é uma grandiosa conquista e pode nos impulsionar para objetivos ainda maiores.

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(imagem/Divulgação)
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