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Claudio Lottenberg

Médico oftalmologista, é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde. Também atua como conselheiro da Unicef.
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Sucesso: o que é, com que se parece e como chegar lá

Curta o caminho, não tenha pressa e o mais importante: busque o que você considera sucesso, e não a ideia clichê de sucesso vendida por aí.

Por Claudio L. Lottenberg
9 dez 2022, 17h29
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 (gradyreese/Getty Images)
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O historiador inglês Peter Burke, em uma passagem conhecida de seu livro Uma história social do conhecimento, lembra da Enciclopédia: o esforço dos pensadores franceses do século 18 Denis Diderot e Jean D’Alembert de reunir todo o conhecimento acumulado pela humanidade até então em 17 volumes, produzidos ao longo de 14 anos.

D’Alembert, segundo Burke, diz que informação pode ser organizada segundo o método temático (usado pelas enciclopédias) e o “princípio do dicionário” (a boa e velha ordem alfabética).

Os dicionários já eram usados pelos romanos e mesmo pelos gregos antigos como fonte de consulta a respeito do significado de palavras. Com a invenção da imprensa no século 15, os livros – e entre eles, os dicionários – ganharam mais espaço. E a linguagem evolui, claro.

Soa quase como uma obviedade hoje: com tantas mudanças ocorridas ao longo da história – sociais, políticas, econômicas –, significados de conceitos e palavras vêm e vão. E um que, sem dúvida, está entre os mais interessantes e contemporâneos de se investigar, é o de “sucesso”.

Os dicionários, cada um em sua própria formulação, nos informam que a palavra (que surgiu na segunda metade do século 16) tem como algumas de suas acepções as de resultados positivos, êxito, triunfo. Fica claro, então, que não há muita dúvida quanto ao que a palavra representa, e que seu sentido não variou nos últimos 5 séculos.

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E, mesmo assim, a palavra “sucesso” tem um sentido particular para cada pessoa que a emprega. O dicionário nos ajuda com o sentido objetivo do termo – ele sempre vai se referir a empreendimentos que tenham sido bem-sucedidos. Mas há um componente subjetivo a se levar em conta: o que é ser bem-sucedido para você?

Sucesso tem a ver com chegar ao fim de uma empreitada e perceber que o resultado final do esforço nos levou aonde queríamos estar. Abrir uma empresa e vê-la crescer e prosperar; conseguir o grau acadêmico que se desejou tanto alcançar (e que custou tantas noites em claro estudando); chegar a uma certa idade já tendo assegurado uma casa própria, uma família, um emprego estável – enfim: sempre que algo acontece de acordo com um plano, chamamos (com razão) o resultado de sucesso.

E aí chegamos ao outro lado da moeda: nossos planos e o ritmo do mundo real podem não estar em sincronia. Raro é que estejam. Boa parte do nosso esforço em viver é justamente fazer com que esses ritmos correspondam.

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O problema é que vivemos em tempos em que uma certa ideia de sucesso se tornou paradigmática e muitas vezes ocupa o espaço da nossa ideia particular de sucesso. Dinheiro, fama e poder são tipicamente vendidos como alvos máximos do sucesso de qualquer um – e aqueles que porventura discordem são ostracizados, vistos como excêntricos.

Isso cria uma demanda por fórmulas, que pareçam de fácil compreensão e assimilação. Há toda uma indústria que atende a demanda por sucesso, que manisfesta na forma de livros, de cursos e de outros tipos de treinamento.

Se fosse possível, no entanto, elaborar uma lista de aplicação mais geral, sugeriria três passos:

  1. Se você souber onde quer chegar em um determinado período de tempo, certamente será mais simples imaginar como chegar lá. O escritor inglês Lewis Carroll escreveu que se você não sabe aonde está indo, qualquer caminho serve. Talvez seja o caso acrescentar: serve para deixar você ainda mais perdido. Defina o destino da viagem: só assim o mapa poderá ser feito.
  2. Aproveite a viagem. Entre a partida e o destino há muito que observar, aprender, desfrutar. Ter olhos apenas na meta final pode criar ansiedades, frustrações, tende a querer que tudo ande mais rápido – quando os ritmos próprios das colisas não mudam apenas porque você está com pressa. Tende a nos tornar cegos para os que viajam conosco (família, amigos), a nos afastar até de nós mesmos. Quando se chegar à meta, pode-se nem ter com quem comemorar.
  3. Adapte-se se isso se fizer necessário. Escolher um objetivo não é ciência exata, nem existe garantia de que será atingido.

E o sucesso? Se, ao chegar ao destino final (uma promoção no trabalho, ou mesmo conseguir aquele emprego desejado; ver sua empresa crescer e se consolidar; receber aquele diploma tão sonhado; seja qual for a meta, enfim), ele se parecer com aquilo que você gostaria de ter encontrado, mesmo que não seja exatamente o que você imaginou no início; se você preservou amigos e família para ter com quem comemorar; e se você curtiu a viagem, aprendeu e aproveitou, e está pronto para mais viagens do tipo… bem, eis aí tudo o que define o sucesso verdadeiro.

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