Burnout ou Burn IN?
A autocobrança exagerada, o perfeccionismo paralisante, a dificuldade em dizer não, o medo de parar… Tudo isso pode ser a causa do seu esgotamento – provocado por você mesmo

Vivemos na era da hiperconexão, da produtividade extrema, do culto à performance. E, nesse contexto, a palavra “burnout” ganhou espaço na mídia, nas rodas de conversa, no nosso possível autodiagnóstico e, infelizmente, nos prontuários médicos. Mas, e se o “fogo” (burn em inglês significa queimar) que consome não estiver apenas do lado de fora? E se a exaustão não vier apenas da sobrecarga externa, mas também de padrões internos, muitas vezes autossabotadores? Por isso, convido você a refletir: estamos em burnout… ou em burn in?
Para melhor entendermos isso, a Síndrome de Burnout é caracterizada por três pilares principais:
1 – Exaustão emocional: sensação de esgotamento físico e mental, como se não houvesse mais energia disponível.
2 – Ceticismo ou despersonalização: distanciamento do trabalho, cinismo, falta de empatia.
3 – Redução da eficácia profissional: sensação de incompetência e baixa realização pessoal.
Essa síndrome é comumente relacionada ao ambiente de trabalho, mas estudos recentes mostram que seu impacto vai muito além da esfera profissional, atingindo relações pessoais, saúde física e mental.
Quando você é quem está se queimando
Já o termo “burn in” aqui não é técnico, mas serve como metáfora provocativa. É o fogo que nasce de dentro para fora: a autocobrança exagerada, o perfeccionismo paralisante, a necessidade constante de validação, a dificuldade em dizer não, o medo de parar.
Enquanto o burnout tem sido tratado como uma resposta ao ambiente tóxico, o burn in nos convida a olhar para o nosso modo de funcionamento interno. É autoavaliação honesta. É reconhecer que, muitas vezes, somos cúmplices do nosso próprio esgotamento.
Afinal, fizemos nosso check-up laboratorial, check-up cardiológico e – mulheres – o check-up ginecológico; mas quem aqui se preocupa com o check-up mental?
O burnout tem efeitos mensuráveis no corpo. Estudos mostram níveis persistentemente elevados de cortisol (hormônio do estresse), além de alterações no hipocampo e na amígdala, áreas cerebrais envolvidas na memória e regulação emocional.
Não é só o ambiente externo que eleva o cortisol. A autocrítica constante, a falta de sono, a ausência de limites e o hábito de “engolir” emoções também têm efeito biológico real. Ou seja: nosso padrão mental contribui para a química do esgotamento.
Limites e propósito ajudam demais
Autocuidado não é apenas spa, skincare ou um chá no final do dia. É, acima de tudo, percepção consciente do que precisamos e do que estamos negligenciando.
É reconhecer: Qual é o meu limite? O que eu realmente valorizo? Por que eu me sinto culpado ao descansar? Que histórias eu conto para justificar meu excesso?
A autoavaliação não é um luxo – é o primeiro passo terapêutico para um plano de vida sustentável. É o momento em que paramos de culpar só o mundo e começamos a fazer as pazes com nossas escolhas. É sermos mais gentis com nós mesmos, mesmo que nosso chefe ou o responsável do RH não seja.
Estudos mostram que alinhamento de propósito, clareza de valores pessoais e suporte social estão entre os principais fatores de proteção contra o burnout. Quando temos clareza sobre o “porquê” do que fazemos, conseguimos dizer mais “nãos”, selecionar batalhas e diminuir a necessidade de provar o tempo todo que somos bons o suficiente. Lembre-se: falar não para o outro é como dizer um sim para você. (Frase retirada do livro Sem Esforços, do autor Greg Mckeown. Super indico!)
É a reconexão com o propósito que apaga o incêndio do burn in – e previne o burnout.
Burnout é real. Mas muitas vezes ele começa dentro, silenciosamente. Antes que o corpo grite, precisamos ouvir os sussurros da alma. A resposta não é simples – mas o caminho passa, inevitavelmente, por olhar para dentro. E isso, sim, é autocuidado. A pergunta que fica é: você está sendo queimado pelo mundo… ou está se incendiando por dentro?