Tchau, Brasil? Como conquistar emprego e residência permanente no Canadá
Confira qual é o perfil profissional mais valorizado entre os candidatos a residência permanente no Canadá
São Paulo – A estratégia do governo do Canadá para manter seu crescimento econômico é abrir ainda mais as suas portas para profissionais qualificados que desejam emigrar para lá. Segundo informações do relatório Anual do Parlamento Canadense sobre Imigração, obtidas por EXAME, o governo planeja admitir neste ano até 176 mil residentes permanentes pela via de classe econômica, que é a categoria formada por imigrantes que têm competências profissionais necessárias para o país.
Essa modalidade de imigração é feita por sistema implementado em 2015, o Express Entry que leva em consideração seis fatores classificatórios: conhecimento de inglês, experiência profissional, nível de educação, disponibilidade ou oferta de emprego no Canadá e adaptabilidade.
Quem se candidata pelo sistema e está no perfil de pessoas buscadas pelo país recebe um convite, o ITA (invitation to apply) e é direcionado para um dos três programas federais de atração de imigrantes qualificados: Federal Skilled Worker Program (Programa Federal de Trabalhadores Qualificados); Federal Skilled Trades Program (Programa Federal dos Comércios Especializados) e o Canadian Experience Class (Classe de Experiência Canadense). Em 2018, quase 90 mil pessoas receberam o convite.
Além das iniciativas federais, o sistema de pontuação do Express Entry também é base para alguns dos programas provinciais de imigração. Em algumas regiões com maior necessidade de mão-de-obra, os imigrantes que têm oferta de emprego conseguem acelerar o processo de obtenção da residência permanente.
Nas províncias atlânticas (costa leste), por exemplo, o Atlantic Immigration Pilot Program (Projeto Piloto de Imigração do Atlântico) permite que o imigrante que tenha proposta de trabalho em empresas participantes dessa iniciativa da província se candidate imediatamente à residência permanente, sem ter que esperar o prazo de um ano, que é a regra geral do processo.
“As províncias têm liberdade de eleger candidatos de acordo com o perfil que eles decidem, mas sempre exigem que tenha oferta de emprego para conseguir isso. Os programas provinciais são ótimos para quem já está no Canadá”, diz Ed Santos, consultor de imigração e co-fundador da Canadá Intercâmbio, maior agência de intercâmbio entre Brasil e Canadá. Neste mês de setembro, a sua agência promove a ExpoCanada em várias cidades brasileiras entre os dias 10 e 24 de setembro.
As oportunidades no Canadá existem, mas há desafios na mesma proporção, garante o consultor e qualquer imigrante que tenha passado pelo processo. Eventos como esse, ajudam a entender o tamanho da dedicação exigida a um projeto de imigração. “De 3,5 mil pessoas que eu vi emigrarem, umas quatro saíram do Brasil já empregadas”, diz Santos.
O primeiro ponto é que uma oferta de emprego no Canadá está, quase sempre, atrelada a um projeto de estudo no país, que demanda investimento financeiro e, para muitos brasileiros, um reforço no nível de inglês. Pelos últimos 14 anos, o Canadá tem sido o destino número um dos brasileiros para estudar inglês. De 2010 para cá, o número de vistos de estudo quadruplicou. Em 31 de dezembro de 2018, o governo contou exatamente 13.835 brasileiros com visto de estudante no país.
O próprio governo do Canadá promove neste e no próximo mês a feira oficial de estudos no país, a EduCanada, de 19 de setembro a 4 de outubro. O objetivo do Canadá é recrutar estudantes não só para programas de idioma, como também para ensino médio, graduação, pós-graduação, e MBA.
Tanto na ExpoCanadá quando na EduCanadá, as instituições participantes apresentarão a chance de entrada no mercado de trabalho canadense como um dos grandes atrativos para os brasileiros.
O perfil de imigrante qualificado mais valorizado
O perfil de quem consegue o convite para começar a obtenção da residência permanente indica qual o currículo mais valorizado para fins de imigração: a maioria dos ITAs foi emitida para candidatos entre 20 e 29 anos de idade e para quem tem curso tecnólogo de três ou mais ou diploma profissional com prática, segundo o relatório anual de imigração.
As profissões ligadas a tecnologia, desenvolvimento e engenharia de software, programação, mídia interativa, análise de sistemas se destacam entre os profissionais que receberam o ITA. Mas cozinheiros, profissionais da área de alimentação e hospitalidade e professores universitários também são valorizados no mercado canadense e aparecem entre as profissões mais quentes para imigrantes.
Indianos são maioria entre os imigrantes que recebem ITA. Em 2018, foram 41,6 mil imigrantes da Índia, alta de 15% em relação a 2017. A China vem em seguida com 6,248, número 16% menos do que em 2017. Para brasileiros, a tendência é de alta, mas os números são ainda modestos: 1.840 em 2018, alta de 9% na comparação com o ano anterior. “A maior parte são brasileiros que já estão no Canadá, que estão estudando, fazendo college”, diz Ed Santos.
Para os profissionais já graduados no Brasil e que desejam fazer uma transição de carreira para viver no Canadá o caminho mais rápido até o emprego de qualidade elegível para a residência permanente passa por um pedágio de formação técnica em colleges, nome usado para denominar as escolas técnicas do Canadá. “O college é a melhor maneira de se inserir no mercado de trabalho, custa quatro vezes menos do que uma universidade e a formatura é duas vezes mais rápida do que em uma universidade”, diz Santos.
São 135 escolas técnicas públicas espalhadas em mais de mil campi pelo Canadá (entre colleges, institutos, epolitécnicas) e segundo o Council of Ministers of Education, a taxa de empregabilidade dessas escolas é de 95%. No país, são oferecidos mais 8 mil programas técnicos de formação.
As estatísticas de empregabilidade de colleges se confirmam mesmo em regiões com mercado de trabalho menos efervescente como nas regiões de Ontario e British Columbia.
Na Holland College, da pequena província de Prince Edward Island na costa leste, a diretora de negócios internacionais Gaylene Carragher contou a EXAME que 96% dos alunos da instituição conseguem emprego em até um ano de formatura.
“Uma das coisas interessantes dos programas é que os estudantes aprendem trabalhando. O fato de ter que trabalhar é uma ótima oportunidade para fazer contatos. É como uma longa entrevista de emprego. O empregador não vai deixar passar alguém que está fazendo um ótimo trabalho”, explica.
Para compensar o desafio maior do mercado de trabalho de regiões como as províncias atlânticas, iniciativas como o programa Atlantic Canada Study and Stay tentam conectar estudantes do último ano de seus cursos em escolas técnicas ou em universidades a empresas na região que conta com as províncias de Nova Escócia, New Brunswick, Newfoundland e Prince Edward Island.
“Encontrar emprego é mais fácil quando você conhece as pessoas”, diz a estudante brasileira Samantha Figueira recém-formada no curso de design gráfico da Holland College, em busca de vaga de trabalho em Prince Edward Island. A sua profissão também aparece entre as mais frequentes entre os imigrantes que recebem o ITA.
Programas nos moldes do Atlantic Canada Study and Stay tentam solucionar justamente a questão apontada por Samantha: o networking. Estabalecer a rede de contatos é um desafio para os estrangeiros, e a iniciativa busca atrair mais pessoas também para regiões menos conhecidas e visadas do Canadá. Em 2018, 64% dos pedidos de residência permanente foram feitos na região de Ontario, 18% em British Columbia e 7% em Alberta. Juntas, as províncias do Atlântico não chegam a 5%.