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Por que a festa da firma deu tão errado na Salesforce do Brasil

Fantasia polêmica usada na festa de fim de ano da Salesforce do Brasil resultou na demissão do CEO, do diretor comercial e de um funcionário

Por Camila Pati
Atualizado em 19 dez 2019, 16h15 - Publicado em 5 jan 2018, 12h53

São Paulo – Um concurso de fantasia durante a festa de fim de ano da Salesforce no Brasil, empresa norte-americana de softwares sediada no Vale do Silício, resultou em três demissões, incluindo a do presidente da filial nacional, Maurício Prado, segundo o jornal Folha de São Paulo.

O motivo: um dos funcionários “se vestiu” de “negão do Whatsapp”, um conhecido meme que circula no aplicativo de troca de mensagens em que um homem negro aparece com uma toalha azul no ombro e o pênis à mostra.  Sua fantasia ficou em quarto lugar no concurso, promovido pelo RH da empresa. A foto dele, ao lado do diretor comercial de outros funcionários, foi vista pela liderança da empresa, na sede da multinacional nos Estados Unidos, em São Francisco, que ficou chocada. Na imagem, ele aparece com uma toalha no ombro exibindo uma prótese para simular o personagem.

Segundo a reportagem, uma das versões da história é a de que a matriz teria pedido que o funcionário, que seria da equipe de vendas, fosse demitido. O diretor comercial teria tentado defender a permanência do funcionário, usando o argumento de que os brasileiros são mais liberais e por isso, também teve a demissão decretada.

Nesse momento, o presidente da Salesforce no Brasil, Maurício Prado, tentou intervir. Ele teria dito que a punição era exagerada para um fato que não passava de uma brincadeira. Resultado: também demitido.

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Para João Marques, que é presidente da consultoria de mobilidade EMDOC, a falta de clareza na disseminação da cultura e dos valores pode ser um dos principais motivos para a crise que se instaurou na Salesforce e derrubou um funcionário, o diretor comercial e o principal executivo da filial brasileira. Muitas empresas, diz ele, têm dificuldade em transmitir da sede para suas filiais valores e aspectos culturais primordiais.

A Salesforce, por exemplo, é tida como empresa mais liberal, como é comum entre as companhias instaladas no Vale do Silício. Mas a sua liberalidade encontrou um limite instransponível. “A questão racial”, diz Marques, sobre o fato de que a “brincadeira” ultrapassa a esfera da vulgaridade e toca  também em outro ponto sensível, estereótipo de raça. “O medo é que tenha reflexo no produto da empresa, consumido por todas as raças”, diz Marques.

Um aspecto da cultura de trabalho no Brasil também é apontado pelo presidente da EMDOC como crítico nesse caso. “O brasileiro parte para a defesa antes de apresentar pedido de desculpas.  Essa é uma dificuldade que se tem no Brasil”, diz.

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O mais indicado por Marques, ao lidar com norte-americanos e com outras culturas também, seria pedir desculpa, estabelecer e comunicar um plano de ação para usar o caso  de exemplo na orientação dos funcionários brasileiros sobre a cultura da empresa.

De um lado a empresa que não comunica bem quais são seus valores mais críticos. “Aqueles temas em que é proibido se fazer  qualquer tipo de piada”. Do outro, a diferença cultural e a tendência brasileira de se defender antes de reconhecer o erro. E no braço de ferro entre sede e filial, levou a pior, obviamente, o time brasileiro que ficou sem dois dos seus principais executivos, além do autor da “premiada” fantasia.

O prejuízo, no entanto, será compartilhado entre sede e filial. “Vai levar tempo para levantar o ânimo da equipe depois do que aconteceu e da maneira como ocorreram as demissões. O time de vendas é parte do coração da empresa”, diz ele. É esperar e conferir se o caso, e a consequente troca de comando, vai respingar nos resultados da Salesforce no Brasil.

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