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Lobos da Faria Lima: o que fazem os analistas de ações

Existem menos de mil analistas de ações no país, e o número de vagas tende a se multiplicar. Veja como entrar nessa carreira.

Por Juliana Américo
Atualizado em 1 mar 2021, 16h36 - Publicado em 8 fev 2021, 08h00
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 (Easynvest/VOCÊ S/A)
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A ideia de trabalhar no mercado financeiro sempre foi atraente. Agora é mais. O número de investidores pessoa física na bolsa saltou 90% em 2020, de 1,4 milhão para 2,67 milhões*, cortesia dos juros reais negativos – ou seja, uma Selic que perde da inflação. Com a engorda da bolsa, vimos também um número expressivo de novas empresas que passaram a vender suas ações na B3: foram 28 IPOs (“ofertas públicas iniciais”, na sigla em inglês) em 2020. Foi o maior número em 13 anos.

Todo esse movimento mexe também com o mercado de trabalho. O setor financeiro, afinal, está cada vez mais em busca de um profissional escasso: o analista de ações. “Ainda temos poucos profissionais para um mercado que está crescendo muito”, diz Ricardo Cavalieri, estrategista de ações do BTG Pactual Digital. De fato. Segundo a Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais), existem só 859 analistas credenciados no Brasil – destes, nem todos não especialistas em ações de companhias; tem os de outros tipos de investimentos, como os de renda fixa e fundos imobiliários.

O analista de ações trabalha para corretoras e casas de análise. Ele é o responsável por avaliar a saúde financeira das empresas listadas na B3 e a saúde econômica dos setores nos quais cada uma atua. Ele precisa entender quais são as perspectivas das companhias que estuda e determinar se o preço das ações delas está mais alto ou mais baixo daquilo que seria o “justo”. Com tudo isso em mãos, ele prepara relatórios para orientar seus clientes e monta carteiras recomendadas, com as melhores apostas do mercado de acordo com sua pesquisa.

Exigências da CVM

Para exercer a profissão, você precisa ter um diploma de ensino superior em qualquer área. Por mais que não exista uma graduação específica, os formados em Administração, Economia, Contabilidade, Matemática e Engenharia costumam ser os mais buscados pelas empresas – em suma, o pessoal que tende a lidar melhor com cálculo.

O mais importante, porém, são as certificações exigidas pela CVM. Sem elas, nenhum profissional do mercado financeiro pode atuar como analista nem indicar investimentos. Sim, pela letra fria da lei, ninguém pode chegar no Twitter e dizer que está na hora de comprar ações da Petrobras porque acha que o preço do petróleo vai subir, por mais que tantos amadores façam isso.
A principal certificação é a CNPI, também conhecida como Certificado Nacional do Profissional de Investimento. Ela é obrigatória e dividida em três categorias. Uma é a certificação para analistas fundamentalistas (CNPI). É a que descrevemos lá atrás: o analista de fundamentos estuda as condições financeiras das empresas – se os lucros dela são consistentes, se a dívida é administrável, se o mercado onde ela atua tem boas perspectivas.

Outra certificação é aquela para analistas técnicos (CNPI-6T). A análise técnica consiste em interpretar não a saúde da empresa, mas apenas o sobe e desce das ações ao longo do tempo. O analista, então, tenta prever o comportamento futuro do preço de um papel avaliando a variação de preços do passado. Grosso modo: se uma ação sobe e desce até determinados limites por alguns meses, a tendência do preço será um meio-termo. O analista calcula qual seria esse meio-termo – e cada um pode tirar uma conclusão diferente, mas essa é outra história. Vale o mesmo na hora de pescar eventuais tendências de alta ou de baixa.

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Bom, quem tem esses dois certificados é considerado “analista pleno” e pode trabalhar na frente fundamentalista e na técnica.

Existem outras certificações financeiras que não são uma exigência, mas podem ser interessantes para crescer na carreira. É o caso das nacionais CGA (Certificado de Gestores Anbima) e CGRPPS (Certificação de Gestores de Regime Próprio de Previdência Social); e das internacionais CFA (Credenciamento de Analista Financeiro), CIIA (Certificado Internacional de Analista de Investimentos) e CFP (Certificado de Planejador Financeiro).

Nunca desliga

A rotina de um analista é marcada pela falta de rotina. Tem dia que, em questão de minutos, tudo vira de ponta-cabeça. Nisso, você precisa passar o dia todo (e um pouco da madrugada também) ligado em tudo que possa afetar o mundo das finanças.
É assim a vida de José Falcão, 37 anos. “Sou viciado em rádio, então enquanto estou me arrumando já fico com o rádio ligado. Durante o dia eu dou uma olhada nos sites dos principais jornais e, à noite, ainda gosto de ver o telejornal para saber como eles vão interpretar tudo o que aconteceu”, afirma o analista de ações da Easynvest.

Natural de Salvador, José se formou em Administração e trabalha com mercado financeiro há 15 anos. Ele começou como estagiário no Banco Real e, em 2008, foi trabalhar com o seu tio, que estava abrindo um escritório de agente autônomo da Link Investimentos. De lá para cá, ele teve a oportunidade de trabalhar em várias frentes das corretoras: captação e abertura de contas, mesa de operações, atendimento ao cliente e cursos.

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A oportunidade de atuar como analista surgiu só em 2016, quando foi trabalhar na casa de análise Empiricus. “Muita gente me pergunta como faz para chegar na minha área, e eu sempre falo que precisa ter calma. Tem que tirar as certificações, estar dentro de uma corretora, conhecer o negócio.”

Experiência é a palavra-chave. Segundo Max Bohm, sócio e analista da Empiricus, entender de finanças é importante, mas é o trabalho do dia a dia que dita quem são os bons profissionais. “Um bom analista se forma na prática. Você tem que correr atrás das informações, estudar, ser curioso, conversar com quem está mais calejado na área.”

E se você acha que só vai chegar ao banco ou corretora, sentar à sua mesa, enfiar a cara nos balanços financeiros e escrever relatórios, está enganado. Hoje, alguns analistas de ações são quase celebridades. Como o número de investidores aumentou, esse profissional ocupa a função de ajudar na educação financeira. José resume: “Você tem que ser comunicativo. Vai precisar gravar vídeo no YouTube, participar de podcast, falar no Telegram, engajar no Insta. Tive dificuldade com isso, porque não sou uma pessoa muito extrovertida. Mas tive que aprender”.

*A B3 costuma divulgar o número de contas em corretoras – 3,26 milhões no final de 2020. O número de CPFs de fato, porém, é menor: 2,67 milhões, já que parte dos investidores tem conta em mais de uma corretora.

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Atividades-chave
Analisar balanços, avaliar as perspectivas futuras do mercado, escrever relatórios econômicos, recomendar carteiras de ações.

Quem contrata
Corretoras, casas de análise, bancos e gestoras de fundos.

Pontos positivos
É uma carreira agitada. O mercado de trabalho dela está em franco crescimento, e os melhores analistas se tornam celebridades, dentro e fora da bolha Faria Limer.

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Pontos negativos
É uma carreira agitada, rs. Isso é ótimo para alguns, claro, mas não funciona para quem gosta de uma rotina bem definida. O dia a dia do analista envolve acompanhar o noticiário político e econômico em tempo real e lidar com as mudanças súbitas do mercado – que podem destruir qualquer análise em questão de minutos.

Principais competências
Ter conhecimento sobre finanças e economia, saber construir modelos financeiros, ser comunicativo, ágil, curioso, detalhista e proativo. Ufa.

O que fazer para atuar na área
Ter uma graduação (os cursos de Administração, Economia, Contabilidade, Matemática e Engenharia são os que oferecem mais oportunidades) e tirar as certificações exigidas pela CVM.

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