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Isolamento provoca 4 reações básicas, diz psicanalista Christian Dunker

Psicanalista e professor da USP fala sobre os efeitos da quarentena na saúde mental e diz o que podemos esperar das emoções no pós-pandemia

Por Camila Pati
Atualizado em 26 Maio 2020, 16h17 - Publicado em 26 Maio 2020, 12h07

São Paulo – Medo persistente, angústia, luto, negação. Segundo o psicólogo, psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, são essas as quatro  principais reações básicas ligadas ao impacto do isolamento social na saúde mental. As reações ligadas ao sentimento persistente crônico e agudo de medo são as respostas de preocupação, de excesso de leitura de notícias, de informação sobre os perigos do Covid-19 e que desgastam psiquicamente as pessoas no longo prazo, reavivando fobias de contato social”, diz ele que, na próxima sexta-feira 29, participa de um congresso gratuito, promovido pelo grupo educacional Eleva,  para  discutir as emoções em tempos de pandemia e de incertezas.

O segundo grupo de reações, ligadas à angústia, tem na quarentena um gatilho para males já presentes como depressão, ansiedade e pânico. O aumento na incidência dessas doenças mentais foi comprovado em pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).  Casos de depressão dobraram e de ansiedade tiveram aumento de 80% na quarentena.

“Angústia é um sinal de que não estamos conseguindo metabolizar, dar imagem, forma e símbolo para os conflitos que estamos vivendo”, diz o professor.  O luto requer uma elaboração, um processo psíquico de aceitação que passa também por um tipo de depressão, e vai além da perda dos entes queridos para o coronavírus. Quantos planos, ideias, projetos e iniciativas foram enterrados pela pandemia? O caminho para lidar com essas situações pode passar por momentos de raiva, tristeza, desânimo e letargia.

No Brasil, o quarto grupo de reações tem causado preocupação mundial: o dos negacionistas. Segundo o especialista, a não aceitação delirante ou em estado de massa ou grupo pode trazer consequências graves causadas pelo não entendimento da importância do isolamento social. “Por exemplo, quando temos alguém querido que contrai a doença, quando vamos ser tomados pela culpa por ter transmitido a doença para um ou para outro”.

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Choque de isolamento, estresse e exaustão nos hospitais

 Os efeitos nefastos do desrespeito ao isolamento social estão no cotidiano de quem está na linha de frente do combate ao coronavírus. Por lá, a saúde mental está por um fio.

Os trabalhadores de saúde, especialmente de saúde mental que estão auxiliando os profissionais em hospitais de campanha, estão enfrentando uma situação, de fato, muito insalubre, diz Christian, que acompanha muitos profissionais que estão atendendo pacientes, médicos e enfermeiros.

“Poderia destacar aqui a dificuldade que é manter as condições de vinculação para aquela pessoa que está entubada, que está com processo crônicos de dificuldade respiratória, e que depende, por exemplo, da entrada de um celular, depende da assistência de alguém para manter um contato que, às vezes, pode ser um contato decisivo com sua família que está lá fora”, diz. Com as internações sendo feitas de forma abrupta, o choque de isolamento tem efeitos, inclusive, na saúde física do paciente, daí a importância do acompanhamento psicológico.

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O suporte psicológico tem sido essencial para médicos e enfermeiros. “As pessoas que trabalham com saúde mental dos trabalhadores em saúde aconselham a realização de pausas, a formação de equipes circulantes, do cuidado consigo, que façam terapia, análise ou tenham algum suporte, que não se submetam a escalas excessivamente extensas”, diz.

O que esperar das emoções no pós-pandemia?

“A forma como cada um está atravessando a pandemia nas suas limitações econômicas, em tese, vai redefinir ou projetar a forma como cada um vai sair da pandemia e como vai ser recebido e se tratar e ser tratado no período de pós pandemia”, diz Christian.

Na sua opinião, as pessoas que têm uma atitude mais colaborativa e solidária vão se sair melhor no trabalho do que os individualistas.  “Este é momento em que a gente deveria se abrir para repactuação, para um retorno de relações de confiança de apostas, de divisão de prejuízos, de apoio mútuo para recursos cada vez mais escassos”, diz.

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Quer saber mais? A saúde mental foi tema do 32º episódio do Rádio Peão, o podcast semanal da VOCÊ S/A:

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