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Cursos EAD estão crescendo no Brasil

Saiba quais cuidados são necessários para garantir uma formação eficiente nessa modalidade

Por Bárbara Nór
Atualizado em 23 dez 2019, 13h28 - Publicado em 1 fev 2018, 09h00

Em 1729, um anúncio de um professor na Gazeta de Boston, nos Estados Unidos, divulgava aulas de taquigrafia por correspondência. Esse, talvez, tenha sido o primeiro curso de ensino a distância de que se tem conhecimento.

Hoje, com o acesso fácil à internet e com o desenvolvimento das tecnologias móveis, essa modalidade é uma das que mais crescem no país. De fato, a educação superior a distância no Brasil avança em ritmo mais acelerado do que o ensino presencial. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2016, do Inep, enquanto o ensino presencial teve queda anual de 0,08% nas matrículas, o ensino a distância (EAD) teve expansão de 7,2%.

Isso pode ser explicado por dois fatores: o custo (mais baixo do que o dos cursos tradicionais) e a flexibilidade para estudar a qualquer hora e em qualquer lugar. “A educação a distância abre uma perspectiva fantástica para as pessoas que trabalham ou moram muito longe de universidades”, diz Carlos Eduardo Bielschowsky, presidente da Fundação Cecierj, um consórcio de instituições públicas do Rio de Janeiro que oferece cursos remotamente.

Para responder ao aumento dessa demanda, a oferta dessa modalidade cresceu 51% nas instituições privadas brasileiras de 2011 a 2015, de acordo com  mais recente Censo EAD.BR, realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e publicado neste ano. O estudo revelou também que 31% das 341 instituições entrevistadas tinham planos de aumentar seus investimentos em formações totalmente online em 2017.

Mistura de mundos

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A Fundação Getulio Vargas é uma das mais experientes nesse formato — há 20 anos atua na área e teve um crescimento expressivo das matrículas em 2016 (64%) e em 2017 (28%). “Os cursos são mais flexíveis, o aluno pode se especializar nos horários que lhe convêm e pagando bem menos”, diz Gerson Lachtermacher, diretor de programas e processos acadêmicos da FGV do Rio de Janeiro. Segundo ele, um modelo que deve crescer cada vez mais é o que integra o online com o presencial — o estudante mescla a participação nas aulas da maneira que achar mais conveniente. “O mundo não vai ser só virtual ou só físico, mas uma mistura dos dois”, diz Gerson.

É isso que Eder Saizaki, de 35 anos, engenheiro na Siemens, em São Paulo, vivencia. Ele adoraria fazer um MBA presencial, mas era impossível encaixar as aulas na sua rotina. Ao mesmo tempo, tinha medo de um EAD porque precisa de interação para ter um bom aprendizado. “Quando um colega me explicou o método que oferece conteúdo online e aulas presenciais, achei que esse seria o melhor balanço”, afirma Eder.

Isso o fez escolher o curso de gestão de negócios e inteligência de mercado na Saint Paul — escola de negócios paulistana que tem apostado no EAD. “É uma tendência que veio para ficar. Teremos cada vez mais do online no presencial”, diz Claudio Securato, presidente da instituição. A ideia de que o estudante deve ter independência para fazer o próprio percurso educacional e decidir como quer acessar os conteúdos norteou a decisão da Saint Paul de lançar, em março deste ano, o LIT, plataforma de educação que dá autonomia para os estudantes escolherem o que querem aprender. O LIT usa inteligência artificial para criar uma espécie de tutor robótico, que tira dúvidas e ajuda a desenhar o perfil de estudo para cada um. “O aluno poderá montar um caminho único dentro da plataforma e reunir microcertificações para conseguir certificações ou diplomas mais robustos”, afirma o presidente da Saint Paul.

Mais dedicação

No passado, era muito comum ouvir que cursos a distância são mais fáceis — mas isso tem mudado. “Lembro que, 20 anos atrás, professores olhavam torto para o EAD, achavam que, por ser mais acessível, teria menor qualidade”, diz João Vianney, professor e consultor de EAD na Hoper, consultoria de educação, de Florianópolis. “Mas, nos últimos anos, os alunos a distância começaram a mostrar um desempenho tão bom ou melhor que os colegas que fizeram a escolha tradicional.”

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Os especialistas afirmam que o curso online é, na verdade, mais exigente, pois demanda do estudante mais comprometimento, organização e proatividade para concluir o programa. Mas isso não quer dizer que o aluno deva ser autodidata, pois a ideia não é que ele fique sozinho, e sim que tenha o apoio da instituição e de tutores. “Antes, a gente imaginava que, para estudar  remotamente, a pessoa tinha de ter perfil empreendedor, de estudar sozinha. Mas isso é bobagem”, diz João.

Ainda assim, é preciso disciplina. Até porque a maioria de nós sempre aprendeu assistindo aos professores em sala de aula. Para Flora Barreto, de 29 anos, do Rio de Janeiro, esse esforço a mais é compensador. Depois de se formar em turismo pela Universidade Federal Fluminense, ela começou a procurar um MBA em gestão empresarial.

Inicialmente, sua preferência era por cursos presenciais, mas as opções custavam mais do que ela podia pagar e cruzavam com sua agenda de trabalho. Durante sua pesquisa, Flora encontrou o MBA a distância da FGV, concluído em novembro de 2017. “Queria estudar numa instituição de prestígio e vi que, no curso online, isso seria possível”, diz. “Eu achava que poderia ter algum prejuízo em relação ao aprendizado, mas foi o contrário. No EAD, o aluno precisa se dedicar e há muito mais formas de ensino disponíveis, então eu acabava indo a fundo no conteúdo para ter certeza de que tinha compreendido.” Isso a ajudou a selecionar melhor as informações e a aprender de maneira independente.

A disponibilidade dos professores  para o esclarecimento de dúvidas também fez toda a diferença. Com o projeto desenvolvido ao longo do curso, Flora teve tranquilidade para abrir sua empresa, a Rio Leão, uma plataforma online de serviços de turismo e relacionamento com clientes. “Sem essa base, não teria sido possível empreender”, afirma.

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