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Esta é a melhor forma de se organizar no dia a dia, segundo a Ciência

Pesquisadoras acreditam que existem dois estilos de organizar o dia a dia: seguindo o relógio ou uma lista de atividades. Conheça seus prós e contras.

Por Camilla Ginesi
Atualizado em 12 jan 2021, 15h01 - Publicado em 24 jan 2019, 09h00

O modo de lidar com o tempo costuma variar de pessoa para pessoa. Há aqueles que precisam fazer listas para tudo, os que baixam aplicativos, os que não vivem sem a agenda e ainda os que se entendem bem convivendo com o caos.

Mas, de acordo com uma pesquisa iniciada em 2014 e que foi publicada em abril de 2019 na revista científica Current Opinion in Psychology existem, essencialmente, duas maneiras de se organizar: seguindo o relógio ou os eventos que precisam ser realizados.

Essa é a teoria de Anne-Laure Sellier, professora associada de criatividade e marketing da HEC Paris, e Tamar Avnet, professora associada de marketing na escola de negócios da Universidade Yeshiva, de Nova York.

Para chegar a essa conclusão, a dupla de estudiosas se debruçou sobre a bibliografia da organização do tempo e fez experimentos com 60 voluntários. Segundo o estudo, esses dois estilos são os mais comuns por causa do desenvolvimento das sociedades, nas quais uma das duas maneiras sempre prevalece.

Se na maior parte dos países ocidentais o padrão é que o relógio controle a agenda das pessoas, no mundo árabe, por exemplo, uma reunião não acontece em um horário específico, mas quando os participantes se sentem prontos para começar — e se alguém der uma olhadinha nos ponteiros durante a conversa será considerado rude.

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Visões diferentes

De acordo com Anne-Laure e Tamar, os regidos pelo relógio são “indiví­duos que dividem o tempo em unidades-padrão, objetivas e quantificáveis e permitem que o relógio dite quando as atividades começam e terminam”.

Um dia típico de alguém que se estrutura assim é bem parecido com o de Raul Perez, de 28 anos, coordenador de comunicação da SPcine, empresa de cinema e audiovisual da Prefeitura de São Paulo. De segunda a sexta-feira, ele acorda às 7h30, se arruma até as 8 horas e toma café da manhã em meia hora — assim consegue chegar ao trabalho no centro da cidade até as 9 horas.

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Seus primeiros 90 minutos no escritório são dedicados a responder aos e-mails e a hora seguinte serve para analisar os resultados da equipe nos últimos dias. Religiosamente às 13 horas ele almoça. E assim o dia continua, no cronômetro. “Sempre me impus horários com o objetivo de dar conta de tudo. Mas foi quando me tornei coordenador que senti os maiores benefícios disso, principalmente para orientar a equipe”, afirma Raul.

Do outro lado estão aqueles que se orientam seguindo as tarefas que precisam executar. Nesse caso, segundo as pesquisadoras, o que rege a agenda é a conclusão das atividades — o início de uma tarefa depende da realização de uma tarefa anterior.

O francês Charles Vatin, de 28 anos, arquiteto de soluções digitais para a América Latina na companhia de tecnologia Keyrus, segue esse padrão. Sem horário fixo para dormir e começar a trabalhar — por causa dos diferentes fusos horários com os quais tem de lidar —, Charles começa seu dia entre as 8 e as 10 horas, dependendo do que precisa fazer.

“Toda manhã reviso minhas listas de tarefas pessoais e profissionais e ordeno as atividades por nível de prioridade. Começo o dia pela mais importante e, assim que a termino, passo para a seguinte. Uma acaba puxando a outra”, explica Charles.

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Prós e contras

Na pesquisa, Anne-Laure e Tamar apontam que não há certo e errado em agir de uma maneira ou de outra. Christian Barbosa, especialista em gestão do tempo, concorda: “Nenhum estilo de se planejar é melhor ou pior.

O que acontece é que cada pessoa se adapta mais a um ou a outro”. Mas as estudiosas dizem que há diferenças drásticas entre os perfis. Os “cronômetros de eventos”, como foram apelidados pelas pesquisadoras, costumam ser mais assertivos na realização das tarefas, o que os ajuda a evitar resultados indesejados.

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Esse comportamento, no limite, pode levar ao perfeccionismo. “Mas esse não é necessariamente o objetivo. Eles se esforçam para fazer o melhor possível, mas sabem que isso pode não chegar à perfeição”, diz Anne-Laure.

Aqueles que se orientam pelo relógio agem de outro jeito. Essas pes­soas são mais focadas em realizar suas tarefas e em seguir em frente e, por isso, conseguem driblar a procrastinação com mais facilidade.

Uma das grandes desvantagens desse pes­soal, no entanto, é a dificuldade em curtir o momento e sentir emoções positivas, como entusiasmo, orgulho e admiração. “Por ter consciência de quanto tempo é necessário para executar uma tarefa, quem é assim pode enxergar somente o sentido prático dela e sentir menos prazer em fazê-la”, explica a psicóloga Erica Lopes Rodrigues, que tem mais de uma década de experiência em recursos humanos.

O interessante é que, como tudo na vida, existem gradações em todos nós — e dá para ter um pouco de ambos os estilos. “É possível alternar entre os dois perfis até num mesmo dia.

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Por exemplo, uma pessoa pode funcionar de acordo com o relógio durante o expediente e, depois disso, conversar com o namorado ou com a namorada sem impor um horário para o papo terminar”, diz Anne-Laure.

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Charles Vatin, arquiteto de soluções digitais da Keyrus: lista de tarefas atualizada diariamente | Germano Lüders

Juntos e misturados

Alguns estudos analisados pelas pesquisadoras de fato sugerem que a maneira como as pessoas encaram o tempo e ajustam a rotina é cultural. Entretanto, outros mostram que a escolha de estilo de planejamento é consciente — ou seja, uma escolha individual que tem a ver com personalidade, momento da vida e entendimento do que funciona melhor para cada um de nós.

Charles Vatin, por exemplo, não agiu sempre como um “cronômetro de eventos” — ele já se esforçou para viver de acordo com os ponteiros. “Durante um tempo, tentei estabelecer horários para minha rotina. Mas meu dia é muito dinâmico e sempre surgem imprevistos, como uma reunião com um cliente ou uma mudança num projeto. Passava mais tempo arrumando meu cronograma do que fazendo o que precisava fazer”, explica.

Assim como Charles, a maior parte das pessoas prefere se orientar pelas tarefas que precisa executar, segundo o estudo de Anne-Laure e Tamar. O problema é que, no mundo do trabalho, a organização ainda é feita mais com base nos ponteiros do que nas atividades. “A maioria dos chefes provavelmente são cronômetros de relógio.

Se não são, acabam se tornando, pois costumam ter uma agenda para cumprir e, por isso, dificilmente podem se guiar pelos eventos”, diz Anne-Laure.

No entanto, quando os líderes conseguem romper essa barreira, costumam ficar mais satisfeitos consigo mesmos, de acordo com o artigo da dupla de pesquisadoras. Os CEOs da área de tecnologia entrevistados por elas disseram que, quanto mais se portavam como “cronômetros de eventos”, mais se sentiam confiantes sobre suas habilidades de liderança.

O lado bom é que, atualmente, há valorização de profissionais com pensamentos diferentes trabalhando juntos — desde que as entregas sejam feitas. “A equipe ideal é composta por pessoas dos dois perfis. Assim, pode-­se evitar tanto a rigidez quanto os atrasos”, diz a psicóloga Erica. Ou seja, vale colocar um pouco de ordem no caos — e vice-versa.

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