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Claudio Lottenberg

Médico oftalmologista, é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde. Também atua como conselheiro da Unicef.
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Mulheres caminham para ser maioria na medicina

Elas devem superar os homens na profissão em 2030, mas ainda ganham menos e ocupam menos cargos de chefia.

Por Claudio Lottenberg
31 ago 2021, 10h22
A imagem mostra o rosto de duas mulheres de perfil. Elas estão de máscara e touca no cabelo, em uma sala de cirurgia
 (Getty Images/Getty Images)
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A trajetória das mulheres na medicina é cheia de obstáculos, mas eles estão ficando para trás. Pesquisas sugerem que a expectativa é que elas superem em pouco tempo o número de homens do ramo na próxima década.

A história está repleta de passagens que ilustram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no exercício da atividade médica. Na Idade Média, eram consideradas curandeiras, algumas condenadas à morte na fogueira. No Renascimento, praticavam seu ofício de forma clandestina. Mais tarde, na Revolução Francesa, mesmo com o advento do conceito de hospital moderno, acreditava-se que o estudo afetava a mente da mulher, o que postergou sua profissionalização. Somente durante a Primeira Guerra Mundial, pela necessidade de repor os médicos convocados para o front, as mulheres foram inseridas de forma legítima na sociedade médica.

No Brasil, as primeiras faculdades, criadas em 1808 pelo príncipe regente d. João, foram a de Cirurgia da Bahia e a de Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas, apenas em 1887 tivemos a primeira mulher brasileira a receber um diploma – a gaúcha Rita Lobato Velho Lopes, formada pela Universidade Federal da Bahia.

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo foi a primeira escola pública de nível superior do Estado a permitir explicitamente em seu regulamento o ingresso de mulheres.

Nos anos 1960 e 1970, com os movimentos sociais e políticos impulsionando mulheres para as universidades públicas em busca de um projeto de vida além do doméstico, ocorreu o maior ingresso delas na medicina profissional.

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Depois desse longo trajeto percorrido pelas mulheres médicas, superando desafios e lutando por direitos e igualdade, o número de mulheres na medicina no Brasil deve superar o de homens em 2030, segundo projeção do Plano Nacional de Fortalecimento das Residências em Saúde, do Ministério da Saúde. Embora os homens ainda sejam maioria (54,4%), a situação deve se inverter, já que as mulheres já são a maioria entre os mais jovens – 57,4% na faixa etária de até 29 anos e 53,7% entre 30 e 34 anos. Elas também formam a maioria dos estudantes.

Com relação aos salários, os das mulheres, em média, são menores do que os dos homens nas mesmas posições. É o que apontou a Pesquisa de Demografia Médica no Brasil, realizada em 2018 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em parceira com o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). É uma distorção que não atinge apenas as médicas, sendo recorrente na sociedade brasileira.

Assim como em outras profissões, os principais cargos de liderança continuam sendo ocupados por homens. As mulheres aparecem mais em determinadas especialidades, como clínica geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia, que têm menor retorno financeiro se comparadas com especialidades cirúrgicas, por exemplo, as quais são ocupadas em sua maioria por homens.

A perspectiva é que essa situação mude. O que a sociedade quer é que as profissionais mulheres tenham mais reconhecimento, liderem mais especialidades, destaquem-se e alcancem a igualdade financeira e de mérito de seus colegas homens.

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