Sem Francisco, mundo perde seu mais loquaz defensor da reaproximação entre as diferentes religiões

O primeiro papa latino-americano da História liderou a Igreja Católica por 12 anos tentando mostrar ao mundo a face mais genuína do cristianismo e valorizando o ecumenismo.

Por Anna Maria Moog Rodrigues, The Conversation
24 abr 2025, 12h00
O Papa Francisco acena para os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral em 13 de junho de 2018, na Cidade do Vaticano.
 (Franco Origlia / Colaborador/Getty Images)
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Dono de um sorriso contagiante e de um estupendo dom de comunicabilidade, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio conquistou o coração de milhões de pessoas no mundo todo desde o momento em que assomou pela primeira vez à janela do Vaticano, quando saudou a multidão reunida na Praça com o seu simpático “Buonasera”!

Mas para lá da simpatia, ao assumir o nome do santo Francisco de Assis, o primeiro papa latino-americano da História definiu-se a si mesmo e ao seu pontificado como franciscano: simples, humilde e compassivo. Cedo em seu pontificado, o papa mostrou ao mundo a verdadeira face do cristianismo.

Em uma de suas primeiras entrevistas, a concedida a um jornalista a bordo do avião em que viajava, respondeu à pergunta sobre como julgava a homossexualidade com a frase: “Quem sou eu para julgar?”

O amor do Papa por Jesus Cristo revelava-se em cada palavra de suas encíclicas (cartas pastorais), publicadas ao longo do seu breve pontificado de apenas 12 anos. As encíclicas desenvolvem a temática da necessidade que o mundo tem de voltar à fé, a ter cuidado com o planeta Terra e com as pessoas que poderão sofrer em consequência das mudanças climáticas, geralmente os mais fracos, mais pobres e desvalidos.

O Papa Francisco pregava eloquentemente a necessidade de se desenvolver cada vez mais a Amizade e a Fraternidade, isto é, a necessidade premente de se ver o outro sempre como irmão.

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São as seguintes as Encíclicas do Papa Francisco: Lumen Fidei (“Sobre a Fé,” publicada em 2013), Laudato Se (“Louvado Sejas,” Sobre os Cuidados com a Morada Comum, publicada em 2015), Fratelli Tutti (“Todos Irmãos,” sobre a Fraternidade e a Amizade Social, publicada em 2020), Dilexit Nos (“Amou-nos,” exortação para que se desenvolva a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, publicada em 2024).

Entre elas, duas foram consideradas “encíclicas sociais”: Laudato Si e Fratelli Tutti. Essas cartas foram escritas em resposta às realidades das mudanças do mundo atual. Laudato Si, especificamente, aborda a crise ambiental. A encíclica critica o consumismo e alerta sobre a necessidade de uma unidade global para limitar o aquecimento da Terra e conter a degradação ambiental.

A última das encíclicas, a Dilexit Nos, foi publicada em outubro passado. Nela, o papa se aprofunda sobre amor divino e humano de Jesus. Em contraste com o que o mundo atual supervaloriza – a razão – o pontífice pede para recuperarmos aquilo que é o mais importante e necessário – o coração – que é o que realmente nos define. O nosso é um mundo de desigualdades. A cada dia estamos ficando mais conscientes delas e das injustiças que acarretam.

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Diferenças, sejam de língua, raça, ou religião, são manipuladas para aumentar desconfianças e mesmo ódios recíprocos. O papa Francisco sempre se bateu para que tudo o que nos separa seja superado e para que possamos ver no outro sempre um irmão.

A partir de hoje, sem o papa, o mundo fica um pouco mais ameaçado, mais amedrontado. Os pobres perderam o seu mais loquaz protetor, os líderes e sacerdotes de todas as religiões perderam o maior defensor do ecumenismo, da aproximação de todas as religiões e da crença em um diálogo no qual as semelhanças de pontos de vista fossem sinceramente buscadas e as diferenças fossem sinceramente negligenciadas.

O Papa Francisco foi um entusiasmado defensor dos Direitos Humanos. Com seu largo sorriso de homem simples e humilde ele tocou o coração de milhares de pessoas no mundo inteiro, católicos e não católicos. Sentiremos sua falta.

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Anna Maria Moog Rodrigues, Doutora em Filosofia, ex-professora, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Este artigo é uma republicação do The Conversation. Leia o artigo original.

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