Pessoas que se distraem facilmente com smartphones ficam menos atentas ao próprio corpo
De acordo com um estudo, essa resposta é semelhante a percebida em vícios comportamentais como jogos de azar ou uso de substâncias. Confira.

Nas últimas décadas, alguns estudos levantaram questões importantes sobre as implicações psicológicas do uso excessivo de celulares. As descobertas sugerem que pessoas que usam smartphones em excesso podem, com o tempo, desenvolver comprometimentos cognitivos e déficits de atenção. Contudo, os fatores que contribuem para esses efeitos ainda não são totalmente compreendidos.
Pesquisadores da Universidade de Hokkaido, no Japão, realizaram recentemente um estudo explorando a ligação entre o uso de smartphones e processos psicológicos, analisando especificamente a atenção e as reações fisiológicas.
A pesquisa foi publicada no periódico Communications Psychology. Nela, os cientistas sugerem que pessoas que dão muita atenção aos estímulos do smartphone são menos capazes de perceber e compreender suas sensações corporais. No jargão médico, elas têm menos consciência interoceptiva.
“Embora dispositivos digitais como smartphones tenham se tornado profundamente incorporados em nosso cotidiano, ainda sabemos surpreendentemente pouco sobre como eles moldam nossa consciência e percepção corporal”, afirma Yusuke Haruki, primeiro autor do artigo. “Ficamos especialmente interessados em como a atenção a sinais relacionados a smartphones em situações cotidianas pode influenciar nossa consciência de sensações corporais.”
Haruki e seus colegas traçaram paralelos entre o uso excessivo de smartphones e vícios comportamentais, como jogos de azar e transtornos por uso de substâncias. Com base nesse paralelo, eles se propuseram a explorar como as distrações relacionadas aos celulares estão conectadas à consciência corporal e à reatividade fisiológica.
Os pesquisadores recrutaram 58 jovens adultos saudáveis e pediram que completassem uma tarefa visual simples. O objetivo dessa tarefa era identificar rapidamente as letras-alvo exibidas na tela do computador.
“No contexto desta tarefa, mostramos dois tipos de imagens: imagens relacionadas a smartphones (como a tela de um celular exibindo uma chamada recebida) e imagens de controle (letras quaisquer)”, explicou Haruki. “Para entender se a distração dependia da dificuldade da tarefa, tornamos a tarefa das letras mais fácil ou mais difícil, alterando o número de letras-alvo que apareciam na tela simultaneamente.”
Com base no tempo que os participantes levaram para responder aos estímulos (ou seja, seus tempos de reação) nessas diferentes condições, os pesquisadores os dividiram em dois grupos diferentes, usando um método de agrupamento.
O primeiro grupo continha pessoas que se distraíam constantemente com imagens de smartphones, independentemente da dificuldade da tarefa, enquanto o segundo continha pessoas que se distraíam com essas imagens apenas quando a tarefa era mais fácil.
Em seguida, os pesquisadores compararam esses dois grupos usando questionários para verificar se o grupo constantemente distraído relatou menor consciência de seus próprios sinais corporais. Eles também mediram os sinais vitais desses voluntários, e constataram um aumento intenso da frequência cardíaca quando eles eram expostos às imagens de smartphones.
“Os participantes que se distraíram mais com os sinais do smartphone não apenas tiveram um desempenho pior na tarefa de atenção, mas também apresentaram frequência cardíaca acelerada quando expostos a essas imagens”, disse Haruki.
“É importante ressaltar que esses indivíduos também relataram menor consciência interoceptiva, o que significa que estavam menos atentos aos sinais corporais internos, como os batimentos cardíacos — um padrão que reflete vícios comportamentais como jogos de azar ou uso de substâncias.”
De modo geral, os resultados deste estudo recente sugerem que algumas pessoas podem ter dificuldade em ignorar estímulos originados de seus smartphones, como chamadas recebidas, mensagens de texto, e-mails etc., tanto devido a processos mentais quanto às suas respostas fisiológicas. Haruki e seus colegas esperam que os novos insights coletados ajudem a compreender melhor a relação entre o uso de smartphones, os processos relacionados à atenção e a autoconsciência corporal.