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O silêncio é o novo risco corporativo

Sem segurança psicológica, as empresas adoecem e ninguém avisa

Por Tatiana Pimenta, em colaboração especial com a Você S/A*
Atualizado em 26 jul 2025, 10h41 - Publicado em 26 jul 2025, 08h00
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 (fizkes/Getty Images)
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“Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser poderá e será usado contra você.” Essa frase, repetida à exaustão em séries como CSI ou Law & Order, não pertence ao mundo corporativo mas, em muitas empresas, é exatamente assim que as pessoas se sentem. Elas não falam porque têm medo. Medo de represália, de julgamento, de serem rotuladas como problemáticas ou frágeis. E onde há medo, o silêncio se instala. E o silêncio, nesse contexto, não é diplomacia, é risco corporativo.

O consultor Patrick Lencioni, no clássico Os 5 Desafios das Equipes, explica que a ausência de confiança é a base de todas as disfunções que comprometem os resultados de uma organização. Sem confiança, há medo do conflito. Sem conflito, não há debate. Sem debate, não há inovação. O time se cala e o que poderia ser resolvido numa boa conversa vira presenteísmo, afastamento ou crise. Segurança psicológica é o antídoto para esse medo. É o oposto da lógica do interrogatório policial.

Em um ambiente seguro, as pessoas confiam que o que elas disserem não será usado contra elas. Erros não são punidos com vergonha. Vulnerabilidades não são tratadas como fraqueza. Feedbacks não geram retaliações. Falar a verdade não é um ato de coragem, é parte da rotina. Mas isso, infelizmente, ainda é exceção. Em muitas empresas, a cultura do silêncio segue forte. E os impactos são concretos.

Segundo dados do Censo de Saúde Mental da Vittude, as empresas brasileiras possuem 31% de presenteísmo em sua força de trabalho. Ou seja, as pessoas continuam comparecendo ao trabalho, mas com sua capacidade produtiva comprometida por problemas de saúde, incluindo questões de saúde mental. E quando não se sentem seguros para dizer “não estou bem”, seguem adoecendo em silêncio. Isso custa caro: na saúde das pessoas, nos resultados das empresas e na credibilidade das lideranças.

A ausência de segurança psicológica transforma o ambiente corporativo em um palco de máscaras. Pessoas escondem dúvidas para não parecerem incompetentes. Engolem desconfortos para não parecerem sensíveis demais. Fingem concordar para não serem vistas como resistência. Isso gera uma cultura de conformismo que bloqueia a inovação e paralisa o crescimento.

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Liderar com segurança psicológica é justamente criar as condições para que as pessoas possam ser reais com erros, dores, opiniões e perguntas. E para isso, não basta uma campanha no Setembro Amarelo. É preciso ação consistente, liderança madura e cultura de escuta ativa. O silêncio, quando não enfrentado, se transforma em crise.  E, quando explode, já é tarde demais para perguntar por que ninguém avisou. 

A boa notícia? Isso é reversível, mas exige intencionalidade. Empresas que querem ser sustentáveis (humana, ética e financeiramente) precisarão transformar o medo em confiança, o silêncio em conversa e a omissão em aprendizado. Porque o risco real não está no que as pessoas dizem, está no que elas deixam de dizer.

*Tatiana Pimenta é fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas.
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