Entre a maternidade e a carreira: o valor do autocuidado e da realização
Não é fácil equilibrar maternidade e carreira. Mães com aspirações profissionais precisam se manter fortes diante dos constantes desafios. Veja como.

Com a chegada do Dia das Mães, é impossível não refletir com mais intensidade sobre o papel de ser mãe — e, ao mesmo tempo, a busca constante por realização profissional. Conciliar a maternidade com a vida profissional é uma jornada desafiadora, mas também repleta de aprendizados e conquistas que transformam quem somos. Aos 38 anos, com uma filha de 14, vivo intensamente essa dualidade: entre responsabilidades e sonhos, sigo aprendendo, equilibrando e me redescobrindo todos os dias.
É um papel duplo que exige equilíbrio entre gestão do tempo, culpa e a constante tentativa de lidar com expectativas — as nossas, as de quem está ao nosso redor e, especialmente, as da sociedade.
Historicamente, a mulher foi moldada para cuidar — da casa, dos filhos, do marido, dos pais… Sua base social e seu valor foram construídos a partir da dedicação aos outros, não da própria vontade. É uma construção milenar que ainda carregamos. Mesmo com mais consciência hoje, não estamos imunes a esse peso. Isso se revela, especialmente, quando tentamos assumir o papel da “supermulher”: ser a supermãe, a superprofissional, a superfilha, a superdona de casa, a superesposa. Mas, nesse esforço de sermos tudo para todos, muitas vezes esquecemos de ser o mais importante: a mulher que se respeita profundamente — aquela que reconhece seus limites, entende suas necessidades e se coloca como prioridade sem culpa.
No fim das contas, são amarras tão profundamente entrelaçadas em nosso íntimo que desatar todos os nós se torna praticamente impossível — então, o que nos resta é aprender a conviver com elas. Ser mãe nunca foi um desejo ou um objetivo de vida para mim, mas aconteceu. E, paradoxalmente, tem sido a melhor e a pior experiência que eu poderia viver. Sim, ao mesmo tempo: a melhor e a pior.
A melhor, porque o amor por um filho é simplesmente inigualável. O sorriso logo cedo é um presente diário, o abraço apertado depois de um dia exaustivo tem o poder de curar, as conversas durante as refeições edificam, conectam. E há também o orgulho — aquele que nasce ao perceber que ele está, de fato, se tornando independente… e que, em breve, minha presença será menos necessária. E tudo bem. Porque é isso que significa acertar.
A pior, sem dúvida, é a culpa. Ela sempre aparece. Administrar o tempo entre reuniões, prazos e as necessidades de uma criança — ou de um adolescente — exige uma gestão quase sobre-humana. E, muitas vezes, sinto que falho miseravelmente. Ainda assim, sigo nessa busca constante, tentando acertar.
Lembro de uma vez, quando minha filha tinha apenas 5 anos, em que ela me perguntou: “Mamãe, por que você trabalha tanto? A mãe do meu coleguinha não trabalha… ele disse que ela prefere ficar com ele”. Aquela pergunta me atravessou. E, mesmo agora, ao lembrar, meus olhos se enchem de lágrimas.
Naquele momento, com o coração apertado, eu tentei explicar. Disse amar estar com ela, mas que também precisava trabalhar porque isso me fazia bem, me fazia sentir viva. Falei dos meus sonhos, da importância de me realizar, porque um dia ela teria sua própria vida, seus próprios caminhos… e eu não queria olhar para trás e perceber que deixei de ser eu para ser somente mãe — ainda que ser mãe seja um papel lindo. Mas eu nunca fui totalmente abnegada.
Sinceramente, acho que ela não entendeu muito naquela época. Mas, no fundo, eu espero que um dia ela entenda. E que admire os esforços da mulher que a mãe dela foi — e ainda é — com todas as suas imperfeições.
O mundo do trabalho exige dedicação, competência e, muitas vezes, sacrifícios. Ser mãe também demanda intensamente — emocional e fisicamente. Conciliar esses dois universos é um desafio constante. Costumo dizer que o segredo está em encontrar equilíbrio no próprio desequilíbrio. Haverá momentos em que a carreira exigirá mais de nós — e estaremos lá. Em outros, serão os filhos que precisarão mais — e também estaremos presentes. A balança raramente estará perfeitamente equilibrada, mas o que realmente importa é que, no somatório da vida, o peso esteja bem distribuído. E, para isso, a chave está na nossa capacidade de organização, adaptação e, acima de tudo, em aceitar que não precisamos ser perfeitas — somente inteiras onde estivermos.
Assim como nem tudo são flores, nem tudo são apenas espinhos. Apesar dos desafios, ser mãe e profissional traz recompensas e aprendizados valiosos. Desenvolvemos resiliência a cada obstáculo superado, fortalecendo nossa capacidade de enfrentar adversidades. E cultivamos empatia, ao aprender a compreender e sentir as necessidades do outro.
Mas há algo igualmente essencial: aprender a ser generosas conosco. A nos culparmos menos. A sermos rede de apoio umas para as outras. Porque, acreditem, todas nós — em maior ou menor grau — carregamos o peso dessas construções sociais impostas às mulheres. E todas nós, em algum momento, sofremos e nos cobramos demais por isso.
Ser mãe e, ao mesmo tempo, uma mulher com ambições profissionais é um desafio constante — mas também uma oportunidade única de crescimento pessoal. No Dia das Mães, celebramos não apenas a maternidade, mas também a força, a coragem e a determinação de todas as mulheres que, assim como eu, buscam equilibrar esses dois mundos com graça e firmeza.
É fundamental que as mulheres continuem lutando por seus sonhos, sem jamais esquecerem o valor imensurável de sua presença na vida dos filhos. Contudo, mais importante ainda, é que nunca se esqueçam de si mesmas. Cada mulher é um indivíduo único, e, como tal, tem sonhos, necessidades e, acima de tudo, merece respeito, amor e reconhecimento — todos os dias.
Feliz dia das mães!
*Simone Viotto é Gerente de Gente e Gestão do Grupo Safira. Administradora com MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança na USF, com mais de 15 anos de experiência na área de gestão de pessoas.